quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

ANO A | TEMPO DO NATAL | SOLENIDADE DO NATAL DE JESUS | 25.12.2022

Na manjedoura, a Palavra e a Vida nos saúdam e convocam.

A Palavra de Deus se faz carne e vem morar entre nós. O Poder de Deus se faz fragilidade e nos consola em nossos insuperáveis limites. A Promessa de Deus se faz acontecimento e dá fundamento à nossa esperança. Deus abandona para sempre os palácios da inacessibilidade e se aproxima do humano ser. Assumindo a história e suas tensões, Deus se revela boa notícia a ser acolhida com fé e anunciada com os pés, com as mãos, com o corpo inteiro. Aquilo que estava encoberto é dado à plena luz, aquilo que era esperado bate à nossa porta e pede acolhida.

Tudo isso se condensa no lugar onde os animais buscavam alimento, na mesa na qual Jesus se repartiu e entregou sacramentalmente, na cruz onde ele radicalizou a doação de si mesmo e selou a aliança de Deus com a humanidade. Em Jesus, Menino e Profeta, a lei do mais forte e mais esperto perdeu sua legitimidade, e nos é dada graça sobre graça, pois a verdade deixou de ser veredicto que condena. Nele o que fora promessa fez-se palpável e adquiriu glória e esplendor. E continua deixando-se ver e encontrar quando os pequenos que padecem acreditam nos pequenos.

Pouco nos importam os pés de Messi e Cristiano Ronaldo, de Neymar e de Mbapee. São irrelevantes o faturamento do comércio e o estrondo dos fogos. Sozinhos ou em família, nas redes sociais ou nos templos, proclamamos com o profeta: Benditos e belos são os pés dos homens e mulheres que sobem montanhas e descem abismos, percorrem estradas e atravessam mares, levando a todas as criaturas essa boa notícia! Belos e benditos são os pés dos/as discípulos/as que partem de Belém!

Belos e benditos são os pés e os passos de Maria, que não ficou dando voltas em torno de si mesma e de seus possíveis méritos. Belos e benditos são os pés de quem, acolhendo o entendimento do velho Zacarias, deixa-se iluminar pelo Sol da Justiça e permite que ele dirija seus passos nos caminhos da paz. Benditos e belos são os pés dos missionários que também hoje partem e se tornam o próximo de muitos! Diante do alegre anúncio até os sisudos guardas, habituados a vigiar e punir, exultam e cantam; e as cidades, aldeias e acampamentos em ruínas ensaiam passos de uma dança que até então lhes parecia impossível.

Em Nazaré e em Belém, na Galileia e em Jerusalém, o Senhor desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações. No espaço doméstico e menosprezado da casa de Isabel, contemplando as marcas da ação misericordiosa de Deus no velho corpo de Isabel e no seu próprio e jovem corpo, Maria proclama exultante que Deus mostra o poder do seu braço dispersando os orgulhosos, derrubando os poderosos e exaltando os humildes. Zacarias confirma que, graças às mãos misericordiosas de Deus, fomos salvos e libertos dos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam.

No Menino Deus, despojadamente aninhado na manjedoura, cercado por pessoas que não evitam os ambientes miseráveis como o são as grutas e estábulos, Deus se faz corpo e carne falante e brilhante, palavra encarnada, silente e eloquente, e lança luz e revela a verdade de todo ser humano: somos desde sempre amados/as e queridos/as por Deus, e toda a humana ação é ação de Deus, assim como o descaso ou a agressão à pessoa humana é indiferença e agressão ao próprio Deus.

No amável mistério do Natal, somos introduzidos/as no dinamismo do reinado de Deus, do corpo que se faz notícia boa, que luta e serve, que abraça e aquece, que estremece de medo e de alegria, que se reparte em mil pedaços para se reunificar na divina compaixão. A Palavra vem para quem a ela pertence, e nós queremos acolhê-la, em toda a sua beleza e profundidade. Precisamos deter-nos diante dela, da Palavra revestida de pobres panos, para contemplar e compreender a glória de Deus que nela brilha. Nela resplandece a proximidade e a condescendência de Deus.

Deus despojado, Deus próximo, Deus amável! Dobrando os joelhos diante do mistério da encarnação do teu Filho, adorando o inefável mistério do teu amor sem limites, pedimos confiantes e engajados/as: descruza nossos braços, para que participemos da tua ação que liberta os oprimidos; move nossos passos, para que levem a Boa Notícia da encarnação a todas as pessoas; imprime tua Palavra em todas as nossas células, ações e projetos, para que sustentemos as melhores lutas e embalemos o novo mundo na força da tua Palavra. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Profecia de Isaías 52,7-10 | Salmo 97 (98) | Carta de São Paulo aos Hebreus 1,1-6 | Evangelho segundo João  (1,1-18)

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