quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

ANO A | TEMPO DE ADVENTO | IMACULADA CONCEIÇÃO | 08.12.2022

Chamados/as a ser santos/as e irrepreensíveis, no amor!

A solenidade de hoje é uma festa da Igreja, a celebração da bondade e da confiança de Deus numa uma mulher que vivia numa aldeia esquecida e suspeita. Maria, uma moça íntegra, igual a muitas outras de uma aldeia insignificante e mestiça. Ela representa a pobreza de todas as pessoas que, não podendo contar com as próprias forças e poderes, abrem espaço para a ação de Deus. Deus a acolhe e escolhe em sua pobreza, confia-lhe uma grande missão, e promete estar ao lado dela.

Diante do anúncio do anjo, a atitude de Maria é de atenção, reflexão e prontidão. Atenção ao que o mensageiro enviado por Deus anuncia: Deus se encantou com sua graciosidade. Reflexão que a leva a questionar para entender o alcance e as consequências dessa escolha e da missão que ela implica: como isso vai se realizar? Prontidão para engajar-se plenamente no projeto de Deus, não obstantes sua pequenez e sua fragilidade: sou uma servidora, conte comigo!

A virgindade que o evangelista atribui a Maria significa mais que um dado biológico ou genital. A virgindade de Maria significa pobreza, integridade e total disponibilidade ao convite de Deus, sem interpor a ele seus desejos e seus projetos; significa abertura potência geradora e emancipadora de Deus; significa acolhida da sombra luminosa que protege e guia no caminho de saída de si mesma para acompanhar o povo que peregrina pelo deserto.

Na cena do evangelho de hoje, na figura materna e fraterna de Maria, está sinalizado claramente o dinamismo que caracteriza os votos das pessoas que se consagram ao seguimento de Jesus Cristo: a Pobreza, como consciência da própria fraqueza de meios e da riqueza incomparável do Reino de Deus; a Castidade, como disponibilidade íntegra e permanente para acolher o mistério de Deus sem manipulá-lo; a Obediência, como disposição para ajudar Deus na sua missão de acolher e salvar, sem interpor nenhuma reserva ou interesse pessoal.

É claro que esse dinamismo divino que estrutura e orienta os votos não é exclusividade dos religiosos e religiosas. Maria é esposa e mãe, e não uma freira ou uma monja dedicada exclusivamente às coisas da religião. O que Maria vive e testemunha é acessível a todos os cristãos, homens e mulheres, discípulos missionários, em seus diversos estados de vida. A vocação à vida consagrada não está acima ou fora da comunidade eclesial, mas dentro dela e a serviço dela. Todos/as somos escolhidos para sermos filhas e filhos adotivos, “santos e irrepreensíveis sob o seu olhar no amor”.

O problema de Adão e Eva foi ceder ao desejo de ocupar o lugar de Deus; colocar-se acima de todos, abandonar o caminho da vida frágil e humilde; decidir o que é bom e o que é mau a partir dos próprios interesses; livrar-se da responsabilidade por essa escolha, colocando a culpa nos outros. O fruto proibido às pessoas que se consagram a Deus não é a amizade intensa e humana com homens e mulheres; não é consentir responsavelmente com o chamado à sadia liberdade e autonomia; não é administrar a parte dos bens comuns que lhe cabem sem depredar a natureza e defraudar ninguém.

O que hoje nos afasta de Deus e nos faz rastejar como serpentes, é deixar-nos morder pelo clericalismo, colocar-se acima dos outros, como se fôssemos professores e patrões e não aprendizes e irmãos; estender a mão para o individualismo que nos faz indiferentes a tudo e a todos, obcecados pelos interesses e satisfações fugazes de cada momento; a apropriação exclusiva e violenta dos bens que estão a serviço do bem-estar de todos, cedendo a um consumismo perverso que nos consome e nos leva a tratar a tudo e a todos como coisas descartáveis; a relação com com a comunidade, sem dar nada de nós e do nosso tempo e apenas para satisfazer nossas carências, como se ela fosse um imenso e sempre disponível seio materno a serviço de uma gula insaciável.

E as armas que nos dão a possibilidade de ferir de morte a cabeça dessa serpente que sempre quer tomar a dianteira e influir em nossas decisões, relações e projetos são: o alimento diário da Palavra de Deus e da eucaristia; a escuta atenta e inteligente daquilo que as gerações que nos antecederam e nossos coirmãos de hoje nos ensinam; a perseverança no caminho diário de conversão a Jesus e ao seu Evangelho; o serviço solidário e generoso à comunidade e às pessoas mais vulneráveis. Como Maria, dizemos: “Somos servidores/as. Que a tua Palavra se cumpra em nós!”

Itacir Brassiani msf

Livro do Gênesis 3,9-15 | Salmo 97 (98) | Carta de São Paulo aos Efésios 1,3-6.11-12 | Evangelho segundo Lucas (1,26-38)

Nenhum comentário: