
Sentimentos
natalinos em terras moçambicanas
Passar
a festa do Natal como estrangeiro é uma experiência que já vivi em 2014. Entretanto,
desta vez ela está tendo outros tons. Moçambique em si mesmo está sendo uma
experiência que me surpreende a cada dia, sejam as pessoas, seja a
natureza.
A
primeira coisa que percebi nestas terras é que a festa do Natal é mais
intimista. Não há toda aquela comercialização em volta dos presentes, da
decoração. Isso acontece na cidade, Nampula, como também no distrito aonde
vivo, Mecubúri.
Aqui
em Mecubúri eu vi apenas um enfeite de natal, uma árvore, precariamente
enfeitada, na frente do hospital. Espero que a festa do nascimento de
Jesus não se perca por entre as luzes e os enfeites, e que ela seja
realmente uma memória. E não somente por estas terras, mas também em todos
os rincões onde esta mensagem chegar.
O
nascimento de Jesus faz memória da nossa humanidade: somos e fazemos parte
do húmus da terra! Está na nossa essência, deve estar no íntimo do nosso
ser a percepção de que fazemos parte de toda a natureza.
Jesus
não é só Deus, Ele também é homem. E esta humanidade de Jesus deve ser
exemplo para nós, de como sermos humanos! Olhemos ao nosso redor e
percebamos a real importância das relações e das coisas, e, se for preciso
jogar fora as coisas que atrapalham e se afastar das relações que impedem
de vivermos a nossa humanidade com integridade, que o façamos! Com o nascimento
de Jesus, precisamos lembrar a verdadeira forma de sermos humanos!
O
nascimento de Jesus faz memória da nossa família: Deus enviou seu Filho para
nascer no seio de uma família. Maria e José acolheram ao pequeno Jesus
com todo o seu amor. Jesus nasceu frágil, precisando de todos os cuidados
possíveis. O ser humano é uma das criaturas que nascem dependendo
inteiramente de seus pais. Eis a importância da família. Dentro da família
encontramos compreensão para as nossa fragilidades; força para as nossas
fraquezas; aceitação e respeito pelas nossas diferenças! É na família que
devemos encontrar a verdadeira fortaleza do amor e da fé. A verdadeira
felicidade deve se encontrar no seio da família.
Por
isso, não podemos deixar que a inveja, o dinheiro, a ganância, as brigas,
separem a nossa família. Deus está em cada uma de nossas famílias. Não
podemos ser família só nas festas, não podemos ser família só no Natal,
não podemos ser família só nas alegrias, devemos e precisamos ser família
em e para todos os momentos! Uma família pode ser frágil, mas tornar-se-á
forte através de suas relações amorosas!
Jesus
faz parte da nossa família. O nascimento de Jesus faz memória das nossa
relações. Jesus teve inúmeras relações de amizade, de vizinhança, de comunidade,
entre outras. Teve relações boas, mas também teve relações que o
machucaram. Entretanto nunca maldisse a nenhum daqueles com quem se
relacionou. Sempre os chamou para a verdade, para que eles mesmos
percebessem aonde estavam errando.
Assim também
devemos ser nós, em nossas relações. Temos amigos de perto e de longe, amigos
virtuais, amigos do trabalho. Todos eles nos demonstrando a riqueza de se
ter um amigo. Muitas vezes nenhum destes amigos, nenhum familiar está
perto que nosso vizinho! Precisamos dos nossos vizinhos! Eles podem ser “a
ajuda certa, nas horas incertas”. Precisamos nos afastar das relações que nos
fazem mal, mas sem ódio ou rancor em nossos corações, pois, quem sabe, um dia
precisaremos destas pessoas, ou elas venham a precisar de nós. Ai está o
ensinamento de Jesus, o perdão! É
necessário perdoar em nossas relações. Perdoar não requer julgamentos, requer
amor! E amor foi o que Jesus mais entregou aos seus!
O
nascimento de Jesus faz memória do amor: “amai-vos uns aos outros como eu
vos amei” (Jo 13, 34). O grande mandamento de Jesus. Ele nos ensinou que devemos
amar a todos. Infelizmente na atual realidade queremos escolher quem amar.
E assim, deixamos tantas pessoas de fora, pela cor da sua pele, pela sua denominação
religiosa, por sua orientação sexual, pela quantia de dinheiro que possui,
por ser estrangeiro, por ser de um determinado partido político.
Relegamos estas
pessoas as margens, mas esquecemos, ou queremos esquecer que Jesus sempre
andou pelas margens! Aqueles que a sociedade da época de Jesus dizia que não
prestavam, era com estes que Ele demonstrava todo o seu Amor! Precisamos recuperar
o nosso verdadeiro amor, que não está nas aparências e sim na essência das
pessoas. Precisamos reconhecer o amor uns nos outros. Um amor que traz a
paz em tempos de divisões.
A
divisão não causa a ruina de uma empresa, de uma família, de uma
comunidade. O amor une e facilita todas as relações. Entretanto amar não é
fácil, pois o amor requer que a gente saia das nossas casas e vá em
direção daqueles que excluímos por qualquer motivo. O Amor quer que
estejamos unidos e caminhando todos juntos. Um caminhar que não é fácil. Precisamos
lembrar que a felicidade não reside no fim do caminho, mas na sua
trajetória!
Minha
querida família, meus queridos amigos! Não importa o seu credo,
o
que você acredita ser o Amor, precisamos fazer memória de tudo que nos foi
ensinado! Desde que vim para as terras moçambicanas, a minha fé tem mudado,
a minha percepção do amor, da família, da amizade tem mudado para melhor.
Esta mensagem são ensinamentos que a mãe África me ofereceu. Não deixemos
que as nossas relações se percam! Não deixemos que o Amor se torne uma
moeda de troca e algo sem importância.
É
com muitas saudades que lhes deixo os meus votos de Feliz natal e um Feliz
Ano Novo. Que possamos deixar o Amor entrar em nossas vidas e transformar
tudo!
Fr. Ricardo Klock msf
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