sexta-feira, 4 de abril de 2025

Ninguém falou como ele

Ninguém jamais falou e agiu como Jesus de Nazaré! | 673 | 05.04.2025 | João 7,40-53

O contexto existencial e social no qual se situa o episódio de hoje é especialmente difícil e conflituoso para Jesus. Seus parentes querem que ele vá a Jerusalém para se tornar famoso, indiferentes e resistentes ao caminho de despojamento e solidariedade que ele estava propondo e vivendo. João diz que nem sua própria família acredita nele (cf. Jo 7,1-15).

Jesus vai a Jerusalém para a Festa das Tendas, que celebrava a difícil e longa travessia do povo pelo deserto, fugindo da escravidão de Egito e buscando uma terra livre e partilhada. Mas vai meio sozinho, discretamente. Mesmo assim, sua fala chama a atenção. “Ninguém jamais falou como este homem”, dizem os policiais do templo, para escândalo dos fariseus. Mas as opiniões se dividem e contrapõem.

A chefia do templo já havia decidido prender Jesus, mas até os guardas ficam impressionados ao ouvi-lo. E muita gente se pergunta se ele não seria o Profeta ou o Messias esperado. Mas o preconceito do povo da capital contra a gente da Galileia é uma catarata que os impede de ver. E esse preconceito se volta também contra os pobres e pouco letrados que se deixam atrair por Jesus. “Essa gente que não conhece a lei é maldita”, dizem os fariseus, ecoando o preconceito de todos.

Sobra críticas e ataques pouco fraternos até para Nicodemos, que desfruta de uma posição de liderança entre os fariseus. Quando ele lembra aos seus pares que a Lei que eles defendem e ensinam os proíbe julgar alguém antes de ouvi-lo, é taxado de analfabeto em relação às escrituras e acusado de fazer parte da massa presumivelmente iludida por Jesus. Faltou dizer, como repetem alguns “patriotas” pouco afeitos aos direitos humanos: “Você gosta dele? Vai com ele para Cuba ou Venezuela!”

O preconceito sempre distorce a visão de quem se julga melhor e superior. O medo faz que vejamos demônios e terror por todo lado. A intolerância nos fecha no estreito círculo da “nossa verdade”, que geralmente não tem sustentação na realidade, e impossibilita a fraternidade e a conversão ao Evangelho de Jesus. Precisamos levar Jesus realmente a sério, pois ele revela nossa verdade e nos conduz à autêntica liberdade.

 

Meditação:

·        Situe-se no coração deste debate sobre Jesus, na ausência dele; escute com atenção as opiniões divergentes que diferentes grupos têm sobre ele, e note a intolerância e o fechamento ao diálogo

·        Em que medida nossos preconceitos culturais e religiosos nos impedem de ver e reconhecer hoje a dignidade dos “diferentes” (migrantes, evangélicos, negros, indígenas, ateus, LGBTIQ+)?

·        Será que o medo, o fechamento e o preconceito não está levando alguns grupos religiosos a negar com suas práticas o Evangelho que anunciam com suas palavras?

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