Preparemos o Natal semeando e cultivando a
Esperança!
O profeta
Isaías nos ajuda a entender que a esperança dos cristãos vem a partir de baixo
da pirâmide social e das margens dos sistemas de poder. Num tempo em que Israel
vivia a tragédia de uma monarquia que dava às costas ao povo, sufocando seus
direitos sob o rumor ritmado das botas do exército, Isaías convida este mesmo
povo a fixar seu olhar em algo que está por acontecer: “Um broto vai surgir do
toco que restou de Jessé... Ele julgará os fracos com justiça, dará sentenças
em favor dos pobres da terra... A justiça será o cinto que ele usa, a verdade o
cinturão que ele não deixa...”
Parece
incrível, mas o profeta diz que não se deve esperar mais nada da monarquia, que
é preciso voltar ao toco de Jessé, ao pai de Davi, às origens populares da
liderança. O futuro não está nas mãos do sucessor de plantão, mas nas
iniciativas promissoras e alternativas de uma comunidade-broto que se deixa inspirar pelo Espírito de Javé, que
afirma o direito dos fracos e humilhados, que só é implacável com os
opressores. Nesse povo-novo não há
relações violentas ou dominadoras: o lobo hospeda o cordeiro, o leão dorme ao
lado do cabrito, as crianças brincam tranquilamente com as serpentes...
João
Batista retoma este sonho de Isaías e diz que a realização dessa utopia não
está longe. “O Reino dos céus está próximo!” Na verdade, o reinado de Deus já
está em ação, e pede que entremos no seu dinamismo. É porque Deus está fazendo
novas todas as coisas que precisamos converter-nos. O dinamismo da conversão
parte da boa notícia de que Deus continua dando seu aval aos anseios mais caros
e preciosos da humanidade. Em tempos de Advento, a conversão se expressa na
alegre descoberta de que algo estupendo está acontecendo e pede a nossa
colaboração!
Por isso,
na linha da pregação de João Batista, a preparação para o Natal vai muito além
de uma bela decoração das casas, ruas e templos. A esperança que nos anima não
se baseia nos privilégios de classe ou raça, nem se reduz a algumas preces a
mais ou a uma confissão rápida e superficial. Às elites religiosas, desejosas
de manter a aparência de piedade e de correção sem mudar as práticas opressoras,
João Batista grita: “Produzi fruto que mostre vossa conversão. O machado está
posto à raiz das árvores. Toda árvore que não der fruto bom será cortada e
jogada no fogo.” Restarão apenas todos secos...
Preparar
os caminhos do Senhor em tempos de direitos humanos e sociais ameaçados
significa afirmar o direito de toda
pessoa à vida e à segurança, à liberdade de pensamento, de consciência e
de religião; proclamar que nenhuma pessoa pode ser mantida em
escravidão, submetida à tortura ou tratada ou castigada de forma cruel,
desumana ou degradante; garantir que toda pessoa possa participar da vida cultural da
comunidade, fruir as artes e participar do processo científico e de seus
benefícios; assegurar aos trabalhadores uma remuneração justa e satisfatória,
que lhes assegure uma vida digna...
Ancorado
na própria experiência, Paulo a Palavra de Deus foi escrita para que sejamos
fortalecidos e mantenhamo-nos firmes na esperança, considerando que de Deus nos
vem a concórdia e a harmonia. Permanecer firme na esperança tem pouco a ver com
a crença numa utopia intimista ou escapista. Nas palavras ousadas de Jesus,
Deus reina quando os últimos se tornam os primeiros e os primeiros passam para
o fim da fila. A firmeza da esperança que nos mantém constantes é sustentada
pela fé em Jesus Cristo crucificado e no Reino que ele anunciou, celebrou e
realizou.
Pedindo
nosso empenho pessoal no entendimento e na acolhida recíproca, Paulo nos exorta
à vivência da acolhida e do entendimento entre os diferentes: católicos e
evangélicos, cristãos e não cristãos, crentes e ateus engajados na construção
de um outro mundo. Tendo como que um só coração e uma só voz, glorificaremos o
Deus e Pai de Jesus Cristo, aquele que vem ao nosso encontro em Belém. Pessoas
e grupos diferentes são todos vocacionados a glorificar e servir a Deus, cada
um a seu modo! Será que os sonhos e as
dores compartilhadas, como essa da tragédia que abateu inteiramente a equipe de
futebol da Chapecoense, não têm força para colocar juntos até lobos e
cordeiros, crianças e serpentes?
Ó Pai, queremos renascer a partir de baixo, de mãos
dadas com todos aqueles que nada contam para os grandes. Ajuda-nos a mudar
nosso modo de ver e de pensar, os critérios de avaliação e as prioridades de
ação. Convence-nos de que não podemos descansar enquanto todos os seres humanos
não forem reconhecidos em sua dignidade e tratados como dignos membros da única
família. Mediante a palavra e o testemunho de João Batista, convence-nos de que
não podemos apelar aos privilégios sociais, culturais e religiosos, e
ensina-nos a sonhar coisas novas, como sonhou e viu o profeta Isaías. Assim
seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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