Uma escola orgulhosa de ser humana, técnica, familiar
e rural
A impressão é de que eles não passam de
crianças... Inicialmente calados e arredios, quase sempre miúdos e sempre
negros, o grupo de 40 adolescentes que frequenta a Escola Familiar Rural de Mecuburi
(EFR) vem das diversas aldeias e comunidades rurais da seca região de Mecuburi,
Muite, Ratane e Milhana. Nessa escola muito original em sua pedagogia, esses
adolescentes recebem formação integral, com ênfase nos aspectos humano,
agrícola e pecuário, durante três anos.
Missionarios em Mecuburi: Pe. Celso, Edina, Pe. Pedro e Raphael |
O projeto da Escola Familiar Rural de
Mecuburi nasceu praticamente junto com comunidade dos Missionários da Sagrada
Família em Moçambique. Mas a ideia é mais antiga, e nasceu há mais de 50 anos
na Bélgica, de onde se espalhou pelo mundo (inclusive no Brasil). Baseada no princípio
associativo e cooperativo, envolve estudantes, pais e educadores voluntários
num grande e frutuoso mutirão educativo, alternando duas semanas de internato e
estudo na escola com duas semanas de trabalho na própria família, para dialogar
com o saber tradicional herdado e mantido pelos pais.
Coube ao então Fr. Valdecir Rossa fazer
os primeiros encaminhamentos da EFR de Mecuburi. Entretanto, o trabalho mais
complexo e pesado foi assumido posteriormente pelo Ir. Edilson Frey, secundado
pelo Pe. Neiri Segala. Com o apoio de entidades parceiras da Europa, várias
construções, simples mas dignas, foram surgindo no terreno seco em frente à
casa da missão, na periferia de Mecuburi. Hoje são várias construções
independentes que abrigam salas de aula, administração, dormitórios, refeitório
e cozinha, criadouro de suínos, cabras e aves, ferraria, armazém e outros, além
do viveiro de mudas, da horta e das plantações (ou machambras, como fala o povo
moçambicano).
Esta escola, que se orgulha se ser
familiar e rural, humanista e técnica, acolhe estudantes que já tenham completado
a 7° série, provindos prioritariamente do meio rural, foi inaugurada em janeiro
de 2013, e teve como seu primeiro diretor o próprio Ir. Edilson. De janeiro de
2014 a agosto de 2017, foi dirigida pela Edina Lima, missionaria leiga que faz
parte da comunidade missionaria de Mecuburi, e já formou três turmas – num
total de 102 jovens – que hoje cultivam a terra com suas famílias ou prosseguem
seus estudos noutras escolas. Alguns até se tornaram monitores da própria EFR!
Graças à “pedagogia da alternância”
(duas semanas, em regime de internato, na escola, e duas semanas na família) a
EFR tem condições de acolher concomitantemente duas turmas de até 40 estudantes,
50% meninos e 50% meninas. É fácil perceber como essa escola acaba se tornando
um interessantíssimo espaço de amizade e socialização desses adolescentes que,
de outro modo, teriam dificuldades de romper com o duro isolamento nas aldeias
rurais. Para muitos deles, é a oportunidade de conhecer a luz elétrica e a
televisão, de fazer três refeições por dia e descobrir o mundo das letras. Graças
à seriedade e qualidade pedagógica e administrativa, a EFR de Mecuburi vem
granjeando a confiança e o reconhecimento do povo e das autoridades da região.
Parte dos atuais alunos da Escola Familiar Rural de Mecuburi |
Desde o dia 1° de setembro de 2017, a
EFR de Mecuburi está sob a direção do jovem missionário leigo Raphael Alves,
que, como a Edina Lima, vem do Centro Oeste do Brasil. Mas a comunidade
missionaria como um todo – padres Pedro Léo e Celso, leigos Edina e Raphael) –
tem consciência de que a escola é um dos projetos mais queridos preciosos da
missão patrocinada pelos Missionários da Sagrada Família em Mecuburi, e disso
se orgulham. Por isso, de um ou outro modo, todos estão envolvidos com a
escola, os professores e os estudantes.
Atualmente, a EFR de Mecuburi é mantida
por uma bela rede de cooperadores: convenio com o Governo de Moçambique, que
cede alguns equipamentos e professores; apoio financeiro de algumas entidades
europeias, especialmente para a construção ou melhoria do espaço físico;
doações eventuais de amigos e parceiros do Brasil; trabalho voluntario dos
missionários, religiosos e leigos; e, principalmente, pela AMISAFA – Ação
Missionaria da Sagrada Família. Que todos os colaboradores da AMISAFA se
alegrem e orgulhem em saber que sua sempre preciosa colaboração ajuda na
formação e na melhoria da vida dos adolescentes de Moçambique!
Itacir Brassiani msf
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