domingo, 25 de agosto de 2024

A fé não se mostra nas aparências

A fé não se mostra nas aparências, e um cego não pode guiar outro cego | 453 | 26.08.24 | Mateus 23,13-22

No capítulo 23 do evangelho segundo Mateus, o profeta Jesus instrui seus discípulos no caminho do Reino de Deus criticando e desmascarando o modo de viver e ensinar a fé dos fariseus e doutores da lei. Depois de pedir para que seus discípulos e discípulas não sejam como eles (cf. 23,1-12), Jesus os enfrenta proclamando sete maldições ou “ais” num tom claramente polêmico. No texto de hoje, temos as três primeiras expressões dessa espécie de julgamento escatológico.

As duas primeiras maldições destacam o resultado danoso da influência da elite religiosa sobre a vida do povo de Deus. Na primeira, eles são deslegitimados porque não acolhem o Reino de Deus anunciado por Jesus e, por seu ensino, impedem que outros entrem no seu dinamismo. E isso acontece porque impõem sobre o povo o pesado fardo de leis e prescrições das quais excluem a misericórdia, a justiça e a fé.

A segunda afirmação crítica também enfatiza o impacto prejudicial da prática e do ensino religioso dos doutores da lei e dos fariseus sobre outros. A razão é que eles não compreendem os propósitos ou a vontade de Deus e, por isso, convertem as pessoas ao judaísmo, mas são incapazes de apresentar a elas um caminho de vida coerente com a fé. Como eles não conseguem ou se recusam a reconhecer em Jesus o enviado de Deus, acabam levando os convertidos a fazerem o mesmo.

Na terceira maldição, Jesus muda o foco, que não é mais o mal causado nos outros, mas a própria prática religiosa atabalhoada da elite do judaísmo. Jesus inicia cada uma das duas críticas citando as próprias palavras dos fariseus e escribas, e condena o mau uso da prática popular do juramento, como um atalho para desviar das exigências da vontade de Deus. O juramento também costuma esconder a falta de credibilidade e a enviesada de quem jura.

Jesus ridiculariza as distinções casuísticas e arbitrárias, assim como as filigranas do ensino dos fariseus e escribas, um ensino e uma prática que não têm nada a ver com o Reino de Deus. Eles não passam de guias cegos que não fazem mais que desencaminhar e colocar em risco a salvação de quem se deixa guiar por eles. Na lógica do Reino de Deus não faz sentido distinguir entre juramentos que obrigam e juramentos que não obrigam, pois Deus é um só, e está presente em tudo.

 

Meditação:

·    Releia atentamente as três críticas de Jesus em relação aos fariseus e doutores da lei, e procure entender exatamente o que Jesus está reprovando neles

·    Hipócritas são as pessoas que “recitam um papel”, como os atores que representam um personagem, mas não são aquilo que representam, e guias cegos são uma espécie de contrassenso e um perigo muito sério

·    Deixemos que Jesus avalie nossas práticas religiosas e nosso ensino e pregação: será que não estão eivadas de hipocrisia, de distinções sutis que mais atrapalham que ajudam? Será que não somos uma espécie de guias cegos?

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