quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 14.02.2021

ESTENDER A MÃO

A felicidade só é possível onde e quando nos sentimos acolhidos e aceitos. Onde falta acolhimento, falta vida; o nosso ser paralisa-se; a criatividade atrofia-se. Por isso uma «sociedade fechada é uma sociedade sem futuro, uma sociedade que mata a esperança de vida dos marginalizados e que finalmente se afunda a si própria» (J. Moltmann).

São muitos os fatores que convidam os homens e mulheres do nosso tempo a viver em círculos fechados e exclusivistas. Numa sociedade em que crescem a insegurança, a indiferença ou a agressividade, é explicável que cada um de nós trate de assegurar a nossa pequena felicidade com os/as iguais.

As pessoas que são como nós, que pensam e querem o mesmo que nós, dão-nos segurança. Por outro lado, as pessoas que são diferentes, que pensam, sentem e querem de forma diferente, produzem preocupação e medo.

Por isso as nações se agrupam em blocos que se olham mutuamente com hostilidade. Por isso cada um de nós procuramos o nosso recinto de segurança, aquele círculo de amigos, fechado aqueles que não são da nossa condição.

Vivemos como que alertas para defender-nos, cada vez mais incapazes de quebrar distâncias para adotar uma posição de amizade aberta para com qualquer pessoa. Habituamo-nos a aceitar apenas os mais próximos. Aos restantes toleramos ou olhamos com indiferença, se não mesmo com cautela e prevenção.

Ingenuamente pensamos que, se cada um se preocupa em assegurar a sua pequena parcela de felicidade, a humanidade continuará a caminhar em direção ao seu bem-estar. E não nos apercebemos que estamos criando marginalização, isolamento e solidão. E que nesta sociedade vai ser cada vez mais difícil ser feliz.

Por isso, o gesto de Jesus assume uma especial atualidade para nós. Jesus não só limpa o leproso. Ele estende a mão e toca-o, quebrando preconceitos, tabus e fronteiras de isolamento e marginalização que excluem os leprosos da convivência. Como seguidores/as de Jesus devemos sentir-nos chamados a cultivar uma amizade aberta aos setores marginalizados da nossa sociedade. São muitos os que necessitam de uma mão estendida que chegue a tocá-los.

José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez

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