Como seguir Jesus? (Mc 8,27-35)
Esta reflexão
descreve a cegueira de Pedro que não entende a proposta de Jesus quando este
fala do sofrimento e da cruz. Pedro aceita Jesus como messias, mas não como
messias sofredor. Ele está influenciado pela propaganda do governo da época que
só falava do messias como rei glorioso. Pedro parecia cego. Não enxergava nada
e ainda queria que Jesus fosse como ele, Pedro, o queria. Vamos conversar sobre
isto!
SITUANDO
No início
deste quarto bloco estão a cura de um cego (Mc 8,22-26), o anúncio da cruz e a
explicação do seu significado para a vida dos discípulos (Mc 8, 27 a 9,1). A
cura do cego foi difícil. Jesus teve que realizá-la em duas etapas. Igualmente
difícil foi a cura da cegueira dos discípulos. Jesus teve que fazer uma longa
explicação a respeito do significado da cruz para ajudá-los a enxergar, pois
era a cruz que estava provocando neles a cegueira.
Nos anos 70,
quando Marcos escreveu, a situação das comunidades não era fácil. Havia muito
sofrimento, muitas cruzes. Seis anos antes, em 64, o imperador Nero tinha
decretado a primeira grande perseguição, matando muitos cristãos. Em 70, na
Palestina, Jerusalém estava sendo destruída pelos romanos. Nos outros países,
estava começando uma tensão forte entre judeus convertidos e judeus
não-convertidos. A dificuldade maior era a cruz de Jesus. Os judeus achavam que
um crucificado não podia ser o messias tão esperado pelo povo, pois a lei
afirmava que todo crucificado devia ser considerado como um maldito de Deus (Dt
21,22-23).
COMENTANDO
Marcos 8,
27-30: VER - levantamento da realidade
Jesus
perguntou: ''Quem diz o povo que eu sou?'' Eles responderam relatando as
várias opiniões do povo: ''João Batista'', ''Elias ou um dos profetas''.
Depois de ouvir as opiniões dos outros, Jesus perguntou: ''E vocês,
quem dizem que eu sou?'' Pedro respondeu: ''Tu és o Cristo, o
Messias''. Isto é, és aquele que o povo está esperando.
Jesus concordou com Pedro, mas proibiu de falar sobre isso ao povo.
Por que Jesus proibiu? É que naquele tempo, todos esperavam a vinda do
messias, mas cada um do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote,
doutor, guerreiro, juiz ou profeta. Ninguém parecia estar esperando o
messias servidor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9).
Marcos
8,31-33: JULGAR - esclarecendo a situação - primeiro anúncio da paixão
Jesus começa a
ensinar que ele é o Messias Servidor e afirma que, como o Messias Servidor
anunciado por Isaías, será preso e morto no exercício da sua missão de justiça.
Pedro leva um susto, chama Jesus de lado para desaconselhá-lo. E Jesus responde
a Pedro: ''Vá embora, Satanás''. Você não pensa as coisas de Deus, mas as dos
homens''. Pedro pensava ter dado a resposta certa. De fato, ele disse a palavra
certa ''Tu és o Cristo''. Mas não lhe deu o sentido certo. Pedro não entendeu
Jesus. Era como o cego de Betsaida. Trocava gente por árvore. A resposta de
Jesus foi duríssima ''Vá embora, Satanás''. Satanás é uma palavra hebraica que
significa acusador, aquele que afasta os outros do caminho de Deus. Jesus não
permite que alguém o afaste da sua missão.
Marcos 8,
34-47 - AGIR - condições para seguir
Jesus tira as conclusões
que valem até hoje. “Quem quiser vir após mim tome sua cruz e siga-me.” Naquele
tempo, a cruz era a pena de morte que o Império Romano impunha aos marginais.
Tomar a cruz e carregá-la atrás de Jesus era o mesmo que aceitar ser
marginalizado pelo sistema injusto que legitimava a injustiça. A cruz não é
fatalismo, nem é exigência do Pai. A cruz é a consequência do compromisso
livremente assumido por Jesus de revelar a Boa Nova de que Deus é Pai e que,
portanto, todos e todas devem ser aceitos e tratados como irmãos e irmãs. Por
causa deste anúncio revolucionário, ele foi perseguido e não teve medo de dar a
sua vida. Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão.
Mercedes
Lopes
http://www.cebi.org.br/noticias.php?secaoId=1¬iciaId=5938
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