A luta pela justiça está
no coração da fé cristã!
As
comunidades católicas rezam hoje pelas missões, pelos seus missionários e
missionárias. Estes homens e mulheres abrasados pela fé, fortalecidos pela
esperança e seduzidos pelo desafio de ultrapassar fronteiras não são entidades
de outro planeta, nem pessoas moralmente ou espiritualmente superiores a nós.
Como Jesus, os missionários são pessoas que não fazem diferenças entre as
pessoas em favor dos familiares, compatriotas ou partidários. São criaturas que
têm lucidez e coragem para relativizar as pretensões dos poderosos e defender
os direitos dos pequenos.
Depois da
parábola do banquete, na qual Jesus afirma que os principais de Israel recusam
o convite gratuito de Deus, esta elite não parece mais interessada em responder
ou discutir com Jesus: retira-se para conspirar e planejar um ataque fulminante
contra Ele. Com ironia, hipocrisia e cinismo, os doutores da lei, escribas e
herodianos preparam uma armadilha para enrolar e surpreender Jesus e, assim,
fabricar as provas que necessitam para a condenação, que já está decidida. A
ironia e o cinismo ficam evidentes nos elogios dirigidos a Jesus pelos
emissários das elites judaicas.
Mesmo sem
querer, nos elogios irônicos e cínicos que dirigem a Jesus, seus adversários apresentam
seu perfil verdadeiro e inatacável. Jesus é um profeta que não se sente inibido
na sua opção pelos pobres nem diante da pressão dos poderosos; não abandona os
caminhos de Deus, mesmo diante das alternativas que oferecem sucesso e êxito; não
foge das questões espinhosas, nem apela a uma mal dita neutralidade política, a
uma indefinida vida interior ou às coisas da alma; sabe distinguir o
reconhecimento e a adesão humilde à sua proposta dos elogios falsos, interesseiros
e enganadores...
O que
está em discussão no evangelho deste domingo não é uma questão simplória como
pagar ou não pagar impostos. O que as elites, do judaísmo e de todos os tempos,
querem saber é se, diante do poder opressivo dos impérios, Jesus e seus
discípulos são colaboradores ou subversivos; se mantém sua profecia ou abaixam
a cabeça e calam a boca, deixando os fracos à sua própria sorte; se o projeto
de Deus mergulha na história ou se dirige apenas ao coração e a uma fé
privatizada e intimista. De qualquer modo, a questão não é a autonomia dos
poderes político e religioso, mas a relação entre fé e política.
O tributo
imposto e cobrado dos povos colonizados pelo império romano era um meio de
subjugá-los, e a própria moeda servia como estratégia de propaganda do
imperador e de afirmação do seu status
divino. Para os judeus mais piedosos, a simples apresentação da imagem do
imperador gravada na moeda provocava indignação, pois era um sinal da tentativa
de diviniza-lo. Diante da prova da moeda, Jesus não se submete à fácil solução
de separar fé e política, poder temporal e crítica profética. Sua resposta
sábia e corajosa é um caminho: “Devolvam a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus.”
A
conclusão de que, com esta resposta, Jesus estaria afirmando que a fé não tem
nada a dizer sobre a esfera política, mesmo sobre um poder ditador e opressor,
é puro preconceito e ideologia escapista, sem nenhuma base exegética. É esse o
velho argumento dos apoiadores do governo Temer, disfarçando o cínico apoio de
pastores interesseiros a um governo intrinsecamente corrupto. O que Jesus faz é
pedir que se devolva ao imperador a moeda, instrumento de propaganda e de exploração,
e que se reserve a Deus a vida e do seu povo. Partindo do valor absoluto e
transcendente do Reino de Deus, Jesus condena as pretensões absolutistas do
imperador e suas práticas de exploração dos povos por ele subjugados.
Com essas
palavras, Jesus contextualiza e relativiza o poder colonialista e a lealdade às
autoridades. Sem recorrer à violência, e falando em nome de Deus, Jesus exercita
a profecia e subverte a ordem estabelecida. Isso nos lembra que profecia, a
justiça e a promoção humana são intrínsecas à missão. Precisamos desenvolver a atitude de discípulos
missionários que tenham coração grande para amar e forte para lutar. Com Paulo,
dizemos: “Nos lembramos sempre da fé viva, do amor capaz de sacrifícios e da
firme esperança de vocês... Sabemos que vocês foram escolhidos por Jesus
Cristo...”
Deus pai e mãe, dá-nos coragem e sabedoria para relativizar
todos os poderes, inclusive os poderes religiosos, e subordiná-los ao serviço à
vida. Ajuda tua Igreja a assumir, sem medo e sem reticências, a missão de
encarnar o Evangelho do teu Filho na política, na economia e na sociedade,
colaborando na edificação de um país justo e solidário. E não permite que teus
filhos se cansem de testemunhar com clareza, de servir com amor, de dialogar
com humildade e de anunciar o Evangelho com intrepidez. Esta é a missão que
está no coração da nossa fé, como nos lembra nosso Papa Francisco. Assim seja!
Amém!
Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaias 45,1-6 * Salmo 95 (96) * Carta
de Paulo aos Tessalonicenses 1,1-5 * Evangelho de S. Mateus 22,15-21)
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