terça-feira, 17 de junho de 2025

Fé e teatro

Nada façamos só para atrair admiração e aplausos | 747 | 18.06.2025 | Mateus 6,1-6.16-18

Nas últimas meditações, vimos refletindo sobre a proposta inovadora de Jesus frente aos costumes e leis do judaísmo, em seis exemplos concretos. No evangelho de hoje, Jesus prossegue seu ensino, deslocando a atenção das prescrições legais para as práticas de piedade: a esmola, a oração e o jejum. É uma nova etapa na formação dos discípulos. Não faltemos a esta lição de formação permanente, nem nos distraiamos diante do Mestre.

Nos exemplos anteriores, o tema era a justiça maior e plena que aquela praticada pelos fariseus, a justiça que antecede e ultrapassa as prescrições e proibições. Este tema continua nesta seção, como em todo o evangelho de Mateus. Para alguns setores importantes do judaísmo, tudo se resumia em aparecer, ser visto e reconhecido, em granjear a fama aos olhos do povo, inclusive com práticas morais minuciosas. Em vista do reconhecimento eles faziam qualquer coisa, e a isso subordinavam até a religião.

Jesus começa com uma advertência contundente: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente das pessoas, só para serdes vistos por elas!” Ele não é um pregador ingênuo, e percebe que esta busca de evidência pode contaminar até aquilo que parece mais piedoso e religioso, como a esmola, a oração, e o jejum. A hipocrisia pode contaminá-las e destituí-las do seu valor evangélico e original!

Por isso, Jesus propõe um princípio prático, geral e efetivo para não cair nesse risco: evitar a busca de publicidade, deslocando o foco de nós mesmos e nossas instituições para Deus e o Outro. É isso que nos faz bons e nos justifica! O resto é teatro e espetáculo para impressionar as pessoas incautas. O que vale todas as penas é a aprovação de Deus, que vê o que é discreto, aquilo que ninguém vê, aqueles que ninguém quer ver.

A ostentação tem pouco a ver com Deus, com sua vontade e com sua ação no mundo. Muito ao contrário, este tipo de piedade é capaz de irritar em vez de agradar a Deus. Não podemos usar as práticas de piedade e o culto solene como estratégias para seduzir o povo e tentar o próprio Deus. “Quando a promessa é grande o santo desconfia”, ensina nosso povo.

 

Sugestões para a meditação

§ Deixe ressoar em você este ensino inovador de Jesus, que ele mesmo viveu em primeira pessoa: fazer o bem sem olhar a quem

§ Como você e sua comunidade tem vivido as práticas de partilha solidária? Há algo a ser revisto e melhorado nelas?

§ E o que pensamos hoje em relação ao jejum? Vemos sentido? Com que sentido o praticamos, ou com que argumentos o contestamos?

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Amar os inimigos

A medida do amor é amar sem medida e sem restrições | 746 | 17.06.2025 | Mateus 5,43-48

A parte do evangelho que conhecemos como “sermão da montanha” é uma iniciação dos discípulos à novidade do Reino de Deus inaugurado por Jesus de Nazaré, o Enviado do Pai. Se é verdade que Jesus não quer simplesmente descartar a Lei e os costumes do judaísmo do seu tempo, também não há dúvidas de que ele opera uma mudança substancial nas tradições sagradas, e se apresenta como seu autorizado intérprete e consumador.

Hoje temos o sexto exemplo de releitura da Lei exercitada por Jesus: o mandamento do amor ao próximo. Para a tradição judaica, faziam parte do conceito de “próximo” os familiares de sangue e de casa e os membros do judaísmo. Mas o conceito se estendia também, em parte, aos doentes, pobres e estrangeiros. Na prática, no tempo de Jesus, este círculo se restringia a poucas pessoas. E faziam parte do grupo dos “inimigos” os oponentes pessoais, os adversários nacionais, os estrangeiros e infiéis, mas também gente da própria casa, quando fazia algo inaceitável.

