A Palavra de Deus nos
ajuda a viver com mais liberdade e lucidez!
Acabamos de
celebrar a ‘Semana da Pátria’, e sobraram apelos vazios ao amor patriota e
afirmações cínicas de defesa da soberania nacional, enquanto avança um criminoso
programa de desmonte do país e cassação dos direitos sociais. A figura de um
presidente tosco disfarça um programa de lesa-pátria. E Jesus Cristo, Palavra
viva de Deus, chama a nossa atenção para as consequências da palavra dada e
para os custos da realização das nossas decisões. Temos mesmo disposição de ir
a fundo no seguimento de Jesus?
Nosso momento
cultural não valoriza a prudência e o planejamento. A caderneta de poupança,
com seu apelo a economizar, é coisa do passado. Hoje, reina absoluto o cartão
de crédito, com seu permanente e sedutor convite a gastar sem planejamento, a
seguir apenas os insaciáveis desejos de consumo. O que predomina e se impõe
como regra é curtir e saborear a fundo o momento presente, sem preocupação com
princípios e hábitos formulados por outros no passado, nem com aquilo que
acontecerá no futuro.
Nesse
ambiente, o seguimento responsável e maduro de Jesus Cristo sofre ameaças.
Precisamos nos perguntar se nossa decisão de seguir Jesus Cristo tem fundamento.
É claro que, para a maioria dos fiéis, o início da caminhada na fé cristã não
está ligada a uma decisão pessoal, consciente e madura. Recebemos a fé cristã e
católica misturada ao leite da mãe, ligada aos hábitos da nossa vizinhança,
conjugada com a cultura transmitida pela escola. Seguimos esta estrada porque
nos parecia a única, e o fizemos como ovelhas indiferenciadas de um rebanho.
Era difícil e custoso trilhar outras sendas.
Mas, graças a
Deus, nós crescemos, e os tempos mudaram. O pluralismo das opções que batem à
nossa porta ou se oferecem aos nossos olhos todos os dias nos interpelam à
aventura noutras estradas, ou a dar razões para permanecer naquela que sempre
trilhamos. E hoje sabemos que o Evangelho nos pede prudência e avaliação
crítica diante de atitudes e projetos que se travestem de sabedoria e se
apresentam falsamente como religiosos e promotores de libertação. Jesus Cristo,
com seu projeto de vida para todos, pede uma ruptura radical com a busca de
vantagens individuais ou restritas a pequenos grupos.
Estar com
Jesus e seguir seus passos supõe a decisão por uma específica escala de
valores: a honra pessoal, a aceitação pública, a segurança dos bens e os
próprios vínculos familiares são secundários em relação à prioridade absoluta
da solidariedade com as vítimas, da abertura ao outro. A Palavra viva de Deus,
feita carne em Jesus, nos mostra por onde andar. Tomar a cruz e caminhar com
Jesus significa estar disposto a enfrentar a rejeição dos grandes e poderosos,
libertar-se da busca infantil de cargos e honras e contar com a possibilidade
do fracasso dos empreendimentos pessoais e institucionais.
Preferir Jesus
Cristo ao pai, à mãe, à mulher ou marido e aos filhos e filhas significa viver
as relações familiares fora dos moldes patriarcais, no horizonte da geração de
um mundo de irmãos (como testemunha Paulo em relação a Onésimo e Filemon). É o
próprio Jesus quem adverte: “Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se
não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.” Está claro que o
problema não é possuir alguns bens, cultivar vínculos de amizade ou consumir de
modo maduro e consciente, mas deixar-se dominar totalmente pelos bens e pelo
consumo, como se o sentido da nossa vida dependesse disso.
O seguimento
de Jesus comporta renúncias e rupturas. A renúncia aos bens limitados ou
aparentes é um meio para percorrer com mais autenticidade um caminho que conduz
à vida abundante, tanto para si mesmo como para os outros. Renunciar a tudo
significa limpar a casa, abrir espaço, ordenar as prioridades e orientar-se
pela compaixão misericordiosa proposta de Jesus, colocar Deus e o Outro acima
de tudo. Jesus é a Palavra de Deus que nos desinstala e chama à conversão. Sua
proposta está longe de ser um anestésico barato. O caminho para a humanidade
nova tem seus custos, e nós precisamos avalia-los e contabiliza-los!
Jesus de Nazaré, irmão maior nos caminhos para
uma humanidade irmanada e reconciliada, ensina-nos a avaliar bem as
possibilidades e exigências do nosso tempo. Alimenta-nos e ilumina-nos com a
tua Palavra, para que nossa consciência não permaneça anêmica ou anestesiada
diante dos imensos desafios que a situação do Brasil nos apresenta. Ajuda-nos a
compreender as exigências do seguimento dos teus passos e a renunciar a tudo o
que possa nos afastar de ti. E que teu apóstolo e nosso irmão Paulo nos
estimule a lançar as sementes da igualdade nas terras de um mundo ainda
tragicamente desigual. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário