Como pode a mãe do meu Senhor vir me visitar?
Terminando o mês de
maio e celebrando a visitação de Nossa Senhora, reedito a crônica que escrevi
no dia 31 de maio do ano passado, visitando Nazaré, na Galiléia.
Hoje é o último dia do mês de maio. O mês
que a espiritualidade católica dedica a Maria termina com a bela Festa da Visitação de Nossa Senhora. E
por coincidência humana e graça de Deus, estou terminando esse dia exatamente
em Nazaré, onde viveu essa jovem graciosa e corajosa, e de onde ela saiu
apressadamente para visitar sua parente Isabel.
A missa na basilica da Anunciaçao |
Hoje deixamos de lado o
comportamento de turistas religiosos e voltamos ao que realmente somos:
discípulos e missionários de Jesus, o filho de Maria de Nazaré. Estimulados
pela Irmã Religiosa que dirige a casa que nos hospeda, fomos à basílica da Anunciação,
aquela construída sobre a casa de Maria, para participar, com a comunidade local, da oração do terço, da missa e da procissão.
Tudo foi celebrado em árabe, mas isso não
impediu nossa participação. A basílica – que não é pequena! – estava totalmente lotada por
uma multidão vibrante de crianças, jovens, adultos e idosos, em porções
equilibradas. A impressão é de que a comunidade católica de Nazaré, apesar de
ser minoritária frente aos muçulmanos, é muito viva e vibrante.
Já ao descer as escadarias do beco que nos
leva da casa das Irmãs do Rosário à basílica – uns 10 minutos de descida –
íamos conversando sobre o que significa pisar o mesmo chão que Maria, José e
Jesus pisaram. Quantas vezes eles teriam subido e descido esta ladeira? Teriam
cultivado algo por aqui? Teriam subido a ladeira para visitar algum vizinho ou
ajudar alguém necessitado?
Mas um pouco antes, fora aqui que Maria
ouvira pela primeira vez e de modo único e irrepetível aquela saudação que
repetimos cinquenta vezes na oração que delicadamente chamamos de rosário:
"Ave Maria! Tu és cheia de graça! O Senhor está contigo!” Sabemos que
Maria ficou um pouco perturbada e desconcertada. Mas isso diz muito pouco
daquilo que significou esta experiência para aquela moça da vila de Nazaré.
Detalhe da procissao saindo da basilica |
Fiquei meditando também sobre o que pode
significar ser cristão em Nazaré. Que perguntas e desafios a maioria muçulmana
poderia dirigir à comunidade cristã? Como sustentar diante do homem moderno e
das demais religiões que no seio de uma moça aqui desta vila perdida no mapa o
Deus infinito se fez carne e o Altíssimo se esvaziou e assumiu a cotidiana vida
dos homens e mulheres?
Não sei se é um privilégio ser cristão aqui
em Nazaré. Talvez seja mais um desafio e um ônus que um privilégio. No seu
tempo Jesus já dissera que normalmente as pessoas têm dificuldade de aceitar os santos e profetas da própria casa. Por mais que a comunidade possa
se alegrar por celebrar na casa que foi de Maria e por tê-la como um dos seus
antepassados, não é fácil ter olhos para ver o que se passa nos níveis que não
sejam o da superficialidade.
Gosto daquela velha e simples canção do
Pe. Zezinho: “Maria de Nazaré, Maria me
cativou. Fez mais forte a minha fé, e
por filho me adotou. Às vezes eu páro e fico a pensar, e sem perceber, me vejo
a rezar, e meu coração se põe a cantar pra Virgem de Nazaré. Menina que Deus
amou e escolheu pra Mãe de Jesus, o Filho de Deus. Maria que o povo inteiro
elegeu Senhora e Mãe do céu...”
A bela imagem da filha mais ilustre de Nazaré |
Mistérios!... Coisas quase extravagantes
de uma religião que que prega a descida de um Deus que cresce no ventre de uma moça
aqui de Nazaré e caleja as mãos numa carpintaria; que crê na força da compaixão; que espera a
ressurreição da carne; que diz que o amor fraterno é a moradia mais amada e
desejada por Deus nesta terra. Coisas quase incríveis. Coisas maravilhosas.
Sonhos e delírios de uma fé que nasceu e sobreviveu aos rigores dos desertos,
perseguições e traições, vindas de fora ou sofridas por dentro...
Itacir Brassiani msf
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