sexta-feira, 27 de agosto de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 29.08.2021

INDIFERENÇA PROGRESSIVA

A crise religiosa vai-se decantando pouco a pouco em direção à indiferença. Normalmente, não se pode falar propriamente de ateísmo, nem mesmo de agnosticismo. O que melhor define a posição de muitos é uma indiferença religiosa onde já não há questões, nem dúvidas, nem crises.

Não é fácil descrever esta indiferença. A primeira coisa que se observa é a ausência de inquietação religiosa. Deus não interessa. A pessoa vive na despreocupação, sem nostalgias nem qualquer horizonte religioso. Não se trata de uma ideologia. É uma atmosfera envolvente onde a relação com Deus fica diluída.

Há vários tipos de indiferença. Alguns vivem nestes momentos um afastamento progressivo. São pessoas que se vão distanciando cada vez mais da fé, cortam laços com o religioso, afastam-se da prática. Pouco a pouco Deus vai-se apagando nas suas consciências. Outros vivem simplesmente absorvidos pelas coisas de cada dia. Nunca se interessaram muito por Deus. Provavelmente receberam uma educação religiosa débil e deficiente; hoje vivem esquecidos de tudo.

Em alguns, a indiferença é fruto de um conflito religioso, vivido por vezes em segredo. Sofreram medos ou experiências frustrantes. Não guardam uma boa recordação do que viveram em crianças ou adolescentes. Não querem ouvir falar de Deus, pois isso magoa-os. Defendem-se esquecendo-o.

A indiferença de outros é o resultado de circunstâncias diversas. Deixaram a pequena povoação e hoje vivem de forma diferente num ambiente urbano. Casaram com alguém pouco sensível ao religioso e mudaram de costumes. Separaram-se do seu primeiro cônjuge e vivem numa situação de casal não "abençoado" pela Igreja. Não é que estas pessoas tenham tomado a decisão de abandonar Deus, mas na verdade as suas vidas vão-se afastando Dele.

Há ainda outro tipo de indiferença encoberta pela piedade religiosa. É a indiferença de quem se habituou a viver a religião como uma prática externa ou uma tradição rotineira. Todos devemos ouvir a queixa de Deus. Jesus recorda-nos com palavras tomadas do profeta Isaías: «Este povo honra-me com os lábios, mas os seus corações estão longe de mim».

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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