quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

O Evangelho dominical (Pagola) - 06.02.2022

UMA MORAL SEM PECADO?

Costuma-se dizer que perdemos a consciência de pecado. Isso não é inteiramente verdade. O que acontece é que a crise da fé trouxe consigo uma forma diferente, nem sempre mais sã, de encarar a própria culpa. Na verdade, ao prescindir de Deus, não poucos vivem a culpa de uma forma mais confusa e solitária.

Algumas pessoas ficaram presas à forma mais primitiva e arcaica de viver o pecado. Sentem-se manchados pela sua maldade, indignos de viver junto aos seus entes queridos. Não conhecem a experiência de um Deus perdoador, mas também não encontraram outro caminho para se libertarem do seu mal-estar interior.

Outras pessoas continuam a viver o pecado como transgressão. É verdade que apagaram da consciência alguns mandamentos, mas o que não desapareceu do interior delas é a imagem de um Deus legislador ante o qual não sabem como se situar. Sentem a culpa como uma transgressão com a qual não é fácil conviver.

Há outros que vivem o pecado como autoacusação. Ao diluir-se a sua fé em Deus, a culpa vai-se convertendo numa acusação sem acusador. Não há necessidade de alguém os condene; eles mesmos o fazem. Mas como se libertar desta autocondenação? Basta esquecer o passado e tratar de eliminar a própria responsabilidade?

Também se tentou reduzir o pecado a mais uma vivência psicológica, um bloqueio ou limite da pessoa. O pecador seria uma espécie de doente, vítima da sua própria debilidade. Chegou-se mesmo a falar de uma moral sem pecado. Mas é possível viver uma vida moral sem vivenciar a culpa?

Para o crente, o pecado é uma realidade. É inútil encobri-lo. Embora se sinta muito condicionado na sua liberdade, o cristão sente-se responsável pela sua vida perante si mesmo e perante Deus. Por isso confessa o seu pecado e o reconhece como uma ofensa contra Deus, mas contra um Deus que só procura a felicidade do ser humano. Nunca devemos esquecer que o pecado ofende Deus na medida em que nos prejudica a nós mesmos, seres infinitamente amados por ele.

Maravilhado com a presença de Jesus, Pedro reage reconhecendo o seu pecado: “Afasta-te de mim, Senhor, que sou um pecador”. Mas Jesus não se afasta dele; antes lhe confia uma nova missão: “Não temas; a partir de agora serás pescador de homens”. Reconhecer o pecado e invocar o perdão é, para o crente, a forma saudável de se renovar e crescer como pessoa.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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