A Trindade Santa é
mistério de comunhão, amor e compaixão!
Quando
dizemos que Deus é mistério estamos
nos referindo a um Aonde e a um Alguém que faz com que nos sintamos em
casa, estáveis e seguros; que nos supera, envolve e protege de um modo
absolutamente gratuito e acolhedor; que nos arranca de nós mesmos e nos abre ao
outro; que vence a nossa passividade e nos põe a caminho. Se o qualificamos como mistério é porque, em
sua profundidade, nos espanta e, ao mesmo tempo, nos seduz e nos leva além de nós
mesmos e além do tempo presente. Bendito seja Deus Pai, Filho e Espírito Santo,
porque é grande seu amor por nós!
Quando
intuiu este mistério inominável e inapreensível, Moisés “curvou-se até o chão”,
prostrado pelo espanto de um amor tão imerecido quanto desproporcional:
descobriu que Aquele que dá sentido e substância ao nosso ser é “misericordioso
e clemente, paciente, rico em bondade e fiel”, lento e vazio de cólera e
punição. Moisés imaginava encontrar Deus subindo a montanha e conservá-lo na
lei escrita na pedra fria, mas eis que Ele se manifesta descendo e caminhando
no meio do povo...
É
insuficiente e falsa a imagem de um Deus pronto a punir o menor dos desvios de
criaturas que ele mesmo chamou à vida. É uma parcialidade mal-intencionada
ensinar que Deus “não deixa nada impune, castigando a culpa dos pais nos filhos
e netos, até a terceira e quarta geração” e, ao mesmo tempo, omitir que “ele
conserva a misericórdia por mil gerações,
e perdoa as culpas, rebeldias e pecados”. O próprio e original na revelação
cristã é o perdão e a compaixão, e não a punição.
Deus
é Pai e Mãe, ou Vida e Amor que nos antecede, Deus antes de nós. Deus é Filho, ou vida e amor compartilhados, Deus conosco. Deus é Espírito, ou vida e
amor em nós, ou Deus em nós e em
todas as criaturas, ao ritmo da história. O amor se caracteriza por chamar à
vida e dar proteção, e nunca por limitar ou diminuir a vida. “Pois Deus amou de
tal forma o mundo, que entregou o seu filho único, para que todo aquele que
nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna...”
É
verdade que simplesmente dizer que Deus é Amor não resolve tudo. Esta palavra
anda tão inflacionada quanto desgastada. Em nome do amor se cometem loucuras e
são feitas promessas que não duram mais que uma curta noite de verão. Porém,
amor é mais um verbo que um substantivo, e para falar responsavelmente dele
devemos ter diante dos olhos o percurso histórico de Jesus de Nazaré: “sabemos
o que é o amor, porque Jesus deu a sua vida por nós” (1Jo 3,16).
No
coração da melhor teologia desenvolvida pelo cristianismo está a convicção de
que Deus não é um conceito que
precisamos compreender mais ou menos exaustivamente, nem uma doutrina que precisamos
aceitas mais ou menos resignadamente, mas um mistério que merece nossa adoração. A teologia, pelo menos a boa
teologia, está sempre a serviço da evangelização, ou seja: a questão
substancial não é compreender uma teoria mas salvar ou transformar as pessoas e
o mundo.
Em
Jesus Cristo, Deus se revela não apenas dizendo e ensinando algo sobre si
mesmo, mas principalmente agindo, salvando: acolhendo pecadores, alimentando
famintos, curando doentes, resgatando a cidadania dos excluídos. Assim, Jesus
Cristo revela um Deus que não é prisioneiro dos códigos de pedra ou de papel,
que não assume a postura de um juiz distante e imparcial, mas um Deus que ama,
que afirma o direito dos sem-direito, que age e julga em favor dos oprimidos.
Eis o
caminho da Igreja, nascida para prosseguir a ação de Jesus Cristo: ser mais
pastora que cuida da vida das ovelhas mais frágeis e menos professora que
ensina leis e doutrinas; sair do limbo dos princípios gerais e vazios e
comprometer sua honra influência na defesa de quem é ameaçado e explorado;
engajar-se na urgente missão de salvar o mundo com a força do Evangelho e com
os recursos do próprio mundo, evitando uma postura autossuficiente de
julgamento e condenação. É preferível uma Igreja suja pela inserção no mundo
que uma Igreja doente por causa do comodismo, diz o Papa.
Deus querido e amável, Compaixão que não conhece ocaso,
Abraço que não conhece limites, Comunhão que acolhe as diferenças, Amor que
brilha no esvaziamento: glória a ti nas alturas celestes; glória a ti nos caminhos
da história; glória a ti na intimidade das criaturas. Em ti somos, nos movemos
e existimos. Tu és o Ventre de onde viemos, o Caminho que percorremos e a Pátria
pela qual anelamos. Ensina-nos a compartilhar a vida e o clamor dos irmãos e
irmãs de todos os gêneros, gerações e religiões. E que a graça, o amor e a
comunhão corram soltas nas veias da tua Igreja. Assim seja! Amém!
Itacir
Brassiani msf
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