quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Abre-te!

CURAR A NOSSA SURDEZ

Os profetas de Israel usavam com frequência a surdez como uma metáfora provocativa para falar do fechamento e da resistência do povo ao seu Deus. Israel tem ouvidos mas não ouve, é o que Deus diz. Por isso, um profeta chama a todos para a conversão com estas palavras: Surdos, escutai e ouvi!
Neste enquadramento, as curas de surdos, narradas pelos evangelistas, podem ser lidas como relatos de conversão que nos convidam a deixar-nos curar por Jesus da surdez e das resistências que nos impedem de escutar o chamado a segui-lo. Concretamente, no seu relato Marcos oferece matizes muito sugestivos para trabalhar esta conversão nas comunidades cristãs.
O surdo vive afastado de todos. Não parece estar consciente do seu estado. Não faz nada para aproximar-se de quem o pode curar. Por sorte, uns amigos interessam-se por ele e levam-no até Jesus. Assim tem de ser a comunidade cristã: um grupo de irmãos e irmãs que se ajudam mutuamente para viver em torno de Jesus deixando-se curar por Ele.
A cura da surdez não é fácil. Jesus toma consigo o doente, retira-se para um lado e concentra-se nele. É necessário o recolhimento e a relação pessoal. Necessitamos nos nossos grupos cristãos um clima que permita um contacto mais íntimo e vital dos crentes com Jesus. A fé em Jesus Cristo nasce e cresce nessa relação com Ele.
Jesus trabalha intensamente os ouvidos e a língua do doente, mas isso não basta. É necessário que o surdo colabore. Por isso, Jesus, depois de levantar os olhos ao céu, procurando que o Pai se associe ao Seu trabalho curador, grita ao enfermo a primeira palavra que tem de escutar quem vive surdo a Jesus e ao Seu Evangelho: Abre-te!
É urgente que os cristãos escutem também hoje este chamado de Jesus. Não são momentos fáceis para a Sua Igreja. Pede-se que atuemos com lucidez e responsabilidade. Seria funesto viver hoje surdos ao seu chamado, não ouvir as Suas palavras de vida, não escutar a Sua Boa Nova, não captar os sinais dos tempos, viver encerrados na nossa surdez. A força salvadora de Jesus pode-nos curar.
José Antônio Pagola

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