segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

ANO C | TEMPO DO NATAL | SOLENIDADE DE MARIA, MÃE DE DEUS | 01.01.2019


A paz é uma flor que desabrocha entre as pedras da violência...
Na celebração cristã do Novo Ano se entrelaçam três temas: o começo de um novo ano civil, a maternidade de Maria e a Jornada Mundial pela Paz. Mesmo atordoados pelos fogos e champanhes do réveillon, não esqueçamos que um ano novo, marcado pela Paz, não costuma chegar da noite para o dia. As novidades promissoras e duradouras são gestadas sempre muito pacientemente no ventre profundo da história e das pessoas de boa vontade, daquelas que acolhem os dons e convites que vêm dos desertos, das periferias e das fronteiras; são dons que desestabilizam e põem a caminho.
Paulo recorda aos cristãos de Gálatas e de todos os tempos que Deus nos enviou seu Filho quando o tempo se cumpriu e chegou à maturidade. Nascendo de Maria, o Filho de Deus desceu e se igualou às criaturas marcadas pelas limitações. Mas também nos resgatou do domínio escravizador das leis e instituições e nos deu a adoção filial e a liberdade. Desde então, vivemos na liberdade dos filhos e filhas, e o Espírito derramado em nossos corações nos pacificou e nos deu a possibilidade de clamar a Deus como os filhos se dirigem ao pai e à mãe. Não somos mais escravos, mas filhos e herdeiros!
Quando acolhido, Jesus de Nazaré pacifica o mundo e gera relações novas, baseadas na justiça e na fraternidade. E ele cumpre a promessa de Deus e a nossa esperança através de cada um de nós, das pessoas de boa vontade, dos líderes autênticos e das organizações que não se resignam à paz aparente, à paz baseada no equilíbrio de forças ou no terrorismo estatal. “Deus te abençoe e te guarde! Deus mostre seu rosto brilhante e tenha piedade de ti! Deus mostre seu rosto e te dê a paz!” Falando assim, seremos princípios e príncipes da Paz, mesmo que ela tenha que desabrochar entre as pedras da violência (Charles Péguy).
Hoje contemplamos a chegada dos pastores à gruta Belém. Eles encontram Jesus no seio de uma família pobre e migrante. Ficam vivamente impressionados com o que veem, e comparam com tudo aquilo que tinham ouvido. E conseguem compreender este mistério de um Deus a quem não apraz a força dos cavalos ou dos tanques, dos cortejos de acólitos, das doutrinas e dos códigos de direito... Deus se alegra com o despojamento solidário de quem se faz próximo e peregrino com os deslocados e sem-lugar e, por isso, como os pastores, volta louvando e glorificando a Deus por tudo o que vê e ouve.
Jesus recebe o nome proposto pelo mensageiro de Deus a Maria no anúncio-convite. Ele se chama boa notícia da salvação: Deus salva seu povo do pecado. Estamos livres do pagamento do débito que temos conosco mesmos e com os outros por não conseguirmos realizar a utopia que realmente sonhamos. Estamos livres da culpa de termos ficado aquém, ou de termos errado o alvo. Deus não fica esperando que cheguemos heroicamente a ele. Ele mesmo vem decididamente ao nosso encontro. Ele é nossa Paz! E é claro que, sendo perdoados e pacificados, tornamo-nos agentes do perdão e operadores da paz.
Mas, mesmo que alguns torçam o nariz em protesto, precisamos lembrar que a construção da paz passa também pela Política! É isso que o Papa Francisco sublinha na sua mensagem para o Ano Novo. Ele diz que os vícios da vida pública, ou da política – entre os quais está a corrupção, a negação dos direitos humanos, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a justificação do poder pela força e pelo arbítrio, a xenofobia, o racismo e a falta de respeito ao meio ambiente – minam a credibilidade dos sistemas nos quais se realizam e a autoridade dos agentes públicos. Será que o Papa é mais um comunista?
Por outro lado, diz o Papa, a boa Política está a serviço da Paz, na medida em que respeita e promove os direitos humanos fundamentais, base sobre a qual se constrói o vínculo de confiança e gratidão entre os povos e entre as gerações. “Não são sustentáveis os discursos políticos que tendem a acusar os migrantes como culpados de todos os males e a privar os pobres da esperança”, diz ele. A paz deve ser cultivada na relação consigo mesmo (superação da impaciência e da intransigência), na relação com o outro (ousar o encontro, para acolher e escutar o outro) e com a criação (cuidando do ambiente como cuidamos da família).
Bem-aventurado o político que tem uma profunda consciência do seu papel social. Bem-aventurado o político que irradia credibilidade. Bem-aventurado o político que trabalha para o nem comum e não para si mesmo. Bem-aventurado o político que permanece fielmente coerente. Bem-aventurado o político que realiza a unidade. Bem-aventurado o político comprometido com a mudança radical. Bem-aventurado o político que sabe escutar. Bem-aventurado o político que não tem medo. (Dom François Xavier Van Thuan)
                                                                                                                       Itacir Brassiani msf
Livro dos Números 6,22-27 | Salmo 66 (67)
Carta de São Paulo aos Gálatas 4,47 | Evangelho de São Lucas 2,16-21

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