sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

O Evangelho dominical (Pagola) - 27.02.2022

ÁRVORES SAUDÁVEIS

A advertência de Jesus é fácil de entender. “Não há árvore sã que dê frutos estragados, nem árvore estragada que dê frutos sãos. Cada árvore é conhecida pelo seu fruto. Não se colhem figos nas sarças, nem se vindimam cachos nos espinhos”.

Numa sociedade ferida por tantas injustiças e abusos, onde crescem as «sarças» dos interesses e das rivalidades mútuas, e onde tantos «espinhos» de ódios, discórdia e agressividade brotam, são necessárias pessoas sãs para dar outro tipo de frutos. Que podemos fazer cada um para curar um pouco a convivência social tão danificada entre nós?

Talvez tenhamos que começar por não tornar a vida de ninguém mais difícil do que já é. Esforçar-nos para que, pelo menos junto a nós, a vida seja mais humana e suportável. Não envenenar o ambiente com a nossa amargura. Criar ao nosso redor relações diferentes feitas de confiança, bondade e cordialidade.

Necessitamos entre nós pessoas que saibam acolher. Quando acolhemos alguém, estamos a libertá-lo da solidão e estamos a dar-lhe uma nova força para viver. Por muito difícil que seja a situação em que se encontra, se descobre que não está só e que tem alguém a quem recorrer, despertará de novo a sua esperança. O importante é oferecer refúgio, acolhimento e escuta a tantas pessoas maltratadas pela vida.

Temos também que desenvolver muito mais a compreensão. Que as pessoas saibam que, por muito graves que sejam os seus erros, encontrarão sempre em nós alguém que os compreenderá. Temos de começar por não desprezar ninguém, nem sequer interiormente: não condenar nem julgar precipitadamente. A maioria dos nossos julgamentos e condenações só mostram a nossa pouca qualidade humana.

Também é importante contagiar alento a quem sofre. O nosso problema não é ter problemas, mas sim não ter força para os enfrentar. Junto a nós há pessoas que sofrem de insegurança, solidão, fracasso, doença, incompreensão... Não necessitam de receitas para resolver a sua crise. Necessitam de alguém que partilhe o seu sofrimento e coloque nas suas vidas a força interior que as sustente.

O perdão pode ser outra fonte de esperança na nossa sociedade. As pessoas que não guardam rancor nem alimentam ressentimento, que sabem perdoar de verdade, semeiam esperança à sua volta. Junto a elas sempre cresce a vida.

Não se trata de fechar os olhos ao mal e à injustiça. Trata-se simplesmente de escutar o lema de Paulo de Tarso: “Não te deixes vencer pelo mal; antes, vence o mal com o bem”. A forma mais saudável de lutar contra o mal numa sociedade tão estragada como a nossa é fazer o bem “sem devolver a ninguém mal por mal; tanto quanto possível, e tanto quanto depender de vós, em paz com todas as pessoas” (Rm 12,17-18).

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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