quinta-feira, 18 de julho de 2024

As escrituras nos apresentam um Deus compassivo

As escrituras nos apresentam um Deus compassivo e misericordioso | 415 | 19.07.24 | Mateus 12,1-8

Nesta cena a questão central que Jesus discute com os fariseus parece ser a questão da obediência à Lei. Porém, sobressai outra questão, mais importante: as leis e costumes que controlam a comida e o acesso a ela. A recorrente menção do evangelista ao campo de trigo, aos grãos e à fome, ao ato de comer, tanto dos discípulos como de Davi e seus companheiros, não deixa dúvidas. O sistema econômico limitava o direito dos pobres à alimentação, e os fariseus agiam para limitar aos discípulos o acesso ao alimento. O império da legalidade impedia a segurança alimentar do povo mais pobre.

Temos visto como o ensinamento e a prática de Jesus são alternativos, e confrontam e desafiam as leis e sistemas, e não apenas as leis religiosas. Jesus revoluciona o papel da lei, do templo e a própria imagem de Deus. Ele é o filho do homem, o Senhor, o enviado pelo Pai, para revelar e realizar a sua vontade, anunciada nas escrituras, mas esvaziada pelo templo. Deus é misericórdia, e de nós ele espera misericórdia, e não cultos vazios e duros legalismos que penalizam os que já enfrentam tantas penas. A questão não se resume em admitir a existência de Deus, mas em afirmar que ele é compaixão, e demonstrar essa compaixão das próprias relações.

A misericórdia é a essência do relacionamento de Deus com suas criaturas, é a forma da justiça divina na relação com o ser humano, e praticá-la significa reconhecer Deus assim como ele é, e enfrentar e superar as práticas restritivas que limitam ou impedem o acesso dos seus filhos e filhas aos direitos humanos básicos, como a alimentação. A misericórdia é o dinamismo que brota da internalização das misérias do próximo, e esse dinamismo torna impossível a indiferença, a dominação e a opressão. É isso que Jesus faz, com a maior liberdade, e fazem seus discípulos/as. A fome tem prioridade sobre as leis e instituições.

Jesus questiona fortemente a interpretação restritiva e fria das escrituras ensinada e praticada pelos fariseus, que se mostram sempre tão corretos. Por duas vezes ele questiona: “Nunca lestes?” E adverte: “Se tivesses compreendido o que significa...” na verdade, a interpretação que eles fazem das escrituras é limitada e interesseira. Jesus é maior que o templo e a lei, é a superação de ambos e a chave-de-leitura da verdadeira religião. Para ele, a lei, o templo e o alimento pertencem a Deus, e crer é fazê-los acessíveis a todos. Tudo isso e tudo o mais está abaixo do querer de Deus.

 

Meditação:

·    Você identifica também hoje sinais de uso da fé para se dispensar da atenção à vida das pessoas?

·    E o que dizer da economia liberal, que faz da comida, da água, da saúde e de tudo o mais uma simples mercadoria, limitando o acesso de multidões a ela?

·    Como colocar em prática hoje, na sua família e na sua comunidade, a vontade de um Deus que prioriza a misericórdia e não a lei, o culto e os sacrifícios?

Nenhum comentário: