Bartimeu, o cego de Jericó,
discípulo modelo para todos nós (Mc 10,46-52)
COMENTANDO
Finalmente,
após longa travessia, chegam a Jericó, última parada antes da subida para
Jerusalém. O cego Bartimeu está sentado à beira da estrada. Não pode participar
da procissão que acompanha Jesus. Mas ele grita, invocando a ajuda de Jesus:
"Filho de Davi! Tem dó de mim!" O grito do pobre incomoda. Os que vão
à procissão tentam abafá-lo. Mas "ele gritava mais ainda!" E Jesus, o
que faz? Ele escuta o grito, para e manda chamá-lo! Os que queriam abafar o
grito incômodo do pobre, agora, a pedido de Jesus, são obrigados a ajudar o
pobre a chegar até Jesus.
Bartimeu larga
tudo e vai até Jesus. Não tem muito. Apenas um manto. Mas era o que tinha para
cobrir o seu corpo (cf. Ex 22,25-26). Era a sua segurança, o seu chão! Jesus
pergunta: "O que você quer que eu faça?" Não basta gritar. Tem que
saber por que grita! "Mestre, que eu possa ver novamente!" Bartimeu
tinha invocado Jesus com ideias não inteiramente corretas, pois o título
"Filho de Davi" não era muito bom.
O próprio
Jesus o tinha criticado (Mc 12,35-37). Mas Bartimeu teve mais fé em Jesus do
que nas suas ideias sobre Jesus. Assinou em branco. Não fez exigências como
Pedro. Soube entregar sua vida aceitando Jesus sem impor condições. Jesus lhe
disse: "'Tua fé te curou!' No mesmo instante, o cego recuperou a
vista". Largou tudo e seguiu Jesus no caminho para o Calvário (10,52).
Sua cura é
fruto da sua fé em Jesus (Mc 10,46-52). Curado, Bartimeu segue Jesus e sobe com
ele para Jerusalém. Tornou-se discípulo modelo para Pedro e para todos os que
queremos "seguir Jesus no caminho" em direção a Jerusalém: acreditar
mais em Jesus do que nas nossas ideias sobre Jesus! Nesta decisão de caminhar
com Jesus estão a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz. Pois a
cruz não é uma fatalidade, nem uma exigência de Deus. Ela é a consequência do
compromisso assumido com Deus de servir aos irmãos e de recusar o privilégio.
ALARGANDO
A fé é uma
força que transforma as pessoas
A Boa Nova do
Reino anunciada por Jesus era como um fertilizante. Fazia crescer a semente da
vida que estava escondida no povo, escondida como fogo em brasa debaixo das
cinzas das observâncias sem vida. Jesus soprou nas cinzas e o fogo acendeu, o
Reino desabrochou e o povo se alegrou. A condição era sempre a mesma: crer em
Jesus.
A cura de Bartimeu
(Mc 10,46-52) esclarece um aspecto muito importante da longa instrução de Jesus
aos discípulos. Bartimeu tinha invocado Jesus com o título messiânico
"Filho de Davi" (Mc 10,47). Jesus não gostava deste título (Mc
12,35-37). Porém, mesmo invocando Jesus com ideias não inteiramente corretas,
Bartimeu teve fé e foi curado.
Diferentemente
de Pedro (Mc 8,32-33), acreditou mais em Jesus do que nas ideias que tinha
sobre Jesus. Converteu-se, largou tudo e seguiu Jesus no caminho para o
Calvário (Mc 10,52). A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém
pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no
caminho do serviço, desde a Galiléia até Jerusalém.
Quem insiste
em manter a ideia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai
entender de Jesus e nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo.
Quem souber crer em Jesus e fazer a "entrega de si" (Mc 8,35),
aceitar "ser o último" (Mc 9,35), "beber o cálice e carregar sua
cruz" (Mc 10,38), este, como Bartimeu, mesmo tendo ideias não inteiramente
corretas, conseguirá enxergar e "seguirá Jesus no caminho" (Mc
10,52). Nesta certeza de caminhar com Jesus estão a fonte da coragem e a
semente da vitória sobre a cruz.
Carlos
Mesters e Mercedes Lopes
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