Mc 1, 12-15: A Boa Nova é
testada e provada no deserto.
Depois do
batismo, o Espírito de Deus toma conta de Jesus e o empurra para o deserto,
onde ele se prepara para a missão (Mc 1,12s). Marcos diz que Jesus esteve no
deserto 40 dias e que foi tentado por Satanás. Em Mateus 4,1-11 se explicita a
tentação: tentação do pão, tentação do prestígio, tantação do poder. Foram três
tentações que derrubaram o povo no deserto, depois da saída do Egito (Dt 8,3;
6,16; Dt 6,13). Tentação é tudo aquilo que afasta alguém do caminho de Deus.
Orientando-se
pela Palavra de Deus, Jesus enfrentava as tentações e não se deixava deviar (Mt
4,4.7.10). Ele é igual a nós em tudo, até nas tentações, menos no
pecado (Hb 4,15). Inserido no meio dos pobres e unido ao Pai pela oração, fiel
a ambos, ele resistia e seguia pelo caminho do Messias-Servidor, o caminho do
serviço a Deus e ao povo (Mt 20,28).
ALARGANDO
A semente da
Boa Notícia, o início do anúncio do Evangelho na América Latina
Marcos inicia
dizendo como foi o começo. Você esperaria de Marcos uma data bem precisa. Em
vez disso, recebe uma resposta aparentemente confusa. Para descrever esse
começo, Marcos cita Isaías e Malaquias (Mc 1,2-3). Fala de João Batista (Mc
1,4-5). Alude ao profeta Elias (Mc 1,4). Evoca a profecia do Servo de Javé (Mc
1,11) e as tentações do povo no deserto, depois da saída do Egito (Mc 1,13).
Você pergunta:
"Mas afinal, o começo foi quando: na saída do Egito, no deserto, em
Moisés, em Elias, em Isaías, em Malaquias, em João Batista?" O começo, a
semente pode ser tudo isso ao mesmo tempo. O que Marcos quer sugerir é que
olhemos a nossa história com outros olhos. O começo a semente da Boa
Nova de Deus, está escondida dentro da vida da gente, dentro do nosso passado,
dentro da história que vivemos.
O começo da
Boa Nova na América Latina está escondido na resistência e no despertar das
etnias indígena e negra, que buscam vida, dignidade e liberdade para todos.
Resgatando a sua história e reconhecendo os valores éticos presentes na cultura
do seu povo, os indígenas se unem aos descendentes afro e a todas as pessoas
que sofrem injustiça e discriminação. As mulheres despertam como sujeito de
um novo tempo, descontruindo velhos padrões de comportamento e gerando uma nova
consciência.
No campo e na
cidade o MST vem demonstrando uma nova capacidade de organização e articulação.
Apesar da propaganda contrária da TV, revistas e jornais, o MST gera um debate nacional sobre
pontos fundamentais para uma política agrícola. Surge uma nova sensibilidade
ecológica e cresce a consciência de cidadania. O grande desejo de
participação transformadora, que a discussão e debate dos problemas sociais vêm
provocando, se expressa no voluntariado de jovens, pessoas desempregadas,
aposentadas... Até mesmo daquelas que em meio ao trabalho e ao estudo ainda
encontram tempo para entregar-se gratuitamente ao serviço dos outros.
A busca de
novas relações de ternura, respeito, ajuda mútua e intercâmbio vem crescendo.
Há uma indignação do povo frente à corrupção e à violência. Há algo que vai
nascendo dentro de cada pessoa, algo novo, que não permite mais a indiferença
diante dos abusos políticos, sociais, culturais, de classe e de gênero. Há uma
nova esperança, um novo sonho, um desejo de mudança. Resgata-se a utopia de
construir uma sociedade nova, onde haja espaço de vida e de participação para
todas as pessoas.
O anúncio da
Boa Nova de Deus na América Latina será realmente Boa Notícia se apontar para
esta novidade que está acontecendo no meio do povo. Ajudar a abrir os olhos
para essa novidade, comprometer as comunidades de fé na busca pela utopia é
reconhecer a presença libertadora e transformadora de Deus agindo no dia-a-dia
de nossa vida.
O povo da Bíblia tinha
esta convicção: Deus está presente na nossa vida e na nossa história. Por isso,
eles se preocupavam em lembrar os fatos e as pessoas do passado. Pessoa que
perde a memória perde a identidade, ela já não sabe de onde vem nem para onde
vai. Eles liam a história do passado para aprender a ler a história deles e
descobrir dentro dela os sinais e os apelos da presença de Deus.
É o que Marcos
fez aqui no início do seu evangelho. Ele tira o véu dos fatos e aponta um fio de
esperança que vinha desde o êxodo, desde Moisés, passando pelos profetas Elias,
Isaías e Malaquias, pelos servidores do povo, até chegar em João Batista, que
aponta Jesus como aquele que realizará a esperança do povo.
Mercedes
Lopes e Carlos Mesters
http://www.cebi.org.br/noticias.php?noticiaId=5428
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