quarta-feira, 24 de outubro de 2018

ANO B – TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 28.10.2018


Que Jesus cure a cegueira de parte dos eleitores brasileiros!
Estamos chegando ao final do mês que dedicamos à oração e à animação missionária, e vivendo, neste domingo, o desfecho de uma conturbado e dramático processo eleitoral. Cego pelo medo e pelo ódio, conduzido como gado marcado para morrer por uma imprensa que detesta tudo o que representa avanço da cidadania, o povo brasileiro corre o risco de aplaudir o torturador que o fere e de recusar a democracia que assegura seus direitos. Precisamos abrir a boca e gritar com coragem, pedindo que se abram nossos olhos, que o país acorde e se coloque a caminho, que não brinque à beira do precipício.
Somos movidos pelo desejo, pelos sonhos, pelas utopias. O desejo insaciável de plenitude, de bem viver e conviver, faz com que a pessoa humana se coloque a caminho. Apagar este desejo, ou substituí-lo pela rasteira satisfação de uma segurança feita sob medida para os fortes, equivale a começar a morrer. O ser humano só fica sentado à beira da estrada e condena quem é diferente quando ainda não alcançou sua própria maturidade ou quando teve roubada a sua dignidade. Só quem ousa caminhar para além da situação presente é capaz de recusar uma vida sustentada por migalhas de bem-estar e falsa segurança.
O desejo mobilizador, criativo e emancipador é também o lugar do encontro com Deus. Quem busca Deus fora da insaciável sede de plenitude e convivência inclusiva e solidária acaba fabricando ídolos que só fazem amedrontar os viventes e devorar vidas. É Deus quem nos fez sonhadores, misturando o pó da terra ao sopro divino. E é nessa abertura radical que nada pode preencher que ele costuma vir ao nosso encontro, acolhendo-a não como sinal de nossos limites, mas como expressão do infinito que nos habita. É também do adorável fundo desta condição de criaturas desejantes que brota a verdadeira oração.
É na oração que revelamos nossos verdadeiros e mais profundos desejos. Então, que é que andamos pedindo a Deus? E o que pedimos para nosso país? Dirigimo-nos a Deus como se ele fosse um capitão pronto a eliminar, em nosso nome, as pessoas e grupos que não nos agradam ou sentimos como ameaça? Confiamos a ele a frágil economia e a duvidosa moral da nossa família e imploramos que dê segurança às nossas poupanças e propriedades? Talvez cheguemos até a pedir paz, segurança e sucesso à nossa Igreja na concorrência com as demais denominações, que tratamos como concorrentes...
Como são pobres e medíocres estes desejos! Não passam de necessidades, reais ou fantasiosas, geradas no ventre do medo. Por isso, quando se trata de oração, não é suficiente pedir com insistência: é preciso desejar e pedir com ousadia e corretamente grandes coisas! Venha a nós o vosso Reino! Seja feita a vossa vontade! Democracia radical e respeito aos pobres. Bartimeu, que pede esmolas à margem do caminho, começa pedindo compaixão àquele que carrega nas próprias entranhas as esperanças dos pequenos. Antes de manifestar propriamente um desejo, expressa sua própria condição de dor e alienação.
Apesar da contrariedade dos que o circundam e seguem, Jesus para e se dirige ao cego e mendigo que implora: “O que você quer que eu faça por você?” Encorajado pelos discípulos, Bartimeu balbucia um pedido que vem do fundo da condição humana, que espanta todos os medos e exorciza todas limitações: “Mestre, eu quero ver de novo!” Neste pedido, ele resume todas as suas necessidades e desejos: ver claramente as coisas, avaliar com retidão os acontecimentos, vislumbrar o Reino de Deus chegando como graça, tomar decisões políticas responsáveis à luz da razão ética e não dos medos e ódios...
Pouco antes, um jovem rico havia voltado atrás, entristecido, porque era refém dos próprios bens (cf. Mc 10,17-22), e João e Tiago haviam expressado seus sonhos de poder. Mas o cego Bartimeu se livra do único meio de sobrevivência que possui e se aproxima de Jesus. E é essa fé ativa e dinâmica que abre seus olhos. “Pode ir, a sua fé curou você!” E ele não volta para casa ou para a caserna, mas põe-se a seguir Jesus. Mostra-se mais livre que o jovem rico, que voltou atrás desiludido, e que João e Tiago, que desejam os primeiros lugares. Que o povo brasileiro aprenda do cego de Jericó, peça a Jesus a capacidade de ver, de entender e de jogar fora o manto dos grandes medos e pequenas e falsas seguranças.
Jesus de Nazaré, peregrino no santuário das dores e sonhos humanos! Escuta o grito que brota das entranhas da terra e abre os nossos olhos para podermos reconhecer-te passando por nossos caminhos. Converte os cristãos do Brasil, para que não ignorem os desejos e sonhos que movem a humanidade. Desperta o povo brasileiro, para que saiba escolher a democracia e a solidariedade, e não a violência e o fascismo. E que ninguém cale em nós o grito desse desejo, mais forte que todas as razões, mais glorioso que todas as luzes, mais vivo que todas as cores, mais nobre que todas as honras. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaías 53,10-11 * Salmo 32 (33) * Carta aos Hebreus 4,14-16 * Evangelho de Marcos 10,35-45)

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