quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

O Evangelho dominical (Pagola) - 25.12.2022

UMA NOITE DIFERENTE

O Natal guarda um segredo que, infelizmente, escapa a muitos daqueles que nessa época celebram «algo», sem saber exatamente o quê. Não podem nem imaginar que o Natal oferece a chave para decifrar o mistério profundo da nossa existência.

Geração após geração, os seres humanos gritaram angustiados as suas perguntas mais profundas. Por que temos que sofrer, se desde o mais íntimo do nosso ser tudo nos chama à felicidade? Por que tanta frustração? Por que a morte, se nascemos para a vida? Os homens perguntavam. E perguntavam a Deus, porque, de alguma forma, quando procuramos o sentido último da nossa vida estamos apontando para ele. Mas Deus mantinha um silêncio impenetrável.

No Natal, Deus falou. Já temos a sua resposta. Não nos falou para nos dizer belas palavras sobre o sofrimento. Deus não oferece palavras. «A Palavra de Deus fez-se carne». Ou seja, mais do que dar-nos explicações, Deus quis sofrer na nossa própria carne as nossas interrogações, sofrimentos e impotência.

Deus não dá explicações sobre o sofrimento, mas sofre conosco. Não responde ao porquê de tanta dor e humilhação, mas ele próprio se humilha. Não responde com palavras ao mistério da nossa existência, mas nasce para viver ele próprio a nossa aventura humana.

Já não estamos perdidos/as na nossa imensa solidão. Não estamos submersos em pura escuridão. Ele está conosco. Há uma luz. «Já não somos solitários, mas solidários». Deus partilha a nossa existência.

Isto muda tudo. O próprio Deus entrou nas nossas vidas. É possível viver com esperança. Deus partilha a nossa vida, e com ele podemos caminhar em direção à salvação. É por isso que o Natal é sempre para os crentes um apelo para renascer. Um convite para reavivar a alegria, a esperança, a solidariedade, a fraternidade e a total confiança no Pai.

Recordemos as palavras do poeta Angelus Silesius: «Embora Cristo nasça mil vezes em Belém, enquanto ele não nascer no teu coração, estarás perdido para o mais além: terás nascido em vão».

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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