Mudança de hábitos
“Mudança
de Hábito” é o nome de uma comédia que foi grande sucesso de bilheteria. Lançado
em 1992, o filme é estrelado por Whoopi Goldberg, competente atriz negra estadunidense.
Mas não é sobre cinema que eu quero refletir nessa coluna semanal. A mudança de
hábitos (no plural) à qual me refiro não é um artifício para esconder no seguro
ambiente de um convento pessoas procuradas pela justiça, mas uma urgência que
se impõe para que a humanidade e o planeta tenham futuro.
A Campanha da Fraternidade que acompanha a
Quaresma de 2025 põe em pauta a incômoda questão da ecologia integral e da
proteção da Casa Comum. Ela não pretende oferecer um kit de soluções fáceis. Uma ação consequente e duradoura só pode
vir de “processos de discernimento espiritual, debate coletivo, planejamento
comunitário e decisões conjuntas, e tais ações são da alçada de instâncias mais
altas de participação e transformação social (cf. Texto-base, § 133).
A meta
geral que nos permitirá um futuro como humanidade é a redução imediata das
emissões de dióxido de carbono e de metano, através da substituição dos
combustíveis fósseis. Movidos por uma esperança realista e responsável, cremos
na reserva ética e no potencial de resistência que nos move a buscar e propor
medidas efetivas para manter um mínimo de equilíbrio na nossa Casa Comum.
Cremos na força que brota da união de esforços científicos com posturas
proféticas.
Está
claro que não podemos esperar soluções consistentes sem o empenho de todos, e isso
passa pela mudança de hábitos individuais e sociais. Reduzir e tratar o lixo
que produzimos, combater o desperdício de alimentos, valorizar os modelos
alternativos de produção, enfrentar o consumismo doentio, são alguns passos
firmes dessa mudança. Mas avançaremos pouco se não enfrentarmos o modelo
econômico desenvolvimentista, inclusive aceitando um certo decréscimo no
consumo.
É falsa a
oposição entre proteção do meio ambiente e desenvolvimento social. Esta é uma
desculpa para não mexer no modelo econômico consumista, violento e predador,
que agride a natureza na mesma medida em que produz e aumenta a desigualdade
social. O combate à desigualdade social passa pela taxação dos setores e países
mais ricos e pelas políticas de compensação. O grito da terra e o grito dos
pobres são o mesmo grito que ressoa em gargantas diferentes e convergentes.
Ouço
vozes que se insurgem contra a inserção da pauta ambiental na caminhada
quaresmal. Gritam que é mais urgente e eficaz salvar almas que proteger a
natureza. Dizem isso porque estão enganados ou para nos enganar? A água não é
mediação para o batismo, o óleo não é expressão do Espírito, o pão e o vinho não
são sacramentos do corpo violentado e ressuscitado de Jesus? E o que Paulo quer
dizer quando escreve “a criação até agora geme e sente as dores de parto” e “o
mundo criado espera ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus” (Rm
8,19.22)?
Dom Itacir Brassiani msf
Bispo diocesano de Santa Cruz do a Sul
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