Nem
sempre é fácil dar um nome ao mal-estar profundo e persistente que podemos
sentir em alguns momentos da vida. Assim me foi confessado em
mais de uma ocasião por pessoas que, por outro lado, procuravam algo diferente,
uma luz nova, talvez uma experiência capaz de dar nova cor ao seu viver diário.
Podemos chamá-lo de vazio
interior, insatisfação, incapacidade de encontrar algo sólido que leve ao
desejo de viver intensamente. Talvez seja melhor chamá-lo de tédio, cansaço de
viver sempre o mesmo, sensação de não acertar com o segredo da vida: estamos nos enganando em algo essencial e
não sabemos exatamente em quê.
Às vezes a crise adquire um
tom religioso. Podemos falar de perda de fé? Não sabemos já em que acreditar, nada consegue iluminar-nos por dentro,
abandonamos a religião ingênua de outros tempos, mas não a substituímos por
nada melhor. Pode então crescer em nós uma sensação estranha: ficamos sem
qualquer referência para orientar a nossa vida. O que podemos fazer?
A primeira coisa é não ceder à
tristeza nem à crispação: tudo está nos chamando para viver. Dentro desse mal-estar tão persistente, há
algo muito saudável: o nosso desejo de viver algo mais positivo e menos falso,
algo mais digno e menos artificial. O que necessitamos é reorientar a nossa
vida. Não se trata de corrigir um aspecto concreto da nossa pessoa. Isso virá
talvez depois. Agora, o importante é ir
ao essencial, encontrar uma fonte de vida e salvação.
Por
que não paramos para ouvir esse chamado urgente de Jesus para despertar? Não
sentimos a necessidade de escutar as Suas palavras?
«Mantenham-se acordados», «percebam o momento que estão a viver», «é hora de
despertar». Todos temos que nos
perguntar o que estamos negligenciando em nossa vida, o que precisamos mudar e
a que precisamos de dedicar mais atenção e mais tempo.
As
palavras de Jesus são dirigidas a todos e cada um de nós: «Vigiai». Temos que reagir. Se o fizermos, viveremos
um desses raros momentos em que nos sentimos despertos desde o mais profundo do
nosso ser.
José Antônio Pagola
Tradução de Antônio Manuel Álvarez
Perez
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