quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Dançar ao ritmo de Jesus

Qual é a sua resposta ao Evangelho de Jesus?

839 | 17 de setembro de 2025 | Lucas 7,31-35

A cena que estamos meditando hoje está literariamente situada depois do elogio de Jesus ao soldado romano que pediu sua intervenção em favor de um empregado seu (7,1-10) e da devolução da vida ao filho da viúva de Naim (7,11-17), e em seguida às perguntas de João Batista sobre Jesus e de seu comentário elogioso a ele (7,18-30), episódio omitido pela sequência da liturgia diária.

Para desmascarar as resistências e contradições daqueles que resistiam à sua proposta (principalmente os fariseus e mestres da lei), Jesus apresenta uma cena pitoresca e muito popular em pequenas cidades interioranas: um grupo de crianças que brincam na praça, umas tocando música e outras indiferentes ao que as primeiras fazem e transmitem. As crianças-artistas tocam músicas alegres e as outras não dançam; tocam músicas tristes, e ninguém chora ou entoa lamentações.

Os dois estilos de música são uma alusão aos diferentes caminhos de salvação oferecidos por João Batista e por Jesus. As crianças indiferentes que brincam na praça são os judeus, que nunca estão satisfeitos ou de acordo com aquilo que ouvem. A referência é clara: a mensagem de João Batista não foi aceita porque era muito dura e exigente (jejum e penitência); e Jesus é criticado por parecer-lhes muito permissivo (come e bebe, partilhando a mesa com pecadores e gente suspeita). São duas perspectivas diversas que enfrentam a mesma resistência à mudança.

Mas essa resistência não é exclusividade dos fariseus e doutores da lei, nem eventualmente dos cristãos das primeiras gerações. Os discípulos resistem à novidade anunciada e inaugurada por Jesus, e até se atrevem a propor reparos. Pensam que o amor aos inimigos seria uma proposta inocente e inadequada, e que há gente que não merece o perdão, ao menos um perdão sem limites, como nos lembrava a pergunta de Pedro a Jesus no evangelho do último domingo.

Jesus arremata seu questionamento em linguagem parabólica com uma afirmação um pouco obscura: “Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos”. Os filhos da sabedoria, as pessoas que ouvem e compreendem Jesus, são os pobres e pecadores, e não os fariseus, os doutores da lei ou a casta sacerdotal. E nós, como reagimos hoje ao ensino libertário de Jesus? Podemos dizer que reconhecemos e aceitamos de fato à sua proposta do Reino de Deus?

 

Sugestões para a meditação

§ Retome a cena pitoresca proposta por Jesus e procure relacioná-la com os diferentes grupos de cristãos que você conhece

§ Você não se vê, às vezes, desejando propor reparos em aspectos essenciais da proposta de Jesus? Quais?

§ Leia algo sobre a vida dos santos Cornélio e Cipriano, cuja memória celebramos hoje, e procure relacioná-la com o evangelho de hoje

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Pare o cortejo da morte!

Jesus interrompe todos os cortejos de morte

838 | 16 de setembro de 2025 | Lucas 7,11-17

No episódio que antecede a cena de hoje, um oficial do exército romano recorre a Jesus em benefício do seu filho, mesmo não se considerando digno de se dirigir a ele. No episódio de hoje, é Jesus quem se aproxima de uma viúva que acaba de perder seu único filho e, movido pela compaixão que pulsa no coração de Deus, diz-lhe palavras de consolo e devolve-lhe o filho com vida.

A cena é comovente. Duas pequenas multidões se encontram na porta de uma pequena cidade: uma multidão acompanha Jesus, o dador e fonte da vida; outra acompanha um jovem corpo sem vida e uma viúva absolutamente desamparada. A viúva em prantos é a figura simbólica da pessoa pobre e sem amparo. Sem marido e sem filho que possa cuidá-la e administrar a pouca herança do marido, é como se fosse uma não cidadã, uma pessoa invisível e sem direitos.

Diversamente do chefe do exército da cena anterior, a pobre viúva não pede nada, pois não tem forças nem para isso. É Jesus que toma a iniciativa e se aproxima dela e, mergulhando no seu desespero, procura consolá-la. A exortação a não chorar poderia soar como insulto se Jesus não tocasse no caixão e não pedisse que o cortejo da morte pare. Com o gesto de tocar o caixão, Jesus derruba o muro imaginário que separa o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, os puros dos impuros.