Para Jesus está claro que Deus não orienta sua relação conosco pelos parâmetros do gênero, da aparência, da riqueza, da condição social ou religiosa, do sangue ou da nação. Deus não separa nem opõe bons e maus. Todos somos pecadores necessitados da misericórdia, pessoas limitadas que não chegam à melhor versão de si mesmas sem a ajuda dele. Por isso, Jesus pede e espera de seus discípulos a disposição de amar até nossos inimigos e de rezar pelos que nos perseguem. É assim que manifestaremos que somos filhos de Deus, pois nossa ação de identifica com a dele.

Mas é também claro que amar o próximo não é a mesma coisa que ser gentil com as pessoas, ou ter bons sentimentos. Amar é reconhecer e afirmar, por decisão e por ação, a dignidade de cada pessoa, para além da sua condição humana, social ou moral. E o amor, por sua própria natureza, não é da parte dos sentimentos, mas da ordem da vontade, das decisões. Ninguém ama por instinto, por sentimento ou por natureza, mas por decisão e compromisso. A medida do amor é amar sem medida, pois o amor calculado e mensurável não passa de cínico egoísmo e de acordo de cavalheiros. Atenção, pois, no uso do verbo amar!

 

Sugestões para a meditação

§ Deixe ressoar este ensino inovador de Jesus: não pagar com a mesma moeda, não ser uma pessoa reativa, mas inovadora, revolucionária

§ Recorde cenas e acontecimentos da vida de Jesus que demonstram que ele viveu isso que ensina aos seus discípulos

§ O que significa hoje oferecer a outra face, dar o manto a quem quer se apropriar da túnica, andar o dobro daquilo que nos impõem?

domingo, 15 de junho de 2025

Tome a iniciativa!

Sejamos audaciosos na ruptura com toda violência | 745 | 16.06.2025 | Mateus 5,38-42

No sermão da montanha, uma espécie de curso de iniciação dos discípulos ao Evangelho, Jesus se apresenta como o intérprete e consumador da Lei e dos costumes do judaísmo. Hoje nos deteremos no quinto exemplo de releitura da Lei que ele desenvolve, como Mestre que ensina com autoridade e ousadia. Não domestiquemos a novidade do Evangelho!

A vingança parece fazer parte da condição humana e da história das sociedades. O judaísmo quis limitar a violência ao “olho por olho e dente por dente”. E isso já era um avanço diante da violência ilimitada que a vingança desencadeava. Mas Jesus pede muito mais que isso. Ele pede que quebremos o círculo ou a lógica da violência, que passemos da simples reação contra a violência sofrida à iniciativa positiva e à gratuidade. “Não enfrenteis quem é malvado” (com a mesma prática), diz Jesus.

Jesus dá alguns exemplos de como fazer isso concretamente. Num contexto em que o tapa no rosto era um insulto de uma pessoa superiora contra outra pessoa tratada como inferior, oferecer a outra face a quem bate é expressão inequívoca de dignidade e de superioridade ética, de capacidade de iniciativa, uma atitude fundamental de não-violência ativa. Isso jamais pode ser visto como sinal de fraqueza e submissão.

Num ambiente no qual era comum um rico penhorar as vestes de um pobre endividado com ele, entregar também o manto, todas as vestes, era uma forma de expor a humanidade nua, aquela humanidade que iguala a todos os seres humanos. Era um jeito de protestar e de desmascarar a violência dos prepotentes, uma forma de eloquente ação simbólica e profética.

Num contexto em que os soldados romanos obrigavam o povo nativo a caminhar com eles e carregar as armas que serviam para intimidá-los, caminhar o dobro do que era imposto significava não entrar no jogo dos opressores, tomar a iniciativa e ser mais digno que eles. O ensinamento de Jesus não é submissão, mas uma via alternativa e de maturidade humana.

 

Sugestões para a meditação

§ Deixe ressoar em você este ensino que Jesus viveu pessoalmente: não pagar com a mesma moeda, não ser uma pessoa reativa, mas inovadora

§ Recorde cenas e acontecimentos da vida de Jesus que demonstram que ele viveu em primeira pessoa isso que ensina aos seus discípulos

§ O que significa hoje oferecer a outra face, dar o manto a quem quer se levar a túnica, andar o dobro daquilo que nos impõem os violentos?

