Quem age por
medo ou por ambição não conhece a liberdade | 677 | 09.04.2025 | João 8,31-42
Continuamos com a narração que nos
reporta o grande e tenso debate entre Jesus e as lideranças do judaísmo, depois
da defesa pública da dignidade de uma mulher prestes a ser apedrejada na praça
do templo. Jesus acusa o grupo que dirige o judaísmo de viver e ensinar uma fé
equivocada, apresentada como modelo de fidelidade, mas que se mostra
irredutivelmente fechada à ação salvadora e libertadora de Deus.
Na cena anterior, um pequeno grupo de
judeus mostrou admiração e deu crédito a Jesus. Mas Jesus os conhece, e
dispensa tanto a admiração como uma adesão simplesmente formal. Só o conhece e
só se torna seu discípulo quem assimila e leva a sério a sua Palavra, quem
participa da sua ação solidária e libertadora em benefício dos oprimidos. Esta
é a verdade sobre Deus e sobre o ser humano, uma verdade que nos torna livres,
capazes de doar a própria vida.
A liberdade dos discípulos de Jesus
não é a faculdade de decidir isso ou aquilo, mas a capacitação para participar
da liberdade do Pai, que ama e acolhe bons e maus, merecedores ou não do seu
amor, todos necessitados do seu perdão acolhedor. Quem age sempre guiado pelo
medo, pela raiva, pela competição, pela busca de vantagens ou pela busca dos
próprios interesses não é livre, mas escravo de si mesmo. Não é capaz de dar-se
e perder-se num “amor a fundo perdido”.
Ao ensinar isso, Jesus dá a entender
que a elite religiosa que se opõe a ele não é verdadeiramente livre, mesmo se
pertence a um povo politicamente autônomo. Esta elite reage afirmando ser da
raça e estirpe de Abraão, e que nunca foi escrava. Mas Jesus retruca que ser
filho é ser parecido com o pai, e eles estão muito longe de imitar Abraão.
Aderindo às estruturas de opressão e dominação, e dando-lhes estabilidade e
caráter intocável, eles servem ao pecado, que impede o amor e leva à morte.
Jesus conclui
reafirmando sua filiação divina – suas ações testemunham sua semelhança com o
Pai – e que a elite religiosa de judaísmo é filha da idolatria (que a tradição
judaica chama de prostituição), pois não aceita, persegue e quer matar Jesus.
Quem persegue os outros não é livre, mas escravo dos medos e competições. Eis
porque a conversão quaresmal não significa apenas volta à religião, mas mudança
de perspectiva.
Meditação:
§ A
quantas anda nossa adesão a Jesus Cristo e ao seu Evangelho libertário? Vai
além da admiração e da exterioridade?
§ Olhemos
atentamente e criticamente para nossas decisões, ações e compromissos: elas
revelam que somos filhos do Deus de Jesus?
§ Em
que medida continuamos pensando que somos livres para fazer o que queremos, e
não para lutar pelos direitos humanos?
§ Será
que ainda reivindicamos a superioridade da nossa raça, da nossa religião, da
nossa origem, da nossa classe frente aos outros?