Exercitando a força da sua Palavra, aquela força libertadora que o centurião romano recém havia reconhecido, Jesus ordena que o jovem morto se levante, se coloque de pé. A força da sua Palavra é tal que o jovem não apenas se coloca de pé, mas também começa a falar, retomando seu lugar e seu protagonismo nas relações sociais. E, uma vez que sua vitalidade e seus vínculos foram suscitados de novo (ressuscitados), ele é entregue à sua mãe para ser seu arrimo.

A reação das duas multidões é dupla: elas foram tomadas de medo e glorificaram a Deus. Reconheceram no acontecimento da revivificação do morto e no conforto da mãe a revelação do poder libertador de Deus e a Jesus como grande profeta e dador de vida. Jesus é o próprio Deus infinito que visita e liberta seu povo. Como Elias e Jeremias, Jesus é proclamado como parte da comunidade dos profetas perseguidos. A admiração (ou medo) é a reação diante da presença misteriosa de Deus, e o louvor é pelo bem que essa presença traz à humanidade.

 

Sugestões para a meditação

§ Leia atentamente este texto, prestando atenção aos personagens e aos dois cortejos: o cortejo da morte, que sai da cidade; o cortejo da vida, que entra na cidade com Jesus

§ Os traços da imagem de Jesus que apresentamos em nossas pregações correspondem à que aparece neste episódio?

§ Que atenção damos as pessoas e grupos que batem à nossa porta e às portas das Igrejas pedindo socorro para seus desesperos?

domingo, 14 de setembro de 2025

As dores de Maria

Maria, mãe dos aflitos que estão junto à cruz!

837 | 15 de setembro de 2025 | João 19,25-27

Ao que parece, a devoção e a festa de Nossa Senhora das Dores remonta ao século XV, e tem origem na cidade de Colônia (Alemanha). Segundo a tradição, as dores de Maria seriam infinitas, por isso sintetizáveis em sete: a profecia de Simeão a respeito dela e de Jesus; o exílio no Egito, com José e Jesus; e perda de Jesus no templo; o encontro com Jesus no caminho da cruz; a crucificação de Jesus; a morte de Jesus; o sepultamento de Jesus.

No encontro do velho Simeão com o casal José e Maria e o filho recém-nascido resplandece uma convicção: a bondade e a misericórdia de Deus brilham no mundo para todos os povos, sem nenhuma exclusão. Jesus e a salvação de Deus não pertencem exclusivamente ao povo de Israel. E essa é uma boa notícia que permite que Simeão, representante de um povo que esperou por este anúncio séculos e séculos, conclua sua caminhada e parta em paz.

Mas, como luz que brilha para as nações (e não só para Israel), Jesus acaba também definindo a sorte de todas as pessoas que o encontram: ele provoca discernimento, evidencia as ambiguidades, torna-se fator de contradição, pedra de alicerce e, ao mesmo tempo, pedra de tropeço. Diante dele e por ele, uns caem, outros se levantam; uns são rebaixados, outros são elevados. A luz sempre mostra tanto o que há de belo como o que há de feio em nós e ao nosso redor

Esta profecia de Simeão sobre Jesus recém-nascido causa admiração em José e Maria, que são abençoados por ele. Simeão bendiz e abençoa os pais de Jesus, para que eles possam contribuir positivamente na realização dessa missão. Mas, dirigindo-se a Maria, Simeão adverte que ela sofrerá com o filho que trouxe no ventre, carrega nos braços e apresenta ao templo.

O sofrimento de Maria não tem nada de particular e tudo de comunitário e eclesial, pois antecipa o sofrimento que muitos discípulos e discípulas provarão no futuro. Suas dores não se resumem àquela que sentiu ao ver o filho pregado na cruz. É também a dor de ver que o filho é um profeta rejeitado; de ver um povo cansado, abatido e sem rumo; é também a dor que compartilha com os discípulos missionários humilhados e perseguidos. 

 

Sugestões para a meditação

§ Retome cada palavra, imagem ou expressão usadas por Simeão na sua bela e exigente profecia sobre Jesus, Maria e José

§ O que significa celebrar Nossa Senhora das Dores no contexto de medo, angústia, distanciamento, incertezas, dor e luto por pelas mais de 580 mil mortes, da pandemia e da crise social que ela deflagrou?

§ Quais são os pensamentos, sentimentos e projetos secretos ou disfarçados por nós que um Deus crucificado traz à luz?


A cruz

Deus ama o mundo e tudo o que nele existe

836 | 14 de setembro de 2025 | João 3,13-17

O texto que é proposto à nossa meditação está relacionado com a festa litúrgica de hoje: a exaltação da Santa Cruz. Esta é uma celebração que vem desde o ano 335, quando foi celebrada a dedicação de duas basílicas, na colina do Gólgota, em Jerusalém: a basílica da Santa Cruz e basílica da Ressurreição.

Não deixa de ser estranho, ao menos do ponto de vista histórico e sociológico, exaltar a cruz, recorrente instrumento de tortura e morte usado pelo império romano contra seus “inimigos”. Seria como exaltar e expor no centro dos nossos templos, ou carregar no peito ou estampadas em nossas camisas, imagens do “pau de arara”, de um fuzil ou de um revólver. Alguns até gostariam, como nos revelam algumas imagens que marcaram as últimas campanhas eleitorais...

Para os cristãos, mesmo que pareça paradoxal, a cruz não é memória da violência, do sofrimento ou da derrota, mas uma expressão clara e contundente do amor sem limites de Deus pela humanidade. Pregado na cruz, Jesus é a imagem de um Deus apaixonado pelas suas criaturas, o protótipo do ser humano maduro e livre como o quis Deus, criado à sua imagem e semelhança, dinamizado pelo seu Sopro Vital.

Na cruz é como que assinada a aliança de Deus com a humanidade: sua vontade é totalmente positiva (que todos tenham vida em abundância), universal (inclui todas as pessoas e todos os grupos humanos) e irreversível (ele não volta atrás em sua paixão pela humanidade). Um Deus crucificado exclui todo resquício ou ameaça de indiferença ou de punição, mesmo contra errantes e pecadores.

Na vida de Jesus, mesmo sendo uma imposição dos poderes constituídos, a cruz é a efusão da compaixão de Deus, e não um acontecimento inesperado ou passageiro. Ela toma o lugar da lei, torna-se ponto de partida e de convergência da vida cristã, e expressa a presença permanente e libertadora de Deus no mundo, e não apenas no coração das pessoas. “Nossa glória é a cruz”, exclama São Paulo.

A cruz traz a assinatura de Deus: ele continua amando o mundo e o que nele existe, e exclui de seu horizonte punições e castigos. Aderir a um Deus crucificado por amor significa afirmar o amor, e não o poder, o sucesso ou as armas, como princípio, como meta e como caminho, custe o que custar. Fora disso, nossa fé seria vazia, e nossos símbolos seriam falsos, ou então armas letais disfarçadas de piedade.

 

Sugestões para a meditação

§ Retome cada palavra e expressão, em forma negativa ou em forma positiva, e deixe que ressoem em você

§ Você ainda só consegue ver na cruz dor, abandono e sofrimento, ou consegue fixar nela seu olhar e contemplar o amor de Deus?

§ O que significa a expressão “Deus amou tano o mundo” (organização humana, humanidade), em vez de “Deus amou tanto os indivíduos”?

sábado, 13 de setembro de 2025

O pai e seus dois filhos

O OUTRO FILHO

Sem dúvida, a parábola mais cativante de Jesus é a do bom pai, erradamente chamada parábola do filho pródigo. É precisamente este filho mais novo que quase sempre atraiu a atenção de comentadores e pregadores. O seu regresso ao lar e a incrível recepção de seu pai comoveram todas as gerações cristãs.

No entanto, a parábola também fala do filho mais velho, um homem que permanece com o pai sem imitar a vida desordenada do seu irmão fora de casa. Quando o informam da festa organizada pelo seu pai para acolher o filho perdido, fica surpreendido. O regresso do irmão não lhe traz alegria, como ao seu pai, mas raiva: Indigna-se e recusa-se a entrar na festa. Nunca saiu de casa, mas agora sente-se um estranho entre os seus.