§ Como poderíamos praticar o ensino de Jesus nas relações violentas que infestam as redes sociais?

sábado, 14 de junho de 2025

Santíssima Trindade

Deus Uno e Trino nos envolve e fecunda nossas relações | 744 | 15.06.2025 | João 16,12-15

O evangelho que nos ilumina faz parte do diálogo exortativo com o qual Jesus prepara os discípulos para a sua paixão e morte. Pouco a pouco, Jesus vai sublinhando a boa e desejável novidade: o envio do seu Espírito como dinamismo de comunhão com ele, com o Pai e com os irmãos e irmãs e, ao mesmo tempo, dinamismo que sustenta as comunidades na busca incansável da plena compreensão do mistério divino que nele se revela.

Nos versículos de hoje, Jesus atribui ao Espírito da Verdade o papel de guiar os discípulos na compreensão das consequências da aceitação da sua mensagem, num processo de compreensão e interpretação que evolui de acordo com os acontecimentos. O Espírito é Mestre experimentado que explica e aplica o Evangelho na vida concreta das comunidades imersas num mundo extremamente hostil à novidade cristã.

A voz do Espírito é a voz de Jesus, ele fala aquilo que “ouve” de Jesus, assim como Jesus compartilha Palavra e Ação com o Pai. Eles têm em comum o amor fiel e generoso pelo ser humano. Por isso, assim como guiou e sustentou Jesus na sua missão, o Espírito guia a comunidade cristã na compreensão do divino mistério de comunhão e misericórdia que se esconde e se manifesta na pessoa e na missão de Jesus.

É quando Jesus, por amor, desce aos lugares mais inferiores que se possa imaginar que ele honra o amor do Pai e consuma a vocação de todo ser humano. E isso só é possível para os discípulos mediante o Espírito Santo, que estabelece a comunhão do Pai com o Filho; do Pai e do Filho conosco; a nossa relação com os outros e com todas as criaturas. Deus é Uno e Trino, comunhão perfeita e dinâmica, unidade na diversidade, Trindade Santa

É esse o sentido da afirmação aparentemente estranha de Jesus, quando diz que “todas as coisas do Pai são minhas” e que “ele vai receber do que é meu”. Não obstante serem três e conservarem sua “personalidade”, Pai, Filho e Espírito são “uma só coisa” na qualidade e na intensidade do amor. Eles compartilham do mesmo espírito: o amor incondicional.

 

Sugestões para a meditação

§ Coloque-se em meio aos discípulos, perturbados com o anúncio da sua morte e com a previsão da oposição que eles mesmos sofreriam

§ Você percebe, também hoje, sinais de oposição e resistência à missão dos seguidores de Jesus?

§ Quem implicações tem na vida a nossa fé num Deus que sustenta a originalidade de cada ser e dinamiza a unidade pela comunhão?

§ Deixe-se envolver e atravessar pela comunhão da Trindade Santa

Santíssima Trindade

É PRECISO ACREDITAR NA TRINDADE?

(Tempo Pascal | Solenidade da Santíssima Trindade)

 

É necessário acreditar na Trindade? Serve para algo? Não é uma construção intelectual desnecessária? Será que muda a nossa fé de alguma forma se não crermos no Deus trinitário? Há dois séculos, o famoso filósofo Immanuel Kant escreveu estas palavras: «Do ponto de vista prático, a doutrina da Trindade é perfeitamente inútil».

Nada poderia estar mais longe da verdade. A fé na Trindade muda não só a nossa visão de Deus, mas também a nossa compreensão da vida. Confessar a Trindade é crer que Deus é mistério de comunhão e de amor. Não é um ser fechado e impenetrável, imóvel e indiferente. A sua intimidade é apenas amor e comunicação. Consequência: no fundo último da realidade, dando sentido e existência a tudo, não há nada senão Amor. Tudo o que existe vem do Amor.

