Como Jesus, o discípulo vive para amar e para servir!
Não
desperdicemos esta quarta e insuperável lição na escola da caminhada pascal.
Começamos acompanhando Jesus no deserto e aprendendo a vencer as tentações.
Subimos com ele no Tabor para apreder a lição da humildade e do serviço. Fomos
com ele ao templo e pedimos que ele tire da nossa vida toda superficialidade,
falsidade e autoritarismo. Neste quarto domingo da quaresma, peçamos que ele
nos ensine a não lamentar débitos nem exigir créditos. “Vocês foram salvos pela
graça”, insiste Paulo, e isso para que ninguém se encha de orgulho. Deus é
misericórdia, e nos ama sem medida.
Um juíz
implacável, impassível, sem coração, sempre pronto a defender a lei e a
pronunciar sentenças irreversíveis: essa é a imagem de Deus que muitos cristãos
têm e pregam. Mas, no Evangelho deste domingo, Jesus diz claramente que Deus
enviou seu Filho ao mundo para salvá-lo, para conduzi-lo à vida, e não para
condená-lo. A gratuidade do
amor de Deus é que nos salva. Precisamos experimentar e testemunhar o Evangelho
do serviço no contexto da luta por um Estado que evite e combata a corrupção e
que se coloque a serviço do bem comum, da dignidade dos mais pobres.
Como nos
custa entender que Deus não se deixa guiar pela lógica do poder, da
indiferença, da punição... É incrível a facilidade com que os homens (sim, no gênero
masculino!) que dirigem nações e igrejas e se apresentam como procuradores da
justiça e de Deus sentam na cadeira como juízes, cadeira que o próprio Jesus
recusou. Com que frequência nos escondemos por trás de máscaras de benfeitores
e imparciais, prontos a denunciar o cisco no olho dos outros sem darmo-nos
conta do nosso próprio lixo... Definitivamente, não é esta a postura e o Evangelho
de Jesus Cristo!
O rosto
do Messias enviado por Deus e feito carne em Jesus de Nazaré é otro, sua
prática é diferente e aponta outros caminhos. Ele recusa a cadeira de juiz e se
senta ao lado dos acusados, como aliado e defensor. Isso é evidente desde a
estrebaria, onde os pastores desprezados foram os primeiros a visitá-lo, até a
cruz, quando o próprio Jesus foi trocado por um condenado e compartilhou o
calvário com outros dois. O Filho de Deus desceu todos os degraus e veio ao
encontro do ser humano no nível mais baixo, no lugar de culpado e de devedor. E
o fez de braços abertos, acolhendo e servindo a todos.
O que
deve nos impressionar não é o fato de que Jesus tenha subido ao céu, mas que
Deus tenha descido definitivamente à terra. E ele desceu tanto que, mais que
assumir a frágil e contraditória condição humana, assumiu a carne dos
condenados para declará-los justificados. Em Jesus, Deus desceu tanto, que entrou
solidariamente no inferno vivido pelos condenados a uma vida que tem mais
parece um lento processo de morte. Desceu
tanto que o levantaram numa cruz! É para esse homem, levantado na cruz dos
malditos e entre dois condenados, que somos chamados a voltar nosso olhar.
Jesus diz
que “Deus amou de tal forma o mundo
que entregou seu Filho único...” Ele ama o mundo em sua globalidade, sem
distinguir culpados ou inocentes, homens ou mulheres, devedores ou merecedores.
Em Jesus Cristo a glória de Deus se manifesta de forma clara e inequívoca, e
essa glória não é outra coisa que o amor que se faz dom e acolhida sem nenhum
tipo de condição ou exigência. Ele nos deu a vida “quando estávamos mortos por
causa de nossas faltas”, sublinha Paulo. Em Jesus Cristo a libertação é
radical, gratuita e incondicional, mas é também geradora gratuidade.
Este rio
de graça, este Sol de justiça que nos vem de Deus em Jesus Cristo começa a
agir desmascarando nossos pretensos merecimentos, avança revelando nossa
verdade mais profunda e termina capacitando-nos a agir como homens e mulheres
novos. “Fomos criados para as boas obras” diz São Paulo, e precisamos nos
ocupar delas. Crer é aderir à proposta de Jesus. E aderir a Jesus Cristo
significa crer na dignidade inerente a cada pessoa humana e nas suas
possibilidades positivas, e esse é o caminho da vida. Não temos outro caminho que
possa nos levar com segurança à vida e à liberdade.
Deus pai e mãe, lento para a cólera e rico em misericórdia: Como é imenso o amor com que amas a
nós e ao mundo! Enviaste teu filho amado para que, sendo por ele servidos,
aprendêssemos a servir com a mesma generosidade! Dá-nos um amor intenso, lúcido e servidor, a fim de que sejamos
capazes de dar continuidade a este dinamismo que salva e renova mundo,
empenhando-nos na defesa do bem comum. Não permitas que sentemos e choremos passivamente nossos desterros, mas
coloca-nos a caminho para reconstruirmos o mundo na força do teu amor. Amém!
Assim seja!
Pe. Itacir Brassiani msf
(2° Livro das Crônicas 36,14-23 * Salmo 136 (137) *
Carta aos Efésios 2,4-10 * Evangelho de João 3,14-21)
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