O pai sai para convidá-lo com o mesmo carinho com que acolheu o irmão. Não lhe grita nem lhe dá ordens. Com humilde amor, tenta persuadi-lo a entrar na festa de boas-vindas. É então que o filho explode, expondo todo o seu ressentimento. Passou toda a vida a seguir as ordens do pai, mas não aprendeu a amar como ele ama. Só sabe exigir os seus direitos e denegrir o seu irmão.

Esta é a tragédia do filho mais velho. Nunca saiu de casa, mas o seu coração sempre esteve longe. Sabe cumprir mandamentos, mas não sabe amar. Não entende o amor de seu pai por aquele filho perdido. Ele não acolhe nem perdoa, não quer saber nada do seu irmão. Jesus conclui a sua parábola sem satisfazer a nossa curiosidade: entrou na festa ou ficou de fora?

Envoltos na crise religiosa da sociedade moderna, habituamo-nos a falar de crentes e não crentes, praticantes e afastados, casamentos abençoados pela Igreja e casais em situação irregular... Enquanto continuamos a classificar os seus filhos e filhas, Deus continua a esperar por todos nós, pois não é propriedade só dos bons nem apenas dos praticantes. É Pai de todos.

O filho mais velho interpela aqueles de nós que acreditam viver com ele. O que estão fazendo aqueles de nós que não deixaram a Igreja? Assegurar a nossa sobrevivência religiosa, observando o melhor possível o que está prescrito ou ser testemunhas do grande amor de Deus por todos os seus filhos e filhas?

Estamos construindo comunidades abertas que saibam compreender, acolher e acompanhar aqueles que procuram Deus em meio a dúvidas e interrogações? Erguemos barreiras ou construímos pontes? Oferecemos-lhes amizade ou olhamos para eles com receio?

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Roch ou areia?

Nada ameaça uma vida alicerçada na coerência

835 | 13 de setembro de 2025 | Lucas 6,43-49

Somente quem tem um olhar limpo e um coração puro está em condições de ajudar e criticar o próprio irmão. A misericórdia do Pai, que é bondoso tanto para com os bons como para os ingratos é o horizonte que nos inspira e a regra primeira. Nessa perspectiva, Jesus hoje nos oferece critérios para reconhecer o autêntico discípulo do Reino. Não basta reconhecer Jesus como Senhor!

Como a razão de ser da árvore é produzir sombra, flores ou frutos, espera-se que o discípulo demonstre o que é naquilo que faz, nas relações que estabelece com pessoas e com as coisas. E este fruto não é apenas uma canção, uma oração, uma invocação ou um determinado ato de piedade. Como vimos ontem, revelamos que somos discípulos de Jesus sendo misericordiosos como Deus o é conosco.

É pelos frutos que produzimos em nossas relações que revelamos em quem acreditamos e demonstramos a qualidade da árvore que somos. Não podemos esperar coisa boa de gente que se orienta pelo ódio ou pela indiferença, que se manifesta pela eliminação daqueles que julga errado ou incômodo, mas gosta de publicar frases e imagens de piedade e de pessoa devota em suas redes sociais.

As relações são exteriores, mas revelam os princípios e as decisões interiores, os valores que nos orientam e consideramos preciosos. Se nossa consciência é bem formada, se assumimos a escala de valores do Evangelho, se pautamos nossas ações pela prática e pelo ensino de Jesus, sempre tiraremos desse tesouro decisões boas e construtivas. Não há como tirar dele o ódio e a defesa do porte de armas.

O que se espera de nós, cristãos, é coerência entre a fé que professamos e aquilo que praticamos: seguir Jesus implica em levar a sério sua palavra e colocá-la em prática em todas as dimensões da vida. Caso contrário, seremos como as belas mansões construídas sem alicerce, sobre a areia: não resiste diante da menor prova ou força contrária; ou como as belas sepulturas que escondem carne em decomposição.

Que a incoerência e a superficialidade não façam de nós videiras estéreis ou que produzem frutos venenosos. Que Deus nos livre de sermos como aquelas casas que, de bonito e bom, só têm a fachada. Dentro delas vigora intolerância, violência, indiferença e a lei do “cada um para si e deus para todos”.

