A urgência de uma profunda conversão
ecológica
Em meados de junho passado, representantes da Igreja Católica da
África, da Ásia e da América Latina e Caribe se reuniram para aprofundar as demandas do ‘sul global’ para COP30 (Cúpula nas Nações Unidas sobre o Clima).
No final, comprometeram as Igrejas desses continentes a somar sua voz às vozes
das ciências, da sociedade civil e dos setores mais vulneráveis para alcançar
uma verdadeira e ampla justiça ambiental e social.
As constatações são conhecidas e preocupantes. A maioria
absoluta dos países não buscou com seriedade e urgência as metas da COP21,
conhecida como Acordo de Paris
(2015). A crise climática é uma realidade urgente e palpável, como sentimos na
pelo em nossa região. Em 2024 atingimos o ameaçador aumento 1,55°C na média da
temperatura global. E isso não é apenas um problema técnico, mas humanitário e
global.
Para evitar os efeitos catastróficos dessa elevação da
temperatura é necessário limitar o aquecimento global a 1,5°C, e jamais
devemos abandonar essa meta. O ‘sul global’, especialmente a população mais
pobre, já sofre as consequências disso. Soluções como o ‘capitalismo verde’, o
comércio de carbono e o extrativismo são soluções limitadas ou falsas, e apenas
adiam o problema e perpetuam exploração e injustiça.
Por isso, a Igreja Católica propõe
substituir estas soluções falsas e insuficientes por soluções justas e equitativas. E
o primeiro caminho para isso é exigir das nações ricas o pagamento da sua
dívida ecológica com as nações mais pobres, através do financiamento de
iniciativas que assegurem o clima como bem comum, reparem as perdas e danos e
potencializem a resiliência na África, América Latina e Caribe, Ásia e Oceania.
Um segundo caminho é a tomada de medidas concretas para a
substituição dos combustíveis fósseis por energias renováveis, a interrupção de
todas as novas infraestruturas de exploração de combustíveis fósseis, e a
taxação pesada dos países que se beneficiam deles. Nesse horizonte estão também
as políticas de ‘descrecimento econômico’ e a colocação dos povos mais afetados
pelas crises no centro da discussão.
Um
terceiro conjunto de soluções agrupa a defesa
dos povos indígenas e tradicionais e dos ecossistemas e comunidades
empobrecidas. Junto está o reconhecimento da maior vulnerabilidade de mulheres,
meninas e novas gerações. E o tratamento das migrações climáticas como um
desafio global no horizonte da justiça global e dos direitos humanos.
As Igrejas do ‘sul global’ desafiam
as autoridades nacionais se comprometerem com ações inadiáveis: cumprir
as metas e compromissos do Acordo de
Paris; priorizar o bem comum acima do lucro; implantar uma economia que priorize o bem-estar das pessoas e a
sustentabilidade do planeta; promover políticas climáticas ancoradas nos direitos humanos; implementar soluções tecnológicas éticas e
descentralizadas; f) restaurar
os ecossistemas aquáticos e terrestres e reduzir o desmatamento a zero até 2030; fortalecer os processos e
organismos democráticos multilaterais.
Por fim, a Igreja convoca seus fiéis
a uma série de compromissos pessoais e comunitários: defender os setores sociais mais
vulneráveis; promover economias baseadas na solidariedade, na sobriedade feliz
e no bem viver; fortalecer a cultura do cuidado, da cooperação e da solidariedade;
monitorar os
resultados das COP’s; promover a cooperação entre Norte e Sul na solução das crises.
Estes são compromissos de todos!
Dom Itacir
Brassiani msf
Bispo
Diocesano de Santa Cruz do Sul
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