A fé em Jesus nos leva
a continuar sua missão libertadora!
O belo e
sério diálogo de Jesus com seus discípulos, descrito hoje pelo evangelista,
transcorre originalmente na noite da última ceia, após o lava-pés. O clima é de sincera amizade e de apreensão
frente às ameaças; de serena alegria da parte de quem se entrega inteiramente, e
de inquietante dúvida de quem não consegue entender o caminho do serviço; de grande
perturbação dos discípulos, e de Jesus também! É neste clima que Jesus fala de
um lar cálido e com muitos lugares, do caminho para o Pai, da presença do Pai
na sua vida e nas suas ações.
Como os
discípulos depois da ceia de aliança e despedida, às vezes nos sentimos
envolvidos por nuvens tenebrosas. Como
no atual momento vivido pelo povo brasileiro, o horizonte utópico se escurece, nossas
forças de resistência se esvaem, não sabemos o rumo que devemos seguir e nada
parece disposto a hospedar nossos sonhos. É neste contexto que Jesus promete:
“Existem muitas moradas na casa do meu Pai!”
Podemos estar seguros de que, no coração de Deus há um lugar para
aqueles que percorrem o caminho do êxodo, rumo a uma terra onde a justiça beija
a paz.
Aqueles
que queremos chegar ao Pai e ao mundo por ele sonhado temos um caminho seguro:
este caminho é o próprio Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, aquele que coloca os
últimos em primeiro lugar, que acolhe enobrecido o perfume que uma mulher malvista
derrama nos seus pés, que se reparte no pão, que se ajoelha para lavar os pés
dos discípulos, que nos ama como amigos e amigas, que perdoa o ladrão
arrependido... Este é o Caminho seguro que leva infalivelmente ao Pai.
Naquilo
que diz e naquilo que faz, Jesus Cristo é também a Verdade que nos acalma e
enche de alegria. A verdade sobre a pessoa humana e sobre Deus! A verdade mais
profunda do ser humano é sua capacidade de ternura e solidariedade. A verdade
mais profunda de Deus é sua aliança e lealdade com seu povo, sua companhia
insuperável. Esta é uma verdade que exerce uma incrível atração sobre nós, que
lança-nos para fora e para frente, e não é algo de que podemos nos apropriar.
Em tudo o
que fez e viveu, inclusive no aparente abandono sofrido na cruz, Jesus estava
no Pai e o Pai estava nele. Ele aprendeu e ensinou aos seus discípulos que não
há alimento mais saudável e nutritivo que realizar a vontade libertadora de
Deus, e é isso que significa estar no Pai. Ele agiu sem medo, cansaço ou
limites no resgate da dignidade e da vida das pessoas necessitadas, e isso quer
dizer que Deus estava nele. É por isso que, respondendo ao convite do salmista,
exultamos de alegria.
A
comunidade apostólica nos mostra claramente que a fé em Jesus é dinamismo para
agir e intuição para criar. Nenhuma pessoa necessitada deve ficar sem auxílio e
nenhuma comunidade pode ficar sem anúncio da Boa Notícia. Pelo testemunho de ajuda aos pobres em suas
necessidades e pelo anúncio explícito dos apóstolos, a Palavra do Senhor se
espalha, corre o mundo, é assimilada por diversas pessoas e culturas. É esta
Palavra que ressoa hoje com sabor de novidade na celebração dominical. E é ela
que nos alimenta e nos constitui discípulos missionários!
Pedro
fala de Jesus como de uma pedra rejeitada pelos construtores, mas preciosa para
Deus e para aqueles que acreditam nele. Aquele homem que os poderes do mundo
rejeitaram é acolhido como mais digno e precioso por Deus. Aquele homem crucificado
e achincalhado é a própria imagem viva de Deus. Naquele homem vindo da
periférica Nazaré e da suspeita Galileia, que sentou à mesa com pecadores, que
defendeu prostitutas, que curou pessoas impuras, estava vivo e ativo o próprio
Deus.
Na
intuição de Pedro, somos todos pedras vivas que, unidas a Jesus Cristo, a pedra
angular, são indispensáveis na construção do templo vivo no qual a vida plena é
a mais bela oferta a Deus. Somos um povo comprado a preço de ouro por Deus,
constituídos como povo eleito, sacerdócio de sangue real e nação santificada,
que mostra e faz a diferença num mundo dividido. Deus trata como povo amado e
especial aqueles que os poderes e instituições tendem a considerar como nada ou
uma nulidade.
Deus Pai e Mãe, dá-nos a criativa fidelidade e a
responsável liberdade dos discípulos da primeira hora. Afasta de nós o medo da
inovação, o receio de defender vítimas e denunciar os que oprimem. Corrige na
tua Igreja o mau-gosto de situar-se comodamente ao lado dos poderosos e a
tendência de pensar que a pluralidade vital é relativismo total. Não deixes que
a tua Igreja se perturbe diante da complexidade, dos desafios e das
possibilidades do mundo. E ajuda-nos a
continuar a obra de Jesus. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 6,1-7 * Salmo 32 (33) * Primeira
Carta de S. Pedro 2,4-9 * Evangelho de São Joao 14,1-12)
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