1
- SITUANDO
Nos versículos
16 a 45 do primeiro capítulo, Marcos descreve o objetivo da Boa Nova e a missão
da comunidade, apresentando oito critérios para as comunidades do seu tempo
poderem avaliar a sua missão. Tanto nos anos 70, época em que Marcos escreveu,
como hoje, época em que nós vivemos, era e continua sendo importante ter diante
de nós modelos de como viver e anunciar o Evangelho e de como avaliar a nossa
missão.
2
- COMENTANDO
Mc 1, 40-42:
Acolhendo e curando o leproso, Jesus revela um novo rosto de Deus
Um leproso
chega perto de Jesus. Era um excluído. Devia viver afastado. Quem tocasse nele
ficava impuro também! Mas aquele leproso teve muita coragem. Transgrediu as
normas da religião para poder chegar perto de Jesus. Ele diz: "Se queres,
podes curar-me!" Ou seja: "Não precisa tocar-me! Basta o senhor
querer para eu ficar curado!"
A frase revela
duas doenças: 1) a doença da lepra que o tornava impuro; 2) a doença da solidão
a que era condenado pela sociedade e pela religião. Revela também a grande fé
do homem no poder de Jesus.
Profundamente
compadecido, Jesus cura as duas doenças. Primeiro, para curar a solidão, toca
no leproso. É como se dissesse: "Para mim, você não é um excluído. Eu o
acolho como irmão!" Em seguida, cura a lepra dizendo: "Quero! Seja
curado!"
O leproso,
para poder entrar em contato com Jesus, tinha transgredido as normas da lei. Da
mesma forma, Jesus, para poder ajudar aquele excluído e, assim, revelar um
rosto novo de Deus, transgride as normas da sua religião e toca no leproso.
Naquele tempo, quem tocava num leproso tornava-se um impuro perante as
autoridades religiosas e perante a lei da época.
Mc 1, 43-44:
Reintegrar os excluídos na convivência fraterna
Jesus não só
cura, mas também quer que a pessoa curada possa conviver. Reintegra a pessoa na
convivência. Naquele tempo, para um leproso ser novamente acolhido na
comunidade, ele precisava ter um atestado de cura assinado por um sacerdote. É
como hoje. O doente só sai do hospital com o documento assinado pelo médico de
plantão. Jesus obrigou o fulano a buscar o documento, para que ele pudesse
conviver normalmente. Obrigou as autoridades a reconhecer que o homem tinha
sido curado.
Mc 1, 45: O
leproso anuncia o bem que Jesus fez e ele e Jesus se tornam excluídos
Jesus tinha
proibido o leproso de falar sobre a cura. Mas não adiantou. O leproso, assim
que partiu, começou a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar
publicamente numa cidade. Permanecia fora, em lugares desertos. Por quê? É que
Jesus tinha tocado no leproso. Por isso, na opinião da religião daquele tempo,
agora ele mesmo era um impuro e devia viver afastado de todos. Já não podia
entrar nas cidades. Mas Marcos mostra que o povo pouco se importava com estas
normas oficiais, pois de toda a parte vinham a ele! Subversão total!
O duplo recado
que Marcos dá às comunidades do seu tempo e a todos nós e este: 1) anunciar a
Boa Nova é dar testemunho da experiência concreta que se tem de Jesus. O
leproso, o que ele anuncia? Ele conta aos outros o bem que Jesus lhe fez. Só
isso! Tudo isso! E é este testemunho que leva os outros a aceitar a Boa Nova de
Deus que Jesus nos trouxe. 2) Para levar a Boa Nova de Deus ao povo, não se
deve ter medo de transgredir normas religiosas que são contrárias ao projeto de
Deus e que dificultam a comunicação, o diálogo e a vivência do amor. Mesmo que
isso traga dificuldades para a gente, como trouxe para Jesus.