O Pai é o Amor original, a fonte de todo o amor. Ele começa o amor. «Só ele começa a amar sem motivo. É Ele quem desde sempre começou a amar» (E. Jüngel). O Pai ama desde sempre e para sempre, sem ser forçado ou motivado de fora. Ele é o «amante eterno». Ama e continuará sempre a amar. Nunca nos retirará o seu amor e fidelidade. Dele só brota amor. Consequência: criados à sua imagem, somos feitos para amar. Só amando é que conseguimos existir.

O ser do Filho consiste em receber o amor do Pai. Ele é o «Eternamente Amado», antes da criação do mundo. O Filho é o Amor que acolhe, a resposta eterna ao amor do Pai. O mistério de Deus consiste, pois, em dar e também em receber amor. Em Deus, deixar-se amar não é menos do que amar. Receber amor também é divino! Consequência: criados à imagem desse Deus, somos feitos não só para amar, mas para sermos amados.

O Espírito Santo é a comunhão do Pai e do Filho. Ele é o Amor eterno entre o Pai amoroso e o Filho amado, o que revela que o amor divino não é posse ciumenta do Pai nem açambarcamento egoísta do Filho. O verdadeiro amor é sempre abertura, comunicação transbordante. Por isso, o Amor de Deus não se fica em si mesmo, mas comunica-se e estende-se às suas criaturas. «O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Romanos 5,5). Consequência: criados à imagem desse Deus, somos feitos para nos amarmos uns aos outros, sem acumular e sem nos fecharmos em amores fictícios e egoístas.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

Taxação dos mais ricos

A necessidade de tributos mais justos

Há meses as questões do alargamento da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) e da compensação fiscal pela taxação das grandes rendas ou das transações financeiras (IOF) vem dominando o debate político no cenário nacional. Nas últimas semanas, as mobilizações pela securitização das dívidas dos produtores rurais introduziram um novo ingrediente nesta questão já bastante complexa. Tanto como cristãos como cidadãos, não podemos ficar omissos a esse debate e aos interesses que gravitam em torno dele.

A Doutrina Social da Igreja Católica (DSI) coloca o conceito de Justiça no centro da abordagem das questões sociais. A justiça é a “constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido e constitui o critério determinante da moralidade no âmbito intersubjetivo e social” (CDSI, § 201).  E o conceito de Justiça Social diz respeito aos aspectos sociais, políticos, econômicos e, sobretudo, à dimensão estrutural dos problemas e suas respectivas soluções. E aqui entra o conceito de Justiça Tributária.

O Compêndio da Doutrina Social da Igreja (CDSI) diz os impostos e a despesa pública têm uma “importância econômica crucial” para qualquer comunidade civil e política, devem ser administrados com responsabilidade e transparência e ter como meta o Bem Comum, a solidariedade e o desenvolvimento equitativo e eficiente dos diversos segmentos da sociedade. Nesse horizonte, o pagamento de impostos é uma concretização do dever de solidariedade, e a carga tributária deve ser racional e equitativa (cf. CDSI, § 355).

A Justiça Social e a Justiça Tributária são tão relevantes que seu esquecimento ou descumprimento é considerado um Pecado Social.  “Pecado Social é todo o pecado contra o Bem Comum e contra as suas exigências, em toda a ampla esfera dos direitos e dos deveres dos cidadãos” (CDSI, § 118). Assim, o seu enfrentamento é necessário, e promove a liberdade e a dignidade humana. E, para assegurar o bem comum, os governos devem harmonizar com justiça os diversos interesses setoriais (cf. CDSI, § 169).

Por isso, a reação de alguns segmentos econômicos e grupos políticos à proposta de mudança nas regras do IR, de taxação das grandes rendas, do lucro das BET’s e algumas outras atividades merecem uma análise mais apurada. Não se trata de aumento de impostos, mas da busca de uma maior justiça tributária. A obstrução da taxação das grandes fortunas e das transações financeiras é uma agressão à Justiça Social, e pode ser vista como Pecado Social. A securitização das dívidas dos produtores rurais, sem distinção de grandes e pequenos, vai na mesma linha e merece crítica semelhante.

