Acolhamos e façamos germinar a semente da Justiça!
O Advento
é um tempo marcado pela abertura, pela esperança e pela vigilância. É um itinerário
pastoral e espiritual que nos coloca diante do núcleo central da esperança cristã.
Serão quatro semanas que nos ajudam a reviver os milênios de expectativa
messiânica do povo hebreu e os nove meses de espera ativa da Família de Nazaré.
Centremos nossa mente e nosso coração no reconhecimento e na acolhida daquele
que vem na fragilidade humana e nas brechas da história. Sejam estas semanas
marcadas pela esperança inquieta e quase delirante no advento de uma humanidade
livre e solidária. Não será desiludido quem espera no Senhor e caminha ao
encontro dele.
Depois de
aludir a um contexto que provoca medo e angústia, Jesus nos adverte: “Tomem
cuidado para que os corações de vocês não fiquem insensíveis por causa da gula,
da embriaguez e das preocupações da vida...” Diante da constatação de que hoje uma
família de classe média sente necessidade de possuir ou consumir mais ou menos
10.000 objetos, somos lembrados de que verdadeira preparação para o Natal não
se faz adquirindo mais coisas e acrescentando novas atividades, mas
despojando-nos do supérfluo, simplificando a vida, reconhecendo e priorizando o essencial.
Sol, lua,
estrelas e mar representam os poderes que pretendem ser divinos e inquiestionáveis.
E quando tais poderes sentem-se abalados, como aconteceu recentemente em Paris,
muitas pessoas são assaltadas pela ansiedade e pelo pavor, e a reação do Estado
é a contra-violência. Mas Jesus nos
convida e viver com serenidade, a agir com confiança e a esperar com lucidez.
“Quando estas coisas começarem a acontecer, levantem-se e ergam a cabeça,
porque a libertação de vocês está próxima.” Há uma novidade alvissareira escondida
no ventre da história, apesar das suas ambiguidades.
Nas
pessoas e movimentos que se esvaziam dos entulhos culturais e religiosos
impostos, estão sendo gerados novo Homem e a nova Mulher. A Humanidade nova vai
nascendo dos escombros de um mundo desigual e do vazio fecundo criado pela
diminuição do consumo. “Então eles verão o filho do homem vindo sobre uma
nuvem, com poder e grande glória.” Trata-se de um nascimento pouco evidente,
que não se impõe à percepção. É como um broto no meio de grandes árvores. A
vigilância é necessária, porque Deus nos visita em fraldas. Para reconhecê-lo, é
preciso purificar e ajustar o olhar!
Olhar
amplo e vigilância são atitudes necessárias para que esse misterioso Dia não nos surpreenda correndo atrás de
comidas e de bebidas, de perus e de espumantes! Este tempo vai sendo Hoje, e o lugar está nas promissoras utopias
cotidianas. O Dia é cada dia, e o
lugar é um pouco por todo lado. Não esperemos nada de imponente e ostensivo. Vivamos
o Advento e suas ousadas promessas esquecendo o calendário fixo, abandonando a
ansiedade de comprar presentes e mais presentes, e até de multiplicar novenas e
pedidos. Precisamos de muito pouco para viver com sabor e sentido!
Paulo nos
convida a rezar “a todo momento”, a encontrar meios para manter e cultivar esta vital abertura ao Deus
que veio, que vem e que virá. Sem esta abertura radical e confiante, acabamos
enclausurados em nós mesmos, avessos a qualquer esperança e refratários a toda
mudança. Sem esta janela para o amanhã, acabaremos cegos às novidades
emergentes e reféns do ontem, daquilo que já era, membros inertes de um corpo
morto. Enquanto abertura e confiança em Deus, a oração nos mantém em pé diante
do Filho do Homem que vem, envolto na fragilidade dos brotos e bebês.
Paulo também
nos pede que continuemos crescendo em humanidade, no amor recíproco e no
serviço solidário a todas as pessoas. É assim que agradaremos a Deus e permaneceremos
firmes e irrepreensíveis. O que agrada a Deus não é consumo, mas o crescimento
no serviço fraterno e solidário. Este é o caminho que Deus ensina aos pobres e
mostra aos justos, respondendo à súplica do salmista. A verdadeira preparação
para o Natal consiste em simplificar a vida e dar prioridade ao que é
essencial, em criar espaços vazios para acolher o que está para nascer ou para
chegar.
Deus amável, pai e mãe de todas as
misericórdias: iniciamos nossa caminhada do Advento pedindo que purifiques e
dirijas nosso olhar, para que possamor ver os múltiplos sinais da tua visita e
da tua presença. Ensina-nos a amar desde agora aquilo que ainda está por vir, a
caminhar entre aquilo que passa com os olhos fixos naquilo que é duradouro. Que
teu Espírito nos guie na verdade e nos faça crescer na santidade e na justiça,
livrando-nos da tentação de jogar a culpa de todos os males sobre aqueles que
crêem diversamente de nós e que, possivelmente, são mais vítimas que culpados. Assim
seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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