quinta-feira, 14 de novembro de 2019

O Evangelho dominical (Pagola) - 17.11.2019


TEMPOS DE CRISE
Nos Evangelhos recolhem-se alguns textos de caráter apocalíptico, nos quais não é fácil diferenciar a mensagem que pode ser atribuída a Jesus e as preocupações das primeiras comunidades cristãs, envolvidas em situações trágicas enquanto esperam com angústia e no meio de perseguições o final dos tempos.
Segundo o relato de Lucas, os tempos difíceis não hão de ser tempos de lamentos e desalento. Não é tampouco a hora da resignação ou da fuga. A ideia de Jesus é outra. Precisamente em tempos de crise «tereis ocasião de dar testemunho». É então quando nos é oferecida a melhor oportunidade para dar testemunho da nossa adesão a Jesus e ao Seu projeto.
Há muito tempo estamos sofrendo uma crise que está golpeando duramente a muitos. O que aconteceu neste tempo permite-nos conhecer com realismo o dano social e o sofrimento que está gerando. Não terá chegado o momento de avaliar como estamos reagindo?
A primeira coisa a fazer talvez seja rever a nossa atitude de fundo: Será que nos posicionamos de forma responsável, despertando em nós um sentido básico de solidariedade, ou estamos a viver de costas a tudo o que pode perturbar a nossa tranquilidade? Que fazemos a partir dos nossos grupos e comunidades cristãs? Definimos uma linha de ação generosa ou vivemos celebrando a nossa fé à margem do que está a acontecer?
A crise está abrindo uma fratura social injusta entre aqueles entre nós que podem viver sem medo do futuro e aqueles que estão a ficar excluídos da sociedade e privados de uma saída digna. Não sentimos a chamada para introduzir cortes na nossa vida para poder viver nos próximos anos de forma mais sóbria e solidária?
Pouco a pouco, vamos conhecendo mais de perto quem vai ficando mais indefeso e sem recursos (famílias sem nenhuma rendimento, desempregados de longa duração, imigrantes doentes, etc.). Será que nos preocupamos em abrir os olhos para ver se podemos nos comprometer em aliviar a situação de alguns? Podemos pensar em alguma iniciativa realista a partir das comunidades cristãs?
Não devemos esquecer que a crise não cria apenas empobrecimento material. Gera também insegurança, medo, impotência e experiência de fracasso. Quebra projetos, afunda famílias, destrói a esperança. Será que não deveríamos recuperar a importância da ajuda entre os membros da família, o apoio entre os vizinhos, o acolhimento e acompanhamento a partir da comunidade cristã? Nestes momentos, poucas coisas podem ser mais nobres que cuidar-nos mutuamente.
José Antonio Pagola.
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez.

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