Podemos ver na ação destes grupos semelhança com a prática dos fariseus e doutores da lei, criticada implacavelmente por Jesus: “Amarram fardos pesados e insuportáveis e os põem aos ombros dos homens, mas eles mesmos não querem movê-los, nem sequer com um dedo” (Mt 23,4); “Os reis das nações dominam sobre elas, e os que exercem o poder se fazem passar por benfeitores. Entre vocês não seja assim” (Lc 22,24-25). Como cristãos, não podemos nos alinhar a estes falsos benfeitores, e precisamos postular uma justiça multidimensional e plena (cf. Mt 3,15). Se a nossa justiça não for maior que a desses senhores, não seremos verdadeiros cidadãos do Reino de Deus (cf. Mt 5,20).

Dom Itacir Brassiani msf

Bispo Diocesano de Santa Cruz do Sul

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Comunicação fake

Sejamos verdadeiros e respeitosos naquilo que falamos | 743 | 14.06.2025 | Mateus 5,33-37

O Evangelho nos ensina que a comunidade deve ler e interpretar toda a bíblia relacionando-a com o que Jesus fez e disse. Ele é a chave de leitura da sagrada escritura! Hoje vamos meditar sobre mais um exemplo da releitura crítica e libertadora que Jesus faz das escrituras: a necessidade de assegurar a transparência e a verdade naquilo que comunicamos. A palavra é viva quando são nossas ações as que falam, ensinava Santo Antônio de Pádua. Isso vale tanto para a pregação como para a catequese e para os discursos políticos ou para a comunicação social.

Sentimos com muita força o esvaziamento da palavra e das relações, e não apenas por causa desta doença social que chamamos “fake News”. Ficamos sem saber o que fazer para assegurar crédito àquilo que dizemos, e percebemos que promessas, juramentos, documentos assinados e registrados acabam ajudando pouco. Até na Igreja, às vezes, as palavras são evasivas, não dizem tudo, disfarçam, encobrem e desviam. E então a simples repetição de dogmas e fórmulas não resolve.

Jesus critica o costume judaico de jurar para reforçar a palavra. Ele diz que por trás do mandamento de cumprir o juramento feito está o valor da autenticidade. Por isso, não precisamos de juramentos ou documentos formais quando nosso sim é sim e nosso não é não, quando somos íntegros na comunicação e nas relações. Geralmente recorremos a um juramento quando o que dizemos não tem crédito, quando afirmamos algo que não somos ou que dificilmente faremos. Não adianta acrescentar camadas de maquiagem comunicacional quando o discurso é vazio.

Para Jesus, a pretensão de reforçar a palavra vazia e a promessa mentirosa com juramentos e recursos de oratória é coisa do diabo, é obra daquele que divide. Jurar por Deus para esconder falsidade ou debilidade da vontade é uma forma de tentar, de forçar ou de manipular o próprio Deus. Recorrer a esses artifícios significa usar o nome de Deus em vão, ou, mais grave ainda, usar Deus para enganar e fazer o mal. Jesus nos ensina que dos discípulos do Reino de Deus se espera atitudes de confiança, de coerência e de integridade. E isso não cai do céu, mas brota de uma boa educação ética e supõe exercício permanente e vigilância constante.

 

Sugestões para a meditação

§ Será que nossa comunicação em geral, mas também aquela que exercitamos no interior da família e na comunidade eclesial não vem sendo esvaziada por falta de autenticidade?

§ Como e em que o ensino de Jesus que estamos meditando nos ajuda a melhorar nossa comunicação interpessoal e eclesial?

§ Que passos nossas Igrejas, especialmente as comunidades, precisam dar para favorecer uma comunicação clara, direta e verdadeira, sem a necessidade de recorrer a promessas e barganhas?

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Homem e Mulher: direitos iguais

Homem e Mulher têm a mesma dignidade e direitos iguais | 742 | 13.06.2025 | Mateus 5,27-32

Já vimos que a comunidade cristã deve ler e interpretar a Sagrada Escritura relacionando-a com o que Jesus fez e disse. Jesus Cristo e seu Evangelho são a chave de leitura da Bíblia! E ele disse que não é sua pretensão abolir as Escrituras, mas desmascarar as compreensões falsas, interesseiras, imaturas e parciais. E nos dá uma série de exemplos da sua releitura crítica e libertadora. No texto de hoje meditaremos sobre o exemplo das relações de gênero no ambiente doméstico.

Sem negar a lei que regulava as situações nas quais o divórcio poderia ser legitimamente solicitado por um marido judeu, Jesus interpreta de modo inovador a lei de Moisés, e chama a atenção para algo mais profundo, anterior e interior ao próprio “direito” ao divórcio: o olhar predador, cobiçoso e utilitário do homem sobre a mulher. No seu ensino, Jesus critica e reprova a cultura machista e patriarcal que faz concessões ilimitadas aos homens e, ao mesmo tempo, menospreza, abandona e pune sem misericórdia as mulheres.

Na verdade, a licença para se divorciar, dada por Moisés apenas aos homens e em situações bem precisas, era alargada em benefício dos homens pelos escribas e doutores da Lei. Assim, as mulheres eram maltratadas, e isso com o amparo e a bênção da Lei e dos seus pregadores. Para alguns deles, qualquer coisa, até mesmo uma refeição mal preparada, poderia ser motivo para o marido “despachar” a pobre mulher. Nas mãos deles, o documento de divórcio, que originalmente dava uma certa proteção à mulher, acabava se transformando numa violência contra elas.

Com sua releitura “daquilo que foi dito aos antigos”, Jesus põe um limite ao poder concedido ilimitadamente ao homem sobre a mulher. Jesus reprova estas relações de dominação, que são aberrações antropológicas e sociais, e esquizofrenias espirituais, mesmo quando aceitas pela cultura dominante, como aqueles que hoje dizem: “eu não sei porque bato na mulher, mas ela sabe porque apanha”, ou “eu não te estupro porque você não merece”. Ele nos propõe um novo modo de olhar a mulher, e cortar pela raiz (olho, mão, etc.) esse mal, pois, se pautarmos a vida por ele, transformaremos a sociedade num inferno, e viveremos nele.

 

Sugestões para a meditação

§ Acolha e deixe ressoar em você o segundo e o terceiro exemplo sobre como dar pleno cumprimento ao que a Lei

§ Há quem diga que denunciar o machismo, o patriarcalismo e o racismo é coisa do passado; você concorda?

§ Você percebe resquícios ou práticas de machismo e de dominação masculina na sua família, na sua comunidade, na Igreja e na sociedade?

§ Em que medida a educação doméstica e o que as mensagens veiculadas nas redes sociais também estão contaminados pela ideologia machista?

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Odiar = matar

Não matar não é o máximo e sim o mínimo do mandamento | 741 | 12.06.2025 | Mateus 5,20-26

Depois de propor o caminho da felicidade plena, Jesus sublinha que este caminho requer uma justiça maior que a justiça dos escribas e fariseus. E dá uma série de exemplos, dos quais o texto de hoje apresenta o primeiro. Jesus parte das Escrituras, mas não se detém na simples afirmação da lei. Para ele, a Escritura tem por finalidade assegurar a proteção social das pessoas vulneráveis e a harmonia no interior da comunidade.

Jesus reinterpreta o 5º mandamento, ciente de que o homicídio começa bem antes do ato concreto, e tem suas raízes na falta de respeito à dignidade de quem é diferente, configurada na raiva e no insulto. Não matar não é o máximo, mas o mínimo da justiça. A fraternidade sem fronteiras é exigência incontornável do Evangelho do Reino, e os discípulos de Jesus não podemos ignorar ou menosprezar isso.

A justiça maior que a dos fariseus se expressa na vivência da fraternidade, na amizade social: agindo de tal forma que o outro viva dignamente. Isso é tão importante e decisivo que Jesus ensina que a nossa comunhão com Deus depende da reconciliação com as pessoas e grupos que divergem de nós, e até com quem nos persegue. A atitude de pacificação e reconciliação é mais importante que a ortodoxia doutrinal e que o culto divino!

