quinta-feira, 25 de maio de 2023

SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE CRISTÃ (4)

Aprendei a fazer o bem

No texto da Escritura escolhido para a Semana de Oração pela Unidade Cristã de 2023, o profeta Isaías nos desafia a enfrentar o mal produzido pelo racismo. Aprender a fazer o que é certo requer a decisão de entrar num processo de autorreflexão. A Semana de Oração, que acontece no período de Pentecostes, é o momento perfeito para que pessoas cristãs reconheçam que as nossas Igrejas e confissões não podem perpetuar as relações racistas.

A história da Igreja contada em Atos dos Apóstolos nos mostra que a igreja nasceu plural. O Espírito Santo não nos dividiu pela cor da pele. Esta divisão é realizada meramente pela ambição humana por poder. A ideia de raça superior fere a Imagem de Deus.

A história nos mostra inúmeros extermínios de povos por causa da compreensão de uma suposta superioridade racial e religiosa. O profeta Miquéias mostra o que Deus nos disse que é bom e o que Ele espera de nós: “respeitar o direito, amar a fidelidade e caminhar humildemente com seu Deus” (Mq 6,8). Para agir com justiça, temos que respeitar e amar todas as pessoas.

A justiça exige oportunidades e relações humanas verdadeiramente igualitárias. Para isso, são necessárias políticas públicas de memória, justiça e reparação para corrigir as desvantagens históricas que impediram que pessoas indígenas e negras tivessem as mesmas oportunidades das pessoas brancas para sonhar com o seu futuro, acessar a educação, a saúde, a moradia digna. Caminhar humildemente com Deus requer arrependimento, reparações e, finalmente, reconciliação.

Deus espera que nos unamos numa responsabilidade partilhada pela igualdade de todos os seus filhos e suas filhas. A unidade cristã só se torna plena se enfrentamos o mal do racismo. O racismo enfraquece os sinais da unidade sonhada por Deus. Não é possível testemunhar a unidade enquanto seguirmos acreditando que a vida das pessoas brancas vale mais que a vida de pessoas indígenas e negras.

 

Procurai a justiça

Isaías aconselha Judá a buscar a justiça (Is 1,17). Ao dar este conselho, o profeta reconhece que há injustiças entre o povo de Judá. Ele pede que o povo de Judá tome medidas concretas para transformar tudo o que divide a sociedade. O profeta é direto: não há justiça possível se a elite econômica, social e religiosa não renunciar a seu conforto e seus privilégios para diminuir as desigualdades e corrigir a ausência de equidade. O mal, para o profeta Isaías, se revela onde se materializa a compreensão de que algumas pessoas são melhores que as outras.

O primeiro passo para alcançar a justiça é desconstruir a ideologia que estrutura as relações sociais entre os que têm mais direitos e os que têm menos direitos. O racismo é esta ideologia presente em mentes e corações. O racismo naturaliza o fato de pessoas indígenas e negras serem constantemente alvo de violências. Falar sobre todas as formas de racismo não é uma tarefa fácil e, algumas vezes, gera conflitos.

No entanto, não há como alcançar a justiça sem mexer com privilégios. Daí a necessidade das políticas públicas de promoção da igualdade racial, da lei de cotas, da introdução nos currículos escolares da história e das culturas indígenas e africanas, da recente lei que torna crime a injúria racial. Para uma parcela da população brasileira, estas leis são bem-vindas e desnecessárias. Mas, infelizmente, isso não é uma unanimidade. Algumas pessoas ainda criticam esse tipo de iniciativa. Igrejas de várias regiões do mundo, e em diferentes momentos da história, silenciaram e baixaram suas cabeças diante de políticas racistas. Com isso, muitas vezes, tornaram-se cúmplices.

Nenhum comentário: