Marcos 11,1-11:
Jesus, o empregado de todas e de
todos, vem montado num animal de carga
Abrir
os olhos para ver
Esse texto
fala da grande manifestação popular em favor de Jesus no Domingo de Ramos.
Sentado num jumento, animal de carga, Jesus entra em Jerusalém, capital do seu
povo. Os discípulos, as discípulas e povo romeiro, vindos da Galileia, o
aclamam como messias. Mas o povo da capital não participa. Apenas assiste, e as
autoridades nem aparecem. A romaria termina na praça do Templo, a praça dos
poderes. Parece uma passeata que termina diante da catedral e do Palácio do
Planalto. Também hoje há manifestações populares. As suas reivindicações
revelam o sofrimento do povo e a sua indignação frente às injustiças. Nem todos
participam, pois têm medo. A maioria apenas assiste.
Situando
Finalmente,
após uma longa caminhada de mais de 140 quilômetros, desde a Galileia até
Jerusalém, a romaria está chegando ao seu destino. A cena se passa em
Jerusalém, símbolo central da religião (Sl 122,3). No início do bloco, está o
gesto simbólico de Jesus: aclamado pelo povo peregrino, ele entra na cidade
montado num jumentinho, animal de carga.
A caminhada de
Jesus e seus discípulos era também a caminhada das comunidades no tempo em que
os evangelistas escreviam o seu evangelho: seguir Jesus, desde a Galileia até
Jerusalém, desde o lago até o calvário, com a dupla missão de denunciar os
donos do poder que preparam a cruz para quem os desafia e de anunciar ao povo
sofrido a certeza de que um mundo novo é possível. Esta mesma caminhada
continua até hoje.
Comentando
A chegada em
Jerusalém
Jesus vem
caminhando, como romeiro no meio dos romeiros! O ponto final da romaria é o
Templo, onde mora Deus! Em Betânia ele faz uma parada. Betânia significa Casa
da Pobreza. Era um povoado pobre fora da cidade, do outro lado do Monte das
Oliveiras. De lá, Jesus organiza e prepara a sua entrada na cidade. Ele manda
os discípulos buscar um jumentinho, um jegue, animal de carga, para poder
realizar um gesto simbólico.
A ajuda dos
discípulos e das discípulas
Os discípulos
fazem como Jesus tinha mandado, e tudo acontece conforme o previsto. Eles
encontram o jumentinho e o levam até Jesus. E alguns dos que ali se encontravam
perguntaram: "Por que vocês estão soltando o jumentinho?" E eles
responderam: "Jesus está precisando!" Todos nós somos como o
jumentinho, animal de carga. Jesus precisa de nós.
A entrada
solene na Cidade Santa
Jesus monta o
jumentinho e entra na cidade, aclamado pela multidão de peregrinos e pelos
discípulos. Na cabeça deles está a ideia do messias rei glorioso, filho de
Davi! Eles acreditam que, finalmente, o Reino de Davi tenha chegado e gritam:
"Bendito o Reino que vem de nosso pai Davi!" Jesus aceita a
homenagem, mas com reserva. Montado no jumentinho, ele evoca a profecia de
Zacarias que dizia: "Teu rei vem a ti, humilde, montado num jumento. O
arco de guerra será eliminado" (Zc 9,9-10). Jesus aceita ser o messias,
mas não o messias rei glorioso e guerreiro que os discípulos imaginavam. Ele se
mantém no caminho do serviço, simbolizado pelo jumentinho, animal de carga.
Jesus ensina agindo. Os discípulos, que procurem entender o gesto de Jesus, mudem
de ideia e se convertam!
Alargando
As romarias do
povo e os salmos de romaria
As romarias
para Jerusalém eram feitas três vezes ao ano, nas três grandes festas: Páscoa,
Pentecostes e Tabernáculos (cf. Ex 23,14 e 17). Dos lugares mais distantes os
romeiros vinham caminhando. Alguns faziam cinco, seis ou mais dias de viagem.
Vinham para Jerusalém, a capital, "a cidade grande e bela, para onde tudo
converge" (cf. Sl 122,3-4). As romarias eram momentos de confraternização
e de muita alegria: "Fiquei foi contente, quando me disseram: Vamos para a
Casa do Senhor!" (Sl 122,1). Nestas longas viagens, o povo rezava e
cantava os Salmos de Romaria. Jesus também os rezou, junto com os peregrinos da
Galileia, nesta sua última romaria para a Casa de Deus, em Jerusalém.
Os
"Salmos de Romaria" formam uma coleção de 15 salmos dentro do
saltério, do Salmo 120 até o Salmo 134. São salmos pequenos. O povo que rezava
quando subia para o Templo de Jerusalém em peregrinação. Por isso, chamados
"Cânticos das Subidas". Eles diziam: "Vinde! Vamos subir ao
Monte de Javé!" (Is 2,3). "Vamos subir a Sião, a Javé, nosso
Deus!" (Jr 31,6).
Apesar de
pequenos, os Salmos de Romaria possuem uma grande riqueza. São uma amostra de
como o povo rezava e se relacionava com Deus. Eles ajudam o povo a perceber os
traços de Deus nos fatos da vida. Transformam tudo em prece, mesmo as coisas
mais comuns da vida de cada dia. De um jeito bem simples, revelam a dimensão
divina do quotidiano. Ajudam a perceber e a rezar a dimensão divina do humano.
Também eram
chamados "Cânticos dos Degraus". Provavelmente por causa da majestosa
escadaria de 15 degraus que dava acesso ao Templo de Jerusalém. Daí, talvez, a
razão de a coleção ter exatamente 15 salmos.
A subida pelos
15 degraus da escadaria do Templo era uma imagem e um resumo da própria
romaria, desde o povoado até Jerusalém. E ambas, tanto a subido como a romaria,
eram um símbolo ou uma imagem da caminhada de cada pessoa em direção a Deus.
Quando,
finalmente, após longa caminhada, o romeiro chega ao Templo e experimenta algo
da presença de Deus, as palavras já não bastam para dizer o que se vive. Então,
o gesto das mãos completa o que falta nas palavras. Isto transparece nos Salmos
de Romaria. Assim, no último salmo, gesto e palavra se unem para expressar o
que se vive: "Levantem as mãos para o santuário e bendigam a Javé!"
(Sl 134,2).
Ao longo dos
salmos de romaria, os mesmos pensamentos e sentimentos aparecem e reaparecem,
do começo ao fim. Eles indicam a direção da oração, o rumo do Espírito. Eis uma
lista que pode servir como chave de leitura para nós.
1.
O pano de fundo que percorre estes salmos é a experiência
libertadora do Êxodo e do Exílio;
2.
São orações em que agricultores expressam e rezam a sua vida e
os seus problemas;
3.
Transparece nas imagens usadas uma situação de violenta opressão
e de exploração do povo;
4.
Em alguns destes salmos, se passa do eu para o nós, o que revela
a integração na comunidade;
5.
Neles se expressa a alegria intensa da confraternização dos
romeiros em Jerusalém;
6.
O Templo ocupa um lugar importante na vida do povo, lugar de
encontro com Deus;
7.
A ambivalência da monarquia e da cidade de Jerusalém: centro
que atrai e que oprime;
8.
Um grande desejo de paz e de liberdade percorre quase todos
estes salmos;
9.
Não usam ideias rebuscadas, mas transformam em prece as coisas
comuns da vida;
10. No centro de
tudo, no começo e no fim, está a fé em "Javé que fez o céu e a
terra".
Mercedes Lopes
e Carlos Mesters
http://www.cebi.org.br/noticias.php?secaoId=1¬iciaId=5515
Nenhum comentário:
Postar um comentário