sábado, 22 de dezembro de 2018

ANO C | TEMPO DO NATAL | CELEBRAÇÃO DA MANHÃ | 25.12.2018

E a Palavra de Deus se fez carne e veio morar em nós!

A Palavra de Deus se fez carne e quis morar entre nós. O Poder de Deus se fez fragilidade e nos consolou em nossos insuperáveis limites. A Promessa de Deus se fez acontecimento e deu fundamento à nossa esperança. Deus abandonou para sempre os palácios da inacessibilidade e se aproximou do humano ser. Deus nos revelou que é pai e não lhe agradam os espíritos puros nem o puro espírito, e mergulhou na corporeidade humana. Fazendo-se carne e assumindo a história e suas tensões, Deus se revelou boa notícia a ser acolhida com fé e anunciada com os pés, com as mãos, com o corpo inteiro, falando, silenciando, adorando e agindo.
Tudo isso se condensa naquela cocheira onde os animais buscavam alimento, naquela mesa na qual Jesus se repartiu e entregou sacramentalmente, naquela cruz onde ele radicalizou a doação de si e selou a aliança que Deus firma e confirma com a humanidade. Em Jesus, Menino e Profeta, a lei (do eterno retorno, de levar vantagem em tudo, de quem pode mais chora menos) perdeu sua importância, e nós é dada graça sobre graça, pois a verdade deixou de ser veredicto que nos condena. Nele e no seu frágil corpo de bebê, o que fora palavra profética fez-se palpável e adquiriu glória e esplendor. E o humano é adorado até pelos anjos!
Benditos e belos são os pés dos homens e mulheres que sobem montanhas e descem abismos, percorrem estradas e atravessam mares, levando a todas as criaturas essa boa notícia! Diante desse alegre anúncio, alicerçado na experiência e no testemunho, até os sisudos guardas, habituados a vigiar, denunciar e punir, exultam e cantam; e as cidades, aldeias e acampamentos em ruínas, assim como o povo arruinado por seculares e múltiplas opressões, despertam, abrem os olhos lacrimejantes e ensaiam passos de uma dança que lhes parecia impossível. Belos e benditos são os pés dos discípulos missionários que partem de Belém!
Belos e benditos são os pés e os passos de Maria, que não permaneceu amedrontada ou extasiada diante do anúncio do mensageiro de Deus, que não ficou dando voltas em torno de si mesma e de seus méritos. Seus pés apressados obedeceram à voz do seu coração e a levaram a abraçar afetuosamente Isabel, a quem serviu e dedicou três meses de trabalho. Belos e benditos são os pés de quem, acolhendo o entendimento do velho Zacarias, deixa-se iluminar pelo Sol da Justiça e permite que ele dirija seus passos nos caminhos da paz. Benditos e belos são os pés dos missionários que também hoje partem e se tornam o próximo de muitos!
Em Nazaré e em Belém, na Galileia e em Jerusalém, o Senhor desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações. No espaço doméstico e menosprezado da casa de Isabel, contemplando as marcas da ação misericordiosa de Deus no velho corpo de Isabel e no seu próprio e jovem corpo, Maria proclama exultante que Deus mostra o poder do seu braço dispersando os orgulhosos, derrubando os poderosos e exaltando os humildes. Zacarias, alguns meses depois, confirma que, graças às mãos misericordiosas de Deus, fomos salvos e libertos do domínio dos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam. Belo e bendito braço de Deus!
No Menino Deus, despojadamente aninhado na manjedoura, cercado por pessoas que não fogem dos ambientes miseráveis como o são grutas e estábulos, Deus se faz corpo e carne falante e brilhante, palavra encarnada, silente e eloquente, lança luz sobre e revela a verdade de todo ser humano: somos desde sempre amados e queridos por Deus, e toda a humana ação é ação de Deus, assim como o descaso ou a agressão à pessoa humana é indiferença e agressão ao próprio Deus. Não é esquecendo e desprezando o corpo que nos assemelhamos a Deus, mas assumindo-o como lugar e mediação da manifestação de Deus.
No amável mistério do Natal, somos introduzidos no dinamismo do reinado de Deus, do corpo que se faz notícia boa, que luta e serve, que abraça e aquece, que estremece de medo e de alegria, que se reparte em mil pedaços para se reunificar na divina compaixão. A Palavra vem para quem a ela pertence, e nós queremos acolhê-la, em toda a sua beleza e profundidade. Precisamos determo-nos diante dela, da Palavra revestida de fraldas, para contemplar e compreender a glória de Deus que nela brilha. Nela resplandece a proximidade e a condescendência de Deus. Nela brilha a bondade e a generosidade que nos faz humanos.
Deus despojado, Deus próximo, Deus amável! Dobrando os joelhos diante do mistério da encarnação do teu Filho, adorando o inefável mistério do teu amor sem limites, pedimos: desamarra nossos braços, para que participem da tua ação que liberta os oprimidos; move nossos passos, para que levem a Boa Notícia da encarnação a todas as pessoas; imprime tua Palavra em todas as nossas células, ações e projetos, para que sustentemos as melhores lutas e embalemos o novo mundo na força da tua Palavra. Assim seja! Amém!
                                                                                                    Itacir Brassiani msf
Profecia de Isaías 52,7-10 | Salmo 97 (98)
Carta de São Paulo aos Hebreus 1,1-6 | Evangelho de São João 1,1-18

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