sábado, 5 de abril de 2025

Linchar ou acolher?

O Senhor fez conosco maravilhas! Exultemos de alegria! | 674 | 06.04.2025 | João 8,1-11

No evangelho do último domingo meditamos sobre a parábola dos dois filhos e do pai misericordioso, essa belíssima página do Evangelho segundo Lucas. Neste quinto domingo da quaresma, o evangelista João nos leva à praça do grandioso templo de Jerusalém. Ali, em plena madrugada, homens que se consideravam piedosos e justos – com os mesmos traços do irmão mais velho do último domingo – acusam uma mulher de adultério e pedem que Jesus a julgue.

Jesus e os judeus celebravam o final da Festa das Tendas, que recordava o tempo em que viveram em tendas, na travessia do deserto, e o início do Yom Kippur, o tempo especial de perdão e remissão todas as dívidas. Os mestres da lei e os fariseus transgridem descaradamente o espírito dessas festas e não só tramam a prisão e morte de Jesus como também condenam tacitamente uma mulher ao apedrejamento, sem o mínimo sinal de misericórdia.

Como na parábola do último domingo, Jesus não encobre os erros do filho mais novo, nem passa “panos quentes” na vida supostamente desorientada da mulher. Mas ele chama à revisão de vida e à conversão aqueles que se consideram justos e se arrogam no direito de julgar e condenar os outros: o filho mais velho e aqueles que se apresentaram com pedras nas mãos. Quando a Jesus, trata os pecadores e errantes com misericórdia e oferece um espelho para que os justos se vejam bem.

Não deixa de chamar a atenção o gesto corporal de Jesus diante da mulher jogada no chão à sua frente. Jesus inclina-se diante dela, ignorando aqueles que a acusavam e o questionavam de pé. Coloca-se no nível da mulher, e a olha desde o nível em que ele se iguala a nós: o nível da humanidade nua, sem qualificativos. Ele se ergue apenas para pedir que os acusadores se olhem no espelho e reconheçam quem são. No final, ficam apenas a mulher e ele: a miséria humana diante da misericórdia divina. E a misericórdia jamais condena.

O Papa Francisco diz que a misericórdia é a palavra-chave que a Bíblia usa para falar da relação de Deus com o ser humano e com todas as demais suas criaturas. Tudo o que Jesus realiza, sobretudo em favor dos pecadores, dos pobres, dos marginalizados, doentes e atribulados, estão marcadas pela misericórdia e dela são expressão. Em Jesus, tudo fala de misericórdia, e nele não há nada que seja desprovido de compaixão. Diante dele, não há como não exultar de alegria.

E, para o discípulo de Jesus, a misericórdia não é apenas um princípio entre muitos outros, mas o dinamismo fundamental, aquele que dá concretude e sentido a todas as leis e proibições. A misericórdia é a arquitrave (viga-mestra) que sustenta a vida e a atividade da Igreja. “A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo”.

 

Meditação:

§ Leia atentamente, palavra por palavra, o mandamento de Jesus e os exemplos mais concretos que ele oferece

§ O que é que nos move naquilo que fazemos pelos outros, seja como indivíduos cristãos, seja como Igreja?

§ Que medida usamos nas ações solidárias com os mais vulneráveis, e como avaliamos e julgamos as pessoas?

§ Como seria a nossa Igreja se todas as suas decisões e ações passasse pela estrada do amor misericordioso e compassivo?

Nenhum comentário: