sábado, 27 de maio de 2023

O evangelho de cada dia (01)

 Ano A | Solenidade de Pentecostes | João 20,19-23

(28/05/2023)

Estamos habituados a situar o acontecimento de pentecostes cristão cinquenta dias após a ressurreição de Jesus. Segundo o evangelho de João, este evento que mudou radicalmente a atitude dos discípulos teria acontecido já na noite que se seguiu à ressurreição. A liturgia cristã une estas duas perspectivas, entendendo a páscoa como um acontecimento processual que inicia na manhã da ressurreição de Jesus e culmina 50 dias depois, com o envio do Espírito Santo.

O trecho do evangelho de hoje está situado exatamente no início desse movimento progressivo. Quando tudo parecia definitivamente sepultado, acabado e imutável (fechado), Jesus irrompe em meio aos discípulos aterrados de medo e devolve-lhes a paz. É este encontro e esta palavra, e não apenas o sepulcro vazio, que provoca nos discípulos/as a mudança que todos/as conhecemos. Jesus não está fora, acima ou indiferente a eles, mas no meio deles.

A harmonia plena e o bem-estar total que Jesus deseja e transparece na saudação (shalom) não é algo vazio, nem uma ordem penosa: é um dinamismo que toma conta dos/as discípulos/as mediante o sopro de Jesus. Trata-se do mesmo sopro do Criador ao moldar o ser humano do pó da terra. Sem esse sopro, o ser humano e o/a discípulo/a não passam de pó indefinido e de barro informe.

Para não eixar dúvidas e não induzir à confusão, soprando, Jesus fala e explicita o significado do seu gesto. Trata-se do dom do Espírito Santo, do dom da fortaleza e fidelidade missionária: “Como o pai me enviou, também vos envio”. Jesus não institui um ministério ou sacramento, nem constituiu um colegiado de autoridades, mas convoca e envia em missão. Com a força do Espírito, a paz experimentada no cenáculo não retém ninguém e impulsiona todos/as à missão.

A quem, e a fazer o quê, são enviados os/as discípulos/as? Como Jesus, são enviados/as aos pecadores/as, às ovelhas perdidas, às vítimas das relações violentas e agressivas, para abrir-lhes as portas da graça, para acolhê-los/as como irmã/os e filhos/as amados/as do Pai. É isso que significa “tirar (ou carregar) o pecado do mundo”. O Espírito não nos torna simples confessores/as, mas pessoas novas e solidárias, prontas a erradicar o mal do mundo.

 

Meditação:

·    Situe-se no cenáculo fechado, entre os discípulos medrosos e envergonhados pela deserção diante da prisão de Jesus

·    Perceba com os discípulos a presença inesperada, misteriosa e pacificadora de Jesus crucificado e ressuscitado

·    Acolha e deixe ressoar as palavras de Jesus, deixe que o Sopro de Deus insufle vida em sua vida, missão em sua acomodação, unidade na diversidade

·    Acolha confiante e agradecido/a o mandato missionário de Jesus: “Assim como o Pai me enviou, eu envio você!”

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