quarta-feira, 7 de junho de 2017

ANO A – SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE – 11.06.2017

A Trindade Santa é mistério de comunhão, amor e compaixão!
Quando dizemos que Deus é mistério estamos nos referindo a um Aonde e a um Alguém que faz com que nos sintamos em casa, estáveis e seguros; que nos supera, envolve e protege de um modo absolutamente gratuito e acolhedor; que nos arranca de nós mesmos e nos abre ao outro; que vence a nossa passividade e nos põe a caminho.  Se o qualificamos como mistério é porque, em sua profundidade, nos espanta e, ao mesmo tempo, nos seduz e nos leva além de nós mesmos e além do tempo presente. Bendito seja Deus Pai, Filho e Espírito Santo, porque é grande seu amor por nós!
Quando intuiu este mistério inominável e inapreensível, Moisés “curvou-se até o chão”, prostrado pelo espanto de um amor tão imerecido quanto desproporcional: descobriu que Aquele que dá sentido e substância ao nosso ser é “misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel”, lento e vazio de cólera e punição. Moisés imaginava encontrar Deus subindo a montanha e conservá-lo na lei escrita na pedra fria, mas eis que Ele se manifesta descendo e caminhando no meio do povo...
É insuficiente e falsa a imagem de um Deus pronto a punir o menor dos desvios de criaturas que ele mesmo chamou à vida. É uma parcialidade mal-intencionada ensinar que Deus “não deixa nada impune, castigando a culpa dos pais nos filhos e netos, até a terceira e quarta geração” e, ao mesmo tempo, omitir que “ele conserva a misericórdia por mil gerações, e perdoa as culpas, rebeldias e pecados”. O próprio e original na revelação cristã é o perdão e a compaixão, e não a punição.
Deus é Pai e Mãe, ou Vida e Amor que nos antecede, Deus antes de nós. Deus é Filho, ou vida e amor compartilhados, Deus conosco. Deus é Espírito, ou vida e amor em nós, ou Deus em nós e em todas as criaturas, ao ritmo da história. O amor se caracteriza por chamar à vida e dar proteção, e nunca por limitar ou diminuir a vida. “Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu filho único, para que todo aquele que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna...”
É verdade que simplesmente dizer que Deus é Amor não resolve tudo. Esta palavra anda tão inflacionada quanto desgastada. Em nome do amor se cometem loucuras e são feitas promessas que não duram mais que uma curta noite de verão. Porém, amor é mais um verbo que um substantivo, e para falar responsavelmente dele devemos ter diante dos olhos o percurso histórico de Jesus de Nazaré: “sabemos o que é o amor, porque Jesus deu a sua vida por nós” (1Jo 3,16).
No coração da melhor teologia desenvolvida pelo cristianismo está a convicção de que Deus não é um conceito que precisamos compreender mais ou menos exaustivamente, nem uma doutrina que precisamos aceitas mais ou menos resignadamente, mas um mistério que merece nossa adoração. A teologia, pelo menos a boa teologia, está sempre a serviço da evangelização, ou seja: a questão substancial não é compreender uma teoria mas salvar ou transformar as pessoas e o mundo.
Em Jesus Cristo, Deus se revela não apenas dizendo e ensinando algo sobre si mesmo, mas principalmente agindo, salvando: acolhendo pecadores, alimentando famintos, curando doentes, resgatando a cidadania dos excluídos. Assim, Jesus Cristo revela um Deus que não é prisioneiro dos códigos de pedra ou de papel, que não assume a postura de um juiz distante e imparcial, mas um Deus que ama, que afirma o direito dos sem-direito, que age e julga em favor dos oprimidos.
Eis o caminho da Igreja, nascida para prosseguir a ação de Jesus Cristo: ser mais pastora que cuida da vida das ovelhas mais frágeis e menos professora que ensina leis e doutrinas; sair do limbo dos princípios gerais e vazios e comprometer sua honra influência na defesa de quem é ameaçado e explorado; engajar-se na urgente missão de salvar o mundo com a força do Evangelho e com os recursos do próprio mundo, evitando uma postura autossuficiente de julgamento e condenação. É preferível uma Igreja suja pela inserção no mundo que uma Igreja doente por causa do comodismo, diz o Papa.
Deus querido e amável, Compaixão que não conhece ocaso, Abraço que não conhece limites, Comunhão que acolhe as diferenças, Amor que brilha no esvaziamento: glória a ti nas alturas celestes; glória a ti nos caminhos da história; glória a ti na intimidade das criaturas. Em ti somos, nos movemos e existimos. Tu és o Ventre de onde viemos, o Caminho que percorremos e a Pátria pela qual anelamos. Ensina-nos a compartilhar a vida e o clamor dos irmãos e irmãs de todos os gêneros, gerações e religiões. E que a graça, o amor e a comunhão corram soltas nas veias da tua Igreja. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
 (Livro do Êxodo 34,4-9 * Profecia de Daniel 3,52-56 * Segunda Carta aos Coríntios 13,11-13 * Evangelho de São João 3,16-18)

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