 

Sugestões para a meditação

§ Retome cada palavra e cada comparação usada por Jesus e deixe que ressoem em sua vida

§ Em que medida a fé que você demonstra em nossa família e comunidade carecem de coerência?

§ Quais são os frutos bons que a escuta e meditação da Palavra e o cultivo da fé em Jesus tem produzido em você, sua família e sua comunidade?

§ Você não acha que corremos o risco de inflacionar novenas, adorações e ritos, mas deixamos anêmica nossa ação e nossos compromissos?

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

O cisco e a trave

O discípulo de Jesus não assume postura de juiz!

834 | 12 de setembro de 2025 | Lucas 6,39-42

Um pouco antes desta cena, Jesus deixara claro que a misericórdia do Pai, expressa concretamente na vida e ação de Jesus, é a referência e o dinamismo que orienta e move a ação dos cristãos. Nossa condição no mundo é semelhante àquela dos aprendizes, e não de juízes. Estamos na estrada, e não sentados no tribunal. Somos irmãos e irmãs, e não magistrados. Não pode haver crítica legítima sem autocrítica. É nosso amor aos mais vulneráveis que nos julgará no entardecer da vida.

No trecho de hoje, Jesus não se dirige aos fariseus ou doutores da lei, mas à comunidade de discípulos e discípulas. Para preveni-los do risco da crítica infundada e de assumirem a postura de superiores e juízes, Jesus recorre a dois provérbios ou sentenças: aquele do cego que se oferece nesciamente como guia; aquele do cisco no olho que impede de ver claramente a sujeira externa.

A advertência de Jesus é clara: todos nós podemos ser cegos e levar os outros a tropeçar e a cair; ninguém está em condições de julgar ninguém; não podemos criticar ninguém se não exercitarmos a autocrítica diante de Jesus e do seu Evangelho; em relação aos outros, somos irmãos, e não juízes. Quando esquecemos isso, acabamos por manifestar nossa petulância e hipocrisia, e mostrando que somos iguais aos criticáveis fariseus e doutores da lei. Não há lugar para a soberba e para tribunais penais no interior da comunidade cristã!

E a regra também é meridianamente clara: nossas relações devem pautar-se pelas relações de Jesus, único mestre e guia capaz de conduzir à vida e à verdade. Como discípulos do profeta de Nazaré, não somos maiores nem podemos ser diferentes do mestre. “Todo discípulo bem formado será como o mestre”. E Jesus não pautou sua vida pelo julgamento e pela condenação, mas pelo amor que liberta e edifica. É claro que isso não elimina a profecia, que nasce da paixão pela verdade. Aliás, a fraternidade, a acolhida e o respeito aos diferentes não é uma profecia eloquente?

Somente as pessoas que têm o olhar limpo e o coração puro (consciência dos próprios limites) estão em condições de ajudar e criticar os outros, e sempre como irmãos e irmãs. A misericórdia do Pai, que é bondoso tanto para com os bons como para os ingratos e maus, será sempre a nossa medida. Quem somos nós para colocarmo-nos acima dele? Quem teria competência e legitimidade para corrigir o próprio filho de Deus, ele que não foi enviado para julgar e condenar, mas para salvar?

 

Sugestões para a meditação

§ Retome cada palavra e cada comparação ou figura usada por Jesus e tente perceber o que significam para você

§ Você percebe, em você mesmo e na sua comunidade, sinais da tentação de ser como um cego que quer guiar cegos, corrigir os outros sem fazer autocrítica?

§ Como podemos conjugar a renúncia a julgar e condenar os outros com o dever de agir e falar com coragem profética diante das injustiças e mentiras que ferem nossos irmãos e irmãs?

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Ser vanguarda

É a misericórdia que nos faz semelhantes a Deus

833 | 11 de setembro de 2025 | Lucas 6,27-38

O Reino de Deus pede de nós, discípulos e discípulas de Jesus, grandeza de coração. Precisamos espelhar-nos na misericórdia do Pai, cujo rosto é o próprio Jesus, que ama incondicionalmente a “todos, todos, todos”, inclusive as pessoas “ingratas” ou “más”. O amor que se nos pede é mais que estratégia, oportunismo, boa educação ou boas maneiras. As exigências de Jesus são altas, e não é possível ser mesquinho.

