sábado, 23 de dezembro de 2017

ANO B – FESTA DO NASCIMENTO DE JESUS CRISTO – 24.12.2017

Jesus Cristo é a Paz de Deus para todas as criaturas.
Percorremos as quatro semanas vigiando, preparando, desgustando e escutando. O dia chegou e estamos com o coração leve, acolhedor e generoso. Com os olhos limpos e os ouvidos abertos, estamos prontos a reconhecer e acolher a Presença de Deus que se manifesta do seu próprio jeito: na carne humana, nas estrebarias e periferias, no silêncio de um inocente que nos olha nos olhos e desperta em nós o que há de mais nobre: a capacidade de se enternecer e de cuidar; a generosidade de fazer-se dom e presente; o dinamismo que vence o fechamento em nós mesmos e na fugacidade do presente...
O nascimento de Jesus ocorre no mundo dos pobres, à margem dos poderes romanos e judaicos, na periferia daquele mundo que dizia garantir a paz recorrendo ao medo. Os decretos oficiais põem José e Maria outra vez na estrada: garantem a cobrança dos impostos mas não a tiram a Família de Nazaré de sua pobreza. Aquela humilde família percorre um caminho em direção às raizes das esperanças populares e messiânicas: a família e origem do pastor Davi. Em Belém, os proscritos pastores põem sua atenção nesta familia de nela identificam a esperança que os encoraja e alegra.
Para os pastores, naquela estrebaria ignota há mais luz que no brilho de Jerusalém e na sabedoria da Lei. Os anjos, mensageiros de Deus, não estão presos ao Templo, mas junto àqueles que, estando longe de tudo, vigiam os rebanhos, inclusive à noite. E anunciam a boa noticia: o Salvador nasceu na “periferia do mundo”. Indicam o sinal de que isso aconteceu: um bebê deitado numa cocheira para animais, envolto em pobres panos. O sinal da “grande alegria para todo o povo” não são os anjos, nem a luz que os envolve, nem a música melodiosa que ressoa no céu; é a fragilidade de uma criança!
Para aqueles que crêem, o nascimento de Jesus é mais que um acontecimento do passado. Não se resume também a uma revelação que aponta para uma dimensão “sobrenatural” da vida ou para um evento que tem sentido apenas para o coração. Com a ajuda do profeta Isaías, descobrimos que a encarnação do Filho de Deus refulge como luz para quem caminha na escuridão, como a alegria da colheita para os camponeses, como a vitória dos fracos sobre o medo e a violência. O Natal é a passagem da opressão à liberdade, do medo à confiança, da dependência à emancipação.
O romantismo e a beleza da música nos envolve e nos inspira