A doutrina do profeta precursor como um novo Elias estava baseada na
expectativa da vinda do Messias. Os doutores da lei ensinavam que antes da
chegada do Messias deveria haver um grande arrependimento do povo (Mt 11.10).
Em diferentes comentários os rabinos mencionavam as profecias de Ml 3.1; 4.5-6
e Is 40.3 e as utilizavam para enfatizar a necessidade de arrependimento e
conversão.
Apesar disso, fariseus e doutores acreditavam que chegariam ao Messias
através da observância da tradição. Desde o exílio, as autoridades religiosas
preocupavam-se com a restauração da nação. A expectativa sempre foi grande.
Manter o moral alto, porém, sempre foi uma grande dificuldade. Sucessivas
derrotas políticas e militares criaram uma enorme insatisfação. Diríamos hoje
que o povo estava frustrado. É a crise de identidade. Naquela época, essa crise
se manifestava com maior intensidade, já que para se chegar ao Messias era
necessária a tradição.
Por isso, João afirmava que na radicalização da chegada do Senhor não
mais era fator de segurança ser da descendência de Abraão (v. 9). Exigia-se,
antes de tudo, metanoia. Podemos
imaginar o impacto dessa afirmação! De repente, a segurança de fariseus e
doutores ia por água abaixo.
Batismo
com água — batismo com o Espírito Santo e com fogo
Já no pós-exílio, o judaísmo adotara o batismo como admissão de
prosélitos a uma nova experiência religiosa. Com certeza, essa experiência não
era exclusiva da religiosidade judaica. Banhos de purificação eram comuns a
diversas culturas, religiosas ou não.
Água lava e purifica. Tira sujeiras. Carrega consigo o mau cheiro. Metanoia aponta para a purificação
simbolizada no batismo de arrependimento em águas correntes. Aí está a
diferença entre o batismo de João e os demais batismos. Estes apontavam para a
iniciação ressaltando a pureza ritual. João destaca a pureza moral. Banhar-se
no batismo de João era declarar-se arrependido.
Mas o que João quer dizer sobre o batismo com o Espírito Santo e com
fogo de Jesus? Aí está a radicalidade dos profetas. Na sua visão escatológica, João
aponta para a justiça. Quem passar pelo fogo estará salvo. É uma nova nação de
gente boa. Quem não passar pelo fogo, queimará (...) em fogo inextinguível (v.
12).
Fogo no Evangelho de Mateus enfatiza conceitos fundamentais, como justiça
e lei. O que importa em Mateus é agir. Este é o critério definitivo. Os
verdadeiros discípulos de Jesus o seguem, não apenas o ouvem. Seguir é caminhar
após, nos mesmos princípios do Mestre.
Batismo
no fogo exige envolvimento
“Não se enganem; não sejam apenas ouvintes dessa mensagem, mas ponham em
prática o que ela manda. Porque aquele que ouve a mensagem e não a pratica é
como a pessoa que olha no espelho e vê como ela é. Dá uma olhada, depois vai
embora e logo se esquece da sua aparência. Mas quem examina bem a lei perfeita
que dá liberdade às pessoas e continua firme nela não é somente ouvinte mas
praticante do que essa lei manda. E Deus abençoará tudo o que essa pessoa
fizer. (Tg 1.22-25.)
Roberto N. Baptista
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