domingo, 27 de julho de 2025

A Igreja e a COP-30

A urgência de uma profunda conversão ecológica

Em meados de junho passado, representantes da Igreja Católica da África, da Ásia e da América La­tina e Caribe se reuniram para aprofundar as demandas do ‘sul global’ para COP30 (Cúpula nas Nações Unidas sobre o Clima). No final, comprometeram as Igrejas desses continentes a somar sua voz às vozes das ciências, da sociedade civil e dos setores mais vulneráveis para alcançar uma verdadeira e ampla justiça ambiental e social.

As constatações são conhecidas e preocupantes. A maioria absoluta dos países não buscou com seriedade e urgência as metas da COP21, conhecida como Acordo de Paris (2015). A crise climática é uma realidade urgente e palpável, como sentimos na pelo em nossa região. Em 2024 atingimos o ameaçador aumento 1,55°C na média da temperatura global. E isso não é apenas um problema técnico, mas humanitário e global.

Para evitar os efeitos catastrófi­cos dessa elevação da temperatura é necessário limitar o aquecimento global a 1,5°C, e jamais devemos abandonar essa meta. O ‘sul global’, especialmente a população mais pobre, já sofre as consequências disso. Soluções como o ‘capitalismo verde’, o comércio de carbono e o extrativismo são soluções limitadas ou falsas, e apenas adiam o problema e perpetuam exploração e injustiça.

Por isso, a Igreja Católica propõe substituir estas soluções falsas e insuficientes por soluções justas e equitativas. E o primeiro caminho para isso é exigir das nações ricas o pagamento da sua dívida ecológica com as nações mais pobres, através do financiamento de iniciativas que assegurem o clima como bem comum, reparem as perdas e danos e potencializem a resiliência na África, América Latina e Caribe, Ásia e Oceania.

Um segundo caminho é a tomada de medidas concretas para a substituição dos combustíveis fósseis por energias renováveis, a interrupção de todas as novas infraestruturas de exploração de combustíveis fósseis, e a taxação pesada dos países que se beneficiam deles. Nesse horizonte estão também as políticas de ‘descrecimento econômico’ e a colocação dos povos mais afetados pelas crises no centro da discussão.

Um terceiro conjunto de soluções agrupa a defesa dos povos indígenas e tradicionais e dos ecossistemas e comunidades empobrecidas. Junto está o reconhecimento da maior vulnerabilidade de mulheres, meninas e novas gerações. E o tratamento das migrações climáticas como um desafio global no horizonte da justiça global e dos direitos humanos.

As Igrejas do ‘sul global’ desafiam as autoridades nacionais se comprometerem com ações inadiáveis:  cumprir as metas e compromissos do Acordo de Paris; priorizar o bem comum acima do lucro; implantar uma economia que priorize o bem-es­tar das pessoas e a sustentabilidade do planeta; promover políticas climáticas ancoradas nos direitos humanos; implementar soluções tecnológicas éticas e descentralizadas; f) restaurar os ecossistemas aquáticos e terrestres e reduzir o desmatamento a zero até 2030; fortalecer os processos e organismos democráticos multilaterais.

Por fim, a Igreja convoca seus fiéis a uma série de compromissos pessoais e comunitários: defender os setores sociais mais vulneráveis; promover economias baseadas na solida­riedade, na sobriedade feliz e no bem viver; fortalecer a cultura do cuidado, da cooperação e da solidariedade; monitorar os resultados das COP’s; promover a cooperação entre Norte e Sul na solução das crises. Estes são compromissos de todos!

Dom Itacir Brassiani msf

Bispo Diocesano de Santa Cruz do Sul

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