sexta-feira, 26 de maio de 2023

SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE CRISTÃ (5)

Rever a história e superar as ideologias tóxicas

O racismo divide o corpo de Cristo, porque é uma ideologia tóxica, assim como é toxica a ideia da supremacia branca e a “doutrina da descoberta das Américas”, legitimada por uma bula papal de 1493. Esta bula papal justificou a apropriação de terras de povos indígenas, dizendo, erroneamente, que os colonialistas tinham descoberto terras não habitadas. Até hoje, os países que formam as Américas do Sul, Central e do Norte vivem as consequências do colonialismo europeu. Como pessoas cristãs, cabe-nos a revisão desta história.

Nossa fé foi capturada pelo colonialismo a fim de legitimar crimes racistas. O profeta Isaías, ao nos conclamar a “aprender a fazer o bem, procurar a justiça, chamar à razão o espoliador, fazer justiça ao órfão, defender a viúva” (Is 1,17), está nos convocando a libertar a fé cristã do sentimento de hegemonia e superioridade, pois tanto a ideia hegemonia, quanto a de superioridade, fazem com que sigamos perpetuando o racismo.

O período em que o grupo de Minnesota preparou o texto para a Semana de Oração pela Unidade Cristã foi marcado pela maldade, pela devastação e pela opressão em diferentes partes do mundo. Esse sofrimento foi amplificado, especialmente no Sul Global, pela pandemia de Covid-19. Esta pandemia e a ausência de políticas públicas de amparo às pessoas economicamente vulneráveis deixaram milhares de pessoas sem o mínimo para a subsistência básica. O autor do Eclesiastes parece estar falando de uma experiência assim: “Vi, ainda, todas as opressões praticadas sob o sol. Eis: as lágrimas dos oprimidos, e não há para eles consolador; a força, do lado dos opressores, e não há para eles consolador” (Ecl 4,1).

O racismo e suas consequências são nocivos para a humanidade inteira. Ao orarmos pela unidade cristã, precisamos abrir os olhos, os ouvidos, as mentes e os corações para as opressões geradas pelo racismo, comprometendo-nos com o antirracismo. Ser antirracista é uma resposta concreta ao amor de Deus por nós. A exortação do profeta Isaías “lavai-vos, purificai-vos” porque “vossas mãos estão cheias de sangue” (Is 1,15.16) também é dirigida para nós.

 

Socorrer os oprimidos

A Bíblia nos diz que não podemos separar nosso relacionamento com Cristo da nossa atitude em relação ao nosso semelhante, particularmente, os que são considerados “os mais pequeninos” (Mt 25,40). O nosso compromisso de uns com os outros requer um envolvimento com a ‘mishpat’, que é a palavra hebraica para justiça restaurativa.

Praticar a justiça restaurativa significa defender aquelas pessoas cujas vozes são silenciadas ou abafadas, desmantelando estruturas que criam e alimentam iniquidades. A justiça restaurativa contribui para a construção de estruturas capazes de promover e garantir que todas as pessoas recebam tratamento igual e tenham seus direitos respeitados. A justiça restaurativa precisa se estender além de nossos amigos, família e congregações, abrangendo o conjunto da humanidade.

A fé em Jesus Cristo exige que saiamos de nossas zonas de conforto para que o grito das pessoas que sofrem os impactos das políticas e práticas racistas nos desacomode. Para isso, é fundamental termos a consciência de que a estrutura social racista é uma consequência da ambição, de poder e lucro, de uma elite branca.

O reverendo Martin Luther King frequentemente declarou que “uma revolta é a linguagem dos que não são ouvidos”. Quando protestos e movimentos civis se erguem, é frequentemente porque a voz dos que protestam não está sendo ouvida.

Se as Igrejas unirem suas vozes às vozes das pessoas oprimidas, o grito por justiça e libertação das pessoas excluídas será amplificado. É nosso dever de fé servir e amar a Deus, e a pessoa próxima, tornando-nos antirracistas. Defender o órfão, zelar pela viúva. As viúvas, as crianças órfãs e pessoas estrangeiras ocupam um lugar especial na Bíblia hebraica. Estes são os grupos que representam as pessoas em vulnerabilidade nos tempos bíblicos.

 

1)  Olhando ao nosso redor, quem são, onde estão e como vivem as pessoas vulnerabilizadas?

2) Que vozes não estão sendo ouvidas em nossas comunidades? Quem não está sentado à mesa? Por quê?

3) Que igrejas, comunidades e religiões estão fora de nossos diálogos, de nossa ação comum e de nossa oração pela unidade?

4) O que gostaríamos de fazer a respeito dessas presenças ausentes?

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