3
- ALARGANDO
O Anúncio da
Boa Nova de Deus feito por Jesus
A prisão de
João fez Jesus voltar e iniciar o anúncio da Boa Nova. Foi um início explosivo
e criativo! Jesus percorre a Galiléia toda: as aldeias, os povoados, as cidades
(Mc 1,39). Visita as comunidades. Ele muda de residência, e vai morar em
Cafarnaum (Mc 1,21; 2,1), cidade que fica no entroncamento de estradas, o que
facilita a divulgação da mensagem. Ele quase não pra. Está sempre andando. Os
discípulos e as discípulas com ele, por todo canto. Na praia, na estrada, na
montanha, no deserto, no barco, nas sinagogas, nas casas. Muito entusiasmo!
Jesus ajuda o
povo prestando serviço de muitas maneiras: expulsa maus espíritos (Mc 1,39),
cura os doentes e os maltratados (Mc 1,34), purifica quem está excluído por
causa da impureza (Mc 1,40-45), acolhe os marginalizados e confraterniza com
eles (Mc 2,15). Anuncia, chama e convoca. Atrai, consola e ajuda. É uma paixão
que se revela. Paixão pelo Pai e pelo povo pobre e abandonado da sua terra.
Onde encontra gente para escutá-lo, ele fala e transmite a Boa Nova de Deus. Em qualquer lugar.
Em Jesus, tudo
é revelação daquilo que o anima por dentro! Ele não só anuncia a Boa Nova do
Reino. Ele mesmo é uma amostra, um testemunho vivo do Reino de Deus. Nele
aparece aquilo que acontece quando um ser humano deixa Deus reinar, tomar conta
de sua vida. Pelo seu jeito de conviver e de agir, Jesus revelava o que Deus
tinha em mente quando chamou o povo no tempo de Abraão e de Moisés. Jesus
desenterrou uma saudade e transformou-a em esperança! De repente, ficou claro
para o povo: "Era isso que Deus queria quando nos chamou para ser o seu
povo!
Este foi o começo
do anúncio da Boa Nova do Reino que se divulgada rapidamente pelas aldeias da
Galiléia. Começou pequena como uma semente, mas foi crescendo até tornar-se
árvores grande, onde o povo todo procurava um abrigo (Mc 4,31-32). O próprio
povo se encarregava de divulgar a notícia.
O povo da
Galiléia ficava impressionado com o jeito que Jesus tinha de ensinar. "Um
novo ensinamento! Dado com autoridade! Diferente dos escribas!" (Mc
1,22.27). Ensinar era o que Jesus mais fazia (Mc 2,13; 4,1-2; 6,34). Era o
costume dele (Mc 10,1). Por mais de 15 vezes o Evangelho de Marcos diz que
Jesus ensinava. Mas
Marcos quase
nunca diz o que ele ensinava. Será que não se interessava pelo conteúdo?
Depende do que a gente entende por conteúdo! Ensinar não é só uma questão de
ensinar verdades novas para o povo decorar. O conteúdo que Jesus tem para dar
transparece não só nas palavras, mas também nos gestos e no próprio jeito de
ele se relacionar com as pessoas. O conteúdo nunca está desligado da pessoa que
o comunica. Jesus era uma pessoa acolhedora (Mc 6,34). Queria bem ao povo. A
bondade e o amor que transparecem nas suas palavras fazem parte do conteúdo.
São o seu tempero. Conteúdo bom sem bondade é como leite derramado.
Marcos define
o conteúdo do ensinamento de Jesus como "Boa Nova de Deus" (Mc 1,14).
A Boa Nova que Jesus proclama vem de Deus e revela algo sobre Deus. Em tudo que
Jesus diz e faz, transparecem os traços do rosto de Deus. Transparece a
experiência que ele mesmo tem de Deus como Pai. Revelar Deus como Pai é fonte,
o conteúdo e o destino da Boa Nova de Jesus.
Mercedes Lopes e Carlos Mesters
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