De Dandara à Davis, a resistência do
20 de novembro
O 20 de novembro para mim é mais do que um dia de feriado,
mais do que um final de semana prolongado. Minha vida em diáspora hoje para o
senso comum tem dupla validade. Não quero ser repetitiva, sei a importância do
dia de hoje para nós negros, vanguarda de luta e para nossos aliados.
Hoje é mais do que o afronto a farsa do dia 13 de maio. Mais
do que lembrar a importância da luta de Dandara e Zumbi para a emancipação do
nosso povo, hoje é dia de lembrar nossa resistência à sociedade que insiste em
relutar a consciência negra enquanto parte da história brasileira, e insiste na
“consciência humana” enquanto nos outros 364 dias ninguém se lembra que aquele
moleque metralhado pela PM e jogado numa vala era um ser humano, que aquele
assaltante na fome do crack, sem comida, sem esperança era um ser humano, que
não tem 1% da maldade de quem lucra com câncer, HIV e fetos mal formados.
Não se lembram da importância da parcela da população humana
que tem sua história desrespeitada enquanto disseminação e conscientização,
mesmo que isso seja sancionada como diz a lei 10.639/03: “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de
ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o
ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.”
Para eles é só um dia. Para nós é ancestralidade, é dia de
levar aos meios despolitizados a importância do nosso protagonismo frente a
nossa opressão enquanto mulheres e homens que tiveram sua ancestralidade, sua
herança genealógica roubadas; do quanto ainda somos escravizados nos moldes
capitalistas; do quanto temos nossas propriedade filosófica e intelectual
roubadas; do quanto ainda precisamos provar que somos bons o bastante para eles
(que para nós é ser duas vezes melhor), ou quanto nosso direito de sermos bons
o bastante nos foi retirado; do quanto temos nosso valor é subestimado no
mercado de trabalho, nas escolas, universidades, nos relacionamentos, na vida.
Para nós, a consciência negra deve ser trabalhada e debatida
todos os dias. “Só vamos deixar o corredor da morte anunciada quando nosso
tempo não for usado pra limpar nota manchada, quando odiarmos o regime que faz
nossas mulheres tirar saliva podre das talheres. Comemore a Consciência Negra
todos os dias, exija direito à vida com ou sem data fixa” (Eduardo Taddeo)
Gleide Fraga, 23 anos
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