Jesus é direto: “A vós que me escutais, eu digo...” Ele fala conosco, que dedicamos um mês especial à Palavra de Deus. Ele fala de modo manso, mas sublinha com ênfase, que as relações de amor recíproco são insuficientes. O amor aos iguais, às pessoas bondosas e agradecidas, é pouco, e não consegue se libertar das correntes do egoísmo de grupo e do paganismo. Deus não nos trata assim! Ele age de acordo com o que precisamos, e não com o que merecemos!

No evangelho de hoje, Jesus fala de amor aos inimigos, de compreensão com aqueles que nos odeiam, excluem, insultam e amaldiçoam. Não são apenas aqueles que odiamos ou que nos odeiam, mas aqueles que nos fizeram ou nos fazem mal, aqueles que a sociedade torna invisíveis e de quem não queremos nos aproximar e que, quando os ignoramos, nos sentimos bem.

Jesus faz questão de deixar bem claro o que significa amar os inimigos: fazer o bem a quem nos odeia; abençoar os que nos amaldiçoam; rezar por aqueles que nos caluniam; oferecer a outra face a quem nos bate; dar também a túnica a quem nos penhora o manto; emprestar a quem pede; dar sem cobrar retribuição. Não é de hoje que surgem pessoas que pensam que Jesus foi longe demais.

Mas Jesus não ensina a passividade, a submissão ou a ingenuidade. O que ele pede é que sejamos como ele e como o Pai dele e nosso, que “é bondoso também para com os ingratos e maus”. Ele espera que não sejamos apenas reagentes, mas capazes de inovar, de tomar a iniciativa, de fazer aos outros o que desejamos que nos façam.

A misericórdia é a profundidade e a generosidade de Deus, e também a balança na qual nossa fé, nossa esperança e nossa caridade são medidas. A medida de Jesus e do Pai deve ser a nossa medida. É assim que brilhará em nosso rosto e em tudo o que fazemos e somos o rosto do Pai e assim demonstraremos que somos filhos do Pai.

 

Sugestões para a meditação

§ Retome cada afirmação ou prescrição de Jesus, identificando quem são os seus “inimigos” ou “adversários”

§ Você acha isso tudo praticável ou impossível de levar em conta em nossas relações?

§ Por onde você poderia começar, hoje, evitando querer fazer tudo de uma vez e acabando por desanimar?

§ O que podemos fazer para ajudar nossas comunidades a levar a sério a proposta de Jesus em tempos de intolerância?

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Felicidade X frustração

Onde encontrar a felicidade que todos buscam?

832 | 10 de setembro de 2025 | Lucas 6,20-26

No “sermão” de hoje, Jesus fala aos discípulos que chamou ou que o buscaram espontaneamente. Na sinagoga de Nazaré, ele já havia deixado claro que, com ele e com o advento do Reino de Deus, inaugurava-se um tempo de gratuidade e felicidade no qual os pobres e oprimidos ocupam o primeiro lugar.

No seu anúncio de hoje, Jesus distingue claramente dois grupos de pessoas: um grupo que ele declara feliz, e um grupo que ele caracteriza como maldito. As pessoas felizes são os discípulos verdadeiros, coerentes, solidários, colaboradores de Deus no mundo. As pessoas malditas são as que não permitem que Deus interfira nas suas escolhas e, assim, impedem que ele reine na sociedade.

Os pobres (literalmente, as pessoas carentes e dependentes) são felizes porque são os destinatários do Reino de Deus. E os ricos (que em Lucas são representados pelo homem indiferente e avarento da parábola do rico e de Lázaro) devem se lamentar porque não descobriram o tesouro da partilha e da solidariedade, e se detêm em satisfações egoístas e fugazes.

Aos famintos (toda caracterização é dispensável!) Jesus opõe os satisfeitos (orgulhosos com o que têm). Felizes são também as pessoas que choram (aquelas que lamentam a morte de uma pessoa querida ou um erro cometido), enquanto que grupo dos que riem (pessoas seguras de si mesmas, que se sentem melhores e superioras) é declarado maldito.

