DOM HELDER E A CNBB
Nas proximidades de mais uma assembléia da CNBB, foi
divulgada nestes dias uma notícia que promete muitos desdobramentos. Trata-se
do processo de beatificação de Dom Helder. Ele abre caminho para invocar Dom
Helder como santo brasileiro, a quem poderemos confiar tantas causas
importantes de nosso país, pelas quais ele lutou em sua vida.
Antes que ninguém, a CNBB poderá se habilitar a ter
Dom Helder como seu padroeiro. Sua figura já se encontra no salão de reuniões
na sede da CNBB em Brasília. Ninguém mais que Dom Helder soube encarnar
as causas da CNBB.
A história se encarrega de comprovar a estreita
ligação que existiu entre Dom Helder e a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil. Foi ele que teve a iniciativa, e levou em frente a idéia de constituir
uma entidade que congregasse, oficialmente, os Bispos da Igreja Católica no
Brasil.
Era no começo dos anos 50. Dom Helder tinha a viva
experiência de como era importante a articulação dos leigos do Brasil, através
da Ação Católica. A partir desta constatação, projetou sua hipótese, que ele
passou a sonhar com crescente determinação. Se os leigos podiam se articular,
muito mais os bispos poderiam multiplicar sua atuação, se contassem com uma
entidade que lhes desse respaldo jurídico e permitisse uma estratégia de ação.
Quando ainda não era Bispo, Dom Helder foi a Roma,
onde esperava confiar sua utopia para alguém que ajudasse a fazê-la acontecer.
Providencialmente, encontrou a pessoa certa. Conheceu
o Monsenhor Montini, o futuro Papa Paulo VI. Ambos foram falar com Pio XII, e
de imediato perceberam o incentivo que o Papa lhes dava.
Daí nasceu a decisão de se criar a CNBB. Com
desenvoltura e lucidez, elaboraram o estatuto provisório, que foi dando forma à
nova entidade, que passou cedo a ser reconhecida pelo povo, através de sua
sigla, que logo foi adquirindo notoriedade.
De tal modo que, já em 1952, dez anos antes do início
do Concílio, os Bispos do Brasil já tinham sua entidade representativa, que
permitia agirem de modo mais eficaz e articulado.
A CNBB mostrou sua validade, especialmente durante o
Concílio, quando sua experiência de articulação ajudou muito o desenrolar
do próprio Concílio. Ela guardará sempre a marca de Dom Helder. Foi ele que a
imaginou, e foi ele que a conduziu durante muitos anos como Secretário Geral.
Agora, a abertura do processo de beatificação vem
ratificar a importância da CNBB, que vai aprimorando sua atuação, assimilando a
experiência dos anos.
Vincular Dom Helder com a CNBB é cultivar nossa
consciência histórica, sempre tão importante para discernir os novos apelos que
a realidade nos apresenta.
Junto com Dom Helder poderíamos colocar uma plêiade de
outros Bispos, beneméritos por sua atuação e seu testemunho de vida. Um deles
devemos citar quando falamos de Dom Helder. E´ Dom Luciano. Ele também já está
em vias de ser beatificado, sendo sua causa assumida pela Arquidiocese de
Mariana. Entre os dois, a Providência colocou caprichosamente suas pegadas.
Tanto Dom Helder, como Dom Luciano, morreram no dia 27 de agosto. Dom Helder em
1999. Dom Luciano em 2006.
Para concluir hoje esta breve evocação de Dom
Helder, convém lembrar outro grande bispo latino americano, que finalmente será
beatificado no próximo mês de maio. E´ Dom Oscar Romero, bispo de El Salvador.
Ele foi morto quando celebrava a eucaristia, no dia 24 de março de 1980.
Bem vindas as beatificações que nos permitem
recuperar a memória de nossa caminhada. È uma honra, e um
compromisso, incluir em nossa história a lembrança de pessoas tão marcadas pela
graça de Deus.
Dom Romero, Dom Helder, Dom Luciano, e tantos outros,
rogai por nós!
D.
Demétrio Valentini
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