Sigamos Jesus, com
olhos abertos e coração generoso!
Avançamos
no mês que a Igreja dedica à animação missionária. Irmãos e irmãs
extraordinários nos acompanham: Santa Teresinha, São Francisco, Santa Teresa,
São Lucas, Santo Inácio de Antioquia... Eles nos estimulam a discernir nossa
vocação na Igreja e assumir nossa missão no mundo. Como cristãos, não podemos
ficar sentados à beira da estrada. Diante da Palavra de Deus que chama,
precisamos levantar com coragem, deixar de lado aquilo que nos amarra, pedir
que se abram nossos olhos, e pôr o pé na estrada, a fim de que todas as pessoas
sejam reconhecidas em sua dignidade.
Somos
movidos pelo desejo, não importa o nome com o qual o batizamos. O desejo
insaciável de plenitude faz com que a pessoa humana se coloque a caminho e com
ele se identifique. Apagar este desejo, ou substituí-lo pela rasteira
satisfação proporcionada pelo consumo de bens fugazes, equivale a começar a
morrer. O ser humano só fica sentado à beira da estrada quando ainda não
alcançou sua própria maturidade ou quando tem roubada a sua dignidade. Só quem
ousa caminhar para além da situação presente é capaz de recusar uma vida
sustentada por migalhas de bem-estar.
O desejo
mobilizador e criador é também o lugar do encontro com Deus. Quem busca Deus
fora desta insaciável sede de plenitude acaba encontrando ou fabricando ídolos
que só fazem amedrontar os viventes e devorar vidas. É Deus quem nos fez assim,
misturando o pó da terra ao sopro divino. E é nessa abertura radical e que nada
pode preencher que ele costuma vir ao nosso encontro, acolhendo-a não como
sinal de nossos limites, mas como expressão do infinito que nos habita. É também
do adorável fundo desta condição de criaturas desejantes que brota a verdadeira
oração.
Não
esqueçamos que é na oração que revelamos nossos verdadeiros e mais profundos
desejos. O que é que andamos pedindo nas orações pessoais e celebrações
comunitárias? Dirigimo-nos a Deus como se ele fosse um substituto do falido
sistema de saúde, pedindo que não deixe que a doença se hospede em nós ou nos
nossos familiares? Confiamos a ele a frágil economia da nossa família e
imploramos que dê segurança às nossas poupanças? Talvez cheguemos até a pedir
paz, segurança e sucesso à nossa Igreja na concorrência com as demais
denominações, que tratamos como concorrentes...
Pobres
desejos esses!... Não passam de necessidades, reais ou fantasiosas, geradas no
ventre do medo. Por isso, quando se trata de oração, não é suficiente pedir com
insistência: é preciso desejar e pedir com ousadia e corretamente grandes
coisas! Venha a nós o vosso Reino! Seja feita a vossa vontade! Renova a face da
terra!... O cego Bartimeu, que pede esmolas à margem do caminho, começa pedindo
compaixão àquele que carrega nas próprias entranhas as esperanças dos pequenos.
Antes de manifestar propriamente um desejo, expressa sua própria condição de
dor e alienação.
Apesar da
contrariedade dos que o circundam e seguem, Jesus pára e se dirige ao cego e
mendigo: “O que você quer que eu faça por você?” Encorajado pelos discípulos, Bartimeu balbucia um pedido que vem
do fundo da condição humana, que espanta todos os medos e exorciza as
limitações: “Mestre, eu quero ver de novo!” Neste pedido, ele resume todas as
suas necessidades e desejos: ver claramente as coisas, avaliar com retidão os
acontecimentos, vislumbrar o Reino de Deus chegando como graça, reconhecer a
presença de Deus nos pequenos e grandes gestos de serviço solidário...
Pouco
antes, um jovem rico havia voltado atrás, entristecido, porque era refém dos
próprios bens (cf. Mc 10,17-22), e os filhos de Zebedeu expressaram seus sonhos
de poder. Mas Bartimeu se livra do único meio de sobrevivência que possui e se
aproxima de Jesus. E é essa fé ativa e dinâmica que abre seus olhos. “Pode ir,
a sua fé curou você!” E ele não volta para casa, como seria de se esperar, mas
põe-se a seguir Jesus. É muito diferente do jovem rico, que voltou atrás
desiludido, e de João e Tiago, que desejam os primeiros lugares. Os primeiros
são os últimos, e os últimos são os primeiros!
Jesus de Nazaré, peregrino no santuário
das dores e sonhos humanos! Escuta o grito que brota das entranhas da terra e
abre os nossos olhos para podermos reconhecer-te passando por nossos caminhos.
Desamarra nossos pés, para que sigamos teus passos. Converte a tua Igreja, para que ela não ignore os
desejos e sonhos que movem a humanidade, e desperta nela novas formas de
cooperação missionária. E que ninguém cale em nós o grito desse desejo, mais
forte que todas as razões, mais glorioso que todas as luzes, mais vivo que
todas as cores, mais nobre que todas as honras. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Profeta
Jeremias 31,7-9 * Salmo 125 (126) * Carta aos Hebreus 5,1-6 * Evangelho de São
Marcos 10,46-52)
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