sábado, 5 de abril de 2025

Ecologia integral

Mudança de hábitos

“Mudança de Hábito” é o nome de uma comédia que foi grande sucesso de bilheteria. Lançado em 1992, o filme é estrelado por Whoopi Goldberg, competente atriz negra estadunidense. Mas não é sobre cinema que eu quero refletir nessa coluna semanal. A mudança de hábitos (no plural) à qual me refiro não é um artifício para esconder no seguro ambiente de um convento pessoas procuradas pela justiça, mas uma urgência que se impõe para que a humanidade e o planeta tenham futuro.

A Campanha da Fraternidade que acompanha a Quaresma de 2025 põe em pauta a incômoda questão da ecologia integral e da proteção da Casa Comum. Ela não pretende oferecer um kit de soluções fáceis. Uma ação consequente e duradoura só pode vir de “processos de discernimento espiritual, debate coletivo, planejamento comunitário e decisões conjuntas, e tais ações são da alçada de instâncias mais altas de participação e transformação social (cf. Texto-base, § 133).

A meta geral que nos permitirá um futuro como humanidade é a redução imediata das emissões de dióxido de carbono e de metano, através da substituição dos combustíveis fósseis. Movidos por uma esperança realista e responsável, cremos na reserva ética e no potencial de resistência que nos move a buscar e propor medidas efetivas para manter um mínimo de equilíbrio na nossa Casa Comum. Cremos na força que brota da união de esforços científicos com posturas proféticas.

Está claro que não podemos esperar soluções consistentes sem o empenho de todos, e isso passa pela mudança de hábitos individuais e sociais. Reduzir e tratar o lixo que produzimos, combater o desperdício de alimentos, valorizar os modelos alternativos de produção, enfrentar o consumismo doentio, são alguns passos firmes dessa mudança. Mas avançaremos pouco se não enfrentarmos o modelo econômico desenvolvimentista, inclusive aceitando um certo decréscimo no consumo.

É falsa a oposição entre proteção do meio ambiente e desenvolvimento social. Esta é uma desculpa para não mexer no modelo econômico consumista, violento e predador, que agride a natureza na mesma medida em que produz e aumenta a desigualdade social. O combate à desigualdade social passa pela taxação dos setores e países mais ricos e pelas políticas de compensação. O grito da terra e o grito dos pobres são o mesmo grito que ressoa em gargantas diferentes e convergentes.

Ouço vozes que se insurgem contra a inserção da pauta ambiental na caminhada quaresmal. Gritam que é mais urgente e eficaz salvar almas que proteger a natureza. Dizem isso porque estão enganados ou para nos enganar? A água não é mediação para o batismo, o óleo não é expressão do Espírito, o pão e o vinho não são sacramentos do corpo violentado e ressuscitado de Jesus? E o que Paulo quer dizer quando escreve “a criação até agora geme e sente as dores de parto” e “o mundo criado espera ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus” (Rm 8,19.22)?

Dom Itacir Brassiani msf

Bispo diocesano de Santa Cruz do a Sul

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