É claro que Jesus não pede para parar durante a celebração. Ele usa uma imagem forte para reforçar a absoluta importância de cultivar, manter e reatar os vínculos que, tanto do ponto de vista humano quanto religioso, nos mantêm unidos ao próximo. E não se trata apenas de constatar que ofendemos alguém e que isso nos pesa na consciência, mas de verificar se agimos mal e provocamos dano e ressentimento nos outros.

O próximo, sendo diferente, e até mesmo divergente de nós, é um dom, um presente, um desafio permanente à nossa integridade e coerência. Relacionar-nos com ele de modo fraterno não pode ser vivido como um peso, mas como uma grande alegria. Ou será que a vivência de uma fraternidade sem fronteiras não é um grande motivo de alegria para qualquer pessoa? A fraternidade sem exclusões vale todos as penas!

 

Sugestões para a meditação

§ Que impacto tem sobre seu pensamento e suas ações este ensino de Jesus: não é suficiente não matar, é preciso evitar a raiva e o insulto?

§ Quais são as consequências do pedido para interromper o culto e as ofertas para primeiro se reconciliar com quem prejudicamos?

§ Como você, sua família e sua comunidade podem exercitar este precioso e exigente ensinamento de Jesus?

terça-feira, 10 de junho de 2025

Apóstolo Barnabé

São Barnabé nos exorta a permanecer fiéis ao Senhor | 739 | 11.06.2025 | Mateus 10,7-13

Na primeira parte da formação missionária, depois de escolher os discípulos entre um grupo maior, Jesus delimitava o campo prioritário no qual deveriam agir: o povo cansado e abatido, ou as ovelhas perdidas da casa de Israel. Os samaritanos e pagãos ficariam para o segundo momento. No texto de hoje, escalado para iluminar a festa do apóstolo São Barnabé, Jesus fala das tarefas (v. 7-8) e do suporte (v. 8-10) dessa missão (v. 11-15).

Em relação ao que seus enviados devem fazer, Jesus ensina que se trata de anunciar alegremente que o Reino de Deus chegou e de demonstrar isso com sinais concretos: cuidar dos doentes, purificar os leprosos, ressuscitar os mortos, enfim: prolongar a própria missão de Jesus, que consiste e devolver plena vida e cidadania aos excluídos.

Em relação ao estilo de vida e ao suporte material da missão, os enviados são encarregados de dar testemunho de despojamento de todo aparato e a não serem pesados para o povo, a não buscar vantagens, a deslocar-se discretamente pelas estradas, a meios frágeis, a confiar na hospitalidade do povo e na providência de Deus, a fazer das casas o foco irradiador da novidade do Reino de Deus, a não forçar ninguém nem impor nada.

Naquilo que se refere ao impacto da missão, o discípulo deve contar com a acolhida dos interlocutores, mas também com a resistência de outros. Diante da recusa, não devem lamentar nem ameaçar: os discípulos e apóstolos devem continuar a missão noutro lugar e dirigir-se a outras pessoas. Sacudir a poeira dos pés significa dizer que a oportunidade foi concedida, e foi maior que aquela oferecida Sodoma e Gomorra, e que a responsabilidade pelas consequências não recai sobre o missionário.

Focado no anúncio do Reino de Deus e tendo Jesus como modelo, o discípulo missionário não cria falsas expectativas nem exibe poder. Como o Apóstolo Barnabé, ele vive em si mesmo a novidade do Reino de Deus como capacidade de confortar e consolar, e isso basta.

 

Sugestões para a meditação

§ Deixe que ressoe em você e rumine por um instante cada uma das recomendações de Jesus aos discípulos que ele envia

§ Qual dessas recomendações lhe parece mais relevante para as comunidades e seus missionários hoje?

§ Quais seriam as atitudes e ações prioritárias que poderiam assegurar a credibilidade da evangelização hoje?

§ Que atitudes costumamos tomar diante das pessoas e grupos que se fecham ao Evangelho?