quinta-feira, 1 de junho de 2017

ANO A – SOLENIDADE DE PENTECOSTES – 04.06.2017

A diversidade é uma bênção que vem do Espírito Santo!
A experiência do Espírito Santo é coroamento do evento pascal. Reunidos em comunidade, pedimos que o Espírito renove em nós os prodígios que realizou no início do cristianismo. Nosso pedido mais intenso é que o Sopro de Deus nos dê respiro e vida; ensine-nos a testemunhar e anunciar o Reino de Deus na língua das diversas culturas; aumente nosso apreço pela diversidade; derrube os muros que nossos medos e prepotências ergueram; abra as portas das nossas igrejas e as empurre para a missão; enfim: convoque todos homens e mulheres de boa vontade para a imensa caravana que luta em favor da vida.
O Espírito Santo é dom, presença gratuita e força vital de Deus nas suas criaturas e nos caminhos da história. Ele suscita e sustenta a comunhão entre o Pai e o Filho; possibilita e mantém a comunhão dos cristãos entre si e com Cristo, sua cabeça; possibilita a comunhão entre as diferentes Igrejas; abre todas as criaturas para a interdependência e colaboração essencial e vital. E cumpre esta obra maravilhosa criando e sustentando a riqueza da diversidade. Um mundo uniforme seria feio, frio, falso, morto...
A diversidade de línguas e culturas também é dom do Espírito, bênção de Deus e uma forma de proteger a humanidade. Sendo uma e única, a humanidade vê, sente, pensa, age, trabalha, crê, celebra e se comunica mediante diferentes linguagens. A imposição de um pensamento único é meio caminho para construir impérios que asseguram a dominação dos mais fortes e espertos sobre os mais fracos. O próprio Deus dispersa os povos e arruína os projetos de implantar uma cultura uniforme e prepotente.
Mas será que podemos afirmar isso também em relação às religiões e Igrejas cristãs? Jesus é muito aberto em relação às diferenças religiosas: mesmo sendo judeu, ele respeita o movimento samaritano e demonstra apreço pela postura religiosa de pessoas pagãs. Chega a dizer que o que importa não é a religião, mas a prática e a lealdade (cf. Jo 4,23). E as primeiras comunidades cristãs seguem o mesmo rumo, louvando a Deus pela experiência e pelos valores espirituais de gente de diferentes religiões.
Na evangelização e na ação pastoral, o valor da diversidade se expressa na inculturação. Não deixa de impressionar como o relato dos Atos dos Apóstolos sublinha que cada um os diferentes grupos étnicos e culturais reunidos em Jerusalém na manhã do pentecostes escuta a pregação dos apóstolos na sua própria língua de origem (cf. At 2,6.8.11). É isso que causa, além de uma certa confusão nas mentalidades muito arrumadinhas, muito espanto e admiração. O que impressiona é propriamente a diversidade!
Outra importante expressão da presença ativa do Espírito Santo no mundo e nas pessoas são os vínculos de amor, amizade e solidariedade. Onde o Espírito é acolhido, as pessoas isoladas se reúnem, os membros formam um corpo. É uma comunhão que ultrapassa os indivíduos e se estende às coletividades humanas, às organizações sociais e a todas as criaturas. O Espírito impede que sejamos fragmentos desarticulados, perdidos no tempo e no espaço. Ele nos transforma em corpo e equipe!
Mas o Espírito Santo não se coaduna com o silêncio omisso, com o individualismo espiritual, com a submissão medrosa ou com a passividade irresponsável. Ele é a força de ação de Deus na história, a força da ação libertadora de Jesus Cristo. Ele nos é enviado como dinamismo missionário, como capacidade de gerar o homem novo e a nova sociedade: partilhar o pão, curar doenças, perdoar e acolher pecadores, anunciar o Evangelho, denunciar as opressões, partir em missão. O Espirito suscita a profecia!
Finalmente, segundo o Evangelho, os discípulos são enviados por Jesus com o “Sopro” do Espírito para, como ele, “tirar o pecado do mundo”: para superar e eliminar as práticas de dominação em si mesmos e nas instituições sociais, políticas e religiosas. E isso com sentido de urgência, sem deixar para depois, pois o pecado que for tolerado continuará produzindo seus frutos amargos. Nada de portas fechadas, nem de braços cruzados! A afirmação da diversidade vai de mãos dadas com a comunhão e a missão!
Deus, Pai justo e Mãe compassiva, fonte da diversidade, origem e meta da missão: como nossos pais e mães o fizeram no passado, esperamos e suplicamos pelo precioso dom do teu Espírito. Que ele venha como Vento que arrasta o pó acumulado pelas velhas leis, estruturas, ritos e posturas. Que ele venha como força de Comunhão respeitosa e benfazeja de povos, culturas, religiões, Igrejas e movimentos. Que ele nos chegue como Terremoto que acorda e desestabiliza uma Igreja que dorme e se sente segura.  Que ele nos visite como Fogo que incinera o lixo da corrupção e do moralismo interesseiro. Que ele venha com a suavidade da Brisa que celebra a diversidade e revigora quem quase perdeu a esperança. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Atos dos Apóstolos 2,1-11 * Salmo 103 (104) * 1ª. Carta aos Coríntios 12,3-7.12-13 * Evangelho de S. João 20,19-23)

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