Felizes são também os discípulos que sofrem ódio, exclusão e insultos por causa de Jesus e do Reino de Deus, enquanto que as pessoas despreocupadas, badaladas e estimadas como os falsos profetas merecem a reprovação de Jesus e não chegam a experimentar a verdadeira felicidade.

Não se trata de um desejo vazio de Jesus, nem de uma promessa para depois da morte, mas de uma declaração que tem a força de quem a pronuncia. Nessas palavras, Jesus desmascara as ilusões dos ricos e satisfeitos e assegura a reviravolta, já iniciada pela instauração do Reino de Deus.

 

Sugestões para a meditação

§ Retome cada proclamação e cada lamentação correspondente e as deixe repercutir em você, mantendo os pés no chão

§ Para você é difícil concordar com o que Jesus diz e faz? Você tem vontade de amenizar sua fala, de adocicar suas palavras?

§ Experimente inverter o que Jesus diz: ai dos pobres, ai dos que choram, ai dos que têm fome... Isso é humano e aceitável?

§ Você continua disposto a seguir este caminho especial de felicidade proposto por Jesus, e está consciente das exigências que comporta?

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Evangelizar é preciso

Eis-me aqui, Senhor, pra fazer tua vontade!

831 | 09 de setembro de 2025 | Lucas 6,12-19

Hoje, 9 de setembro, recordamos os dois anos da primeira das duas enchentes que atingiram o povo do Rio Grande do Sul, e que aprendemos a chamar de “eventos climáticos extremos”. Ao mesmo tempo, o clima é de acirrada disputa política em torno do julgamento dos golpistas do final de 2022 e janeiro de 2023. Essa disputa acaba sendo amenizada, ao menos em parte, pela semana farroupilha, que celebra uma guerra perdida e louva costumes e tradições ambíguas e questionáveis.

Mesmo que alguns dos 12 discípulos escolhidos e enviados sejam pouco conhecidos, Jesus os “escolheu a dedo” e os chamou pelo nome. Antes de chama-los, passou uma noite em oração, para que não se enganasse na escolha, e para que eles fossem símbolo do novo povo de Deus, não obstante seus inúmeros e conhecidos limites. Ser Apóstolo significa ser enviado, ser porta-voz de Jesus e seu Evangelho, que, decididamente, não significa proclamar que “o Sul é meu país”, e que aqui simplesmente “tudo o que se planta cresce e o que mais floresce é o amor”.

Os Doze apóstolos participam da missão do próprio Jesus, fazem o que ele fez, desfrutam da sua dignidade, assumem sua meta e trilham seu caminho. Eles recebem a missão de manter a Palavra de Jesus sempre viva, atual e relevante. São convocados pela Palavra e consagrados a serviço dela. O fruto dessa missão é o despertar do desejo de encontrar Jesus e de acolher seu Evangelho como a boa terra acolhe a semente e cria as condições para que germine.

A convocação dos Doze e a missão que lhes é confiada emergem da oração de Jesus sobre a montanha. A comunidade eclesial nasce e se fortalece da comunhão de Jesus com o Pai, daquela obediência e daquele amor de quem não recua diante da morte, simbolizada na noite. A vocação dos Doze é também um chamado à comunhão, que é o objetivo e o método de todo apostolado. Ser Igreja é caminhar juntos.

Nossas comunidades e cada um de nós somos convocados a renovar nosso ardor missionário, a potencializar nosso testemunho, a dar nossa resposta concreta e engajada ao Senhor que nos chama através dos clamores e esperanças do nosso povo. Estamos respondendo com a vida “Eis-me aqui, envia-me”?

 

Sugestões para a meditação

§ Acompanhe passo a passo o retiro orante, a escolha nominal e o envio dos Doze Apóstolos, embaixadores do Reino de Deus

§ Deixe que ressoe também em você e hoje o chamado e a escolha de Jesus: “Eu te amo, te chamo, te formo e te envio!”

§ Desça da montanha com Jesus, e perceba a multidão que vem ao encontro dele, abandonada e ferida pelos falsos “messias”

§ Como a multidão, procure tocar Jesus, e deixar-se tocar pela Palavra e pela liberdade solidária e destemida que ele nos ensina