Na
carpintaria de José, Deus se fez trabalhador!
Um
princípio do ensino social da Igreja afirma que “só o trabalho produz riqueza”.
Por conseguinte, os bens de produção ou de consumo que circulam no mundo trazem
a impressão digital dos trabalhadores e trabalhadoras e o seu acúnulo nas mãos
de poucos significa expropriação ou roubo. Celebrar a importância do trabalho é
reconhecer a dignidade dos trablhadores e trabalhadoras e reivindicar seu
direito de participar da mesa que suas mãos prepararam. Se na gruta de Belém a
Palavra se faz carne, na carpintaria de José, o próprio Deus se faz
trabalhador.
Podemos
imaginar Jesus entrando nas sinagogas da Galiléia. Na região ele era conhecido
pelo trabalho que exercia: como seu pai José, era carpinteiro e assim ganhava a
vida. Mas esse trabalho, mesmo tendo uma importância inquestionável, não
representava um limite para sua vida de pregador. Agora ele se apresentava como
missionário itinerante, ensinando uma doutrina que ele chamava de Boa Notícia:
o tempo de espera terminara e o reinado de Deus estaria chegando gratuitamente
como vida em abundância para todos. Ele ensinava uma ‘nova lição’...
Mateus
nos diz que os conterrâneos e familiares de Jesus estavam admirados, exatamente
como as multidões que testemunharam a cura de dois cegos e um mudo (cf. Mt
9,34) ou como quando ele ameaçou e expulsou o mau espírito que impedia que um
homem enxergasse e falasse (cf. Mt 12,23). As multidões se maravilhavam, e não
conseguiam reduzir Jesus à profissão humilde e marginal do seu pai. Mas seus
conterrâneos ficaram também desconcertados. Primeiro, pela a beleza e
relevância daquilo que anunciava e ensinava. Depois, pela condição de humilde
trabalhador, filho um simples carpinteiro e, como eles, habitante de uma região
desprezada.
De fato,
a missão que Jesus desenvolvia estava acima do que era esperado para o status de sua família. “De onde lhe vem
esta sabedoria? Este homem não é o filho do carpinteiro?...” A questão mais
difícil não era reconhecer que o Filho de Deus tenha se apresentado como
carpinteiro, mas aceitar que um carpinteiro comum se dissesse Filho de Deus. Muitos
ainda hoje preferem imaginar José com lírio e não com ferramentas de trabalho
nas mãos. E gostam de contemplar Jesus com um pergaminho ou um cajado, mas
jamais uma foice ou uma enxada!
O motivo
principal do escândalo é o próprio Deus: para ele, a encarnação não é uma
possibilidade mas uma necessidade. O amor procura formas concretas para se
expressar. Os princípios gerais não bastam. Como ensina o amável poeta e
profeta Dom Pedro: na gruta de Belém Deus se faz carne; na carpintaria de José,
Deus se faz classe. Um homem que trabalha com as mãos é escolhido como pai e
educador do Filho de Deus, também ele trabalhador.
A festa
celebrada hoje é a oportunidade e o desafio para que a nossa fé passe dos
princípios gerais e intransitivos aos compromissos práticos e arriscados:
colocar-se ao lado dos trabalhadores e trabalhadoras em suas justas lutas;
empenhar-se na humanização do trabalho, especialmente daqueles que ainda hoje
degradam quem os faz; comprometer-se com o aumento das vagas de trabalho;
defender a criação de vagas de trabalho para os idosos e jovens; lutar contra a
felxibilização dos direitos trabalhistas; e assim por diante.
Paulo nos
recomenda: “E tudo o que vocês fizerem através de palavras ou ações, o façam em
nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus por meio dele... Tudo o que vocês
fizerem, façam de coração, como quem obedece ao Senhor e não aos homens” (Col
3,17.23). Evidentemente, não se trata de um sentimento piedoso ou de uma
resignação ao peso do trabalho explorado. Paulo insiste numa atitude
fundamental: fazer do trabalho a expressão do melhor de nós mesmos e um meio de
criar vínculos solidários entre os homens e mulheres.
Deus e pai, tu quisestes que o pai do teu
filho fosse operário em Nazaré. Celebrando a festa de São José Operário, te
pedimos: faz crescer em nós a consciência de que entregaste o mundo em nossas
mãos; que imaginaste o mundo como um belo jardim, farto, plural e harmônico e
deste-nos inteligência e capacidade para cuidar dele; e nos colocastes como teus
representantes e executivos na tarefa de guardar, cultivar, multiplicar e
distribuir os frutos da terra mediante o trabalho. Bendito sejais por esta
confiança. Ajuda-nos a sermos criativamente fiéis e responsáveis. Assim seja!
Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf
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