quarta-feira, 11 de outubro de 2017

ANO A – VIGÉSIMO-OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM – 15.10.2017

A missão leva a sair da comodidade e alcançar as periferias!
O sonho de Deus é que a vida do seu povo seja uma festa. Mas será que esta festa tem convidados prioritários? Uma leitura desatenta da parábola do evangelho de hoje poderia nos levar a concluir que sim. Mas, para entende-la corretamente, não podemos esquecer que ela faz parte do mesmo conjunto literário das duas parábolas anteriores (Mt 21,18-32; 21,33-46). E o foco deste conjunto literário é a rejeição da proposta de Jesus por parte da elite religiosa do judaísmo, de modo que as parábolas em questão têm esta elite como destinatária.
Jesus gosta de comparar o Reino de Deus com uma festa. Mas, olhando para o que acontece ao seu redor, ele constata que nem todas as pessoas e grupos aceitam este convite. E percebe que, às vezes, quando aceitam, o fazem da boca para fora, por pura formalidade e conveniência. Assim acontece com a liderança religiosa do seu tempo: não lhes agrada a aliança de Deus com a humanidade e, por isso, não dão a menor atenção ao convite que lhes é dirigido por Jesus. Eles preferem ficar com as leis e ritos que dividem e classificam as pessoas em boas ou más, judias e pagãs, filhos e cães...
Comer e beber juntos na mesma festa significa comungar os propósitos de Deus, e é isso que eles não aceitam. E de nada serve um segundo convite. Os líderes religiosos não conseguem ver sentido nestas festas que não impõem barreiras, que são abertas a todas as pessoas. Até que participariam de uma festa, desde que eles fossem os convidados de honra, e com o objetivo de celebrar o poder e o privilégio de alguns. Mas o convite à festa do Reino é universal: todos os povos, todas as classes sociais, todas as pessoas.  No pensamento de Deus, o mundo é inclusivo, há lugar para todos na festa da vida.
Eis o dinamismo da missão que é também hoje confiada à Igreja: anunciar que a festa da vida é desejada e está preparada, e fazer este convite chegar a todas as pessoas, povos e classes. Por isso, não é sem sentido o mandato de ir “para as encruzilhadas dos caminhos”. Encruzilhadas são lugares onde os pobres se reúnem para mendigar, pois a vergonha e a pressão social os empurram para as margens. Mas o convite de Deus para a festa da vida precisa chegar até eles. É prosseguindo nesta direção que a missão da Igreja encontra sua originalidade e sua autenticidade.
Mesmo que o convite não comporte nenhuma forma de exclusão, na festa da vida não se pode entrar de qualquer jeito. Aqueles que fazem o convite não discriminam ninguém: convidam bons e maus, judeus e pagãos, homens e mulheres, escravos ou senhores, negros ou brancos, europeus ou africanos... Esta é a tarefa confiada aos mensageiros de Deus, aos missionários. Mas as pessoas que aceitam o convite e comparecem à festa precisam se perguntar se, por suas atitudes, opções e práticas, honram o anfitrião; precisam demonstrar com a vida o que são; precisam usar a roupa adequada, a prática da justiça.
Os missionários e evangelizadores não dispõem de meios potentes e infalíveis, e precisam contar com algo mais importante que suas próprias forças e estratégias. Eles sabem que são pessoas como todas as outras, com as mesmas fragilidades e pecados; apenas não se conformam com a passividade e a indiferença, e acham que vale a pena fazer o convite de Deus chegar a todos os destinatários. E isso mesmo que, às vezes, aqueles que aceitam o convite e comparecem à festa litúrgica, acabem encontrando leis, barreiras e arbitrariedades criadas pela própria Igreja...
Como diz Paulo, os missionários precisam aprender viver na penúria e na abundância, confiando que Deus, segundo sua generosidade, em Cristo Jesus, proverá magnificamente a todas as suas necessidades. “Tudo posso naquele que me dá força”, diz o apóstolo. E isso significa que o missionário é alguém que não pode contar apenas com os recursos do próprio saber, das técnicas de comunicação e das estruturas eclesiais. A força e a lucidez indispensáveis para construir o Reino vêm de Deus, da Palavra, dos sacramentos. E, não menos, do próprio povo ao qual ele anuncia a Boa Notícia do Reino de Deus. O Papa nos diz que a missão está no coração da fé cristã e nos coloca em contínua saída.
Deus, pai e mãe, desde sempre preparas a festa da vida e esperas que todos os povos convidados tomem um lugar à tua mesa. Continua e enviar mensageiros e missionários, a fim de que este convite chegue aos destinatários, especialmente aos porões, quintais e encruzilhadas do mundo, onde aqueles que são tratados como últimos estão à espera.  Guia os teus enviados e restaura as forças deles. Abre a mente e o coração das pessoas convidadas, e faz com que tua Igreja mantenha abertas suas portas e janelas a todos os povos, culturas e classes sociais, sem levantar barreiras nem impor condições.  Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaias 25,6-10 * Salmo 22 (23) * Carta de Paulo aos Filipenses 4,12-20 * Evangelho de S. Mateus 22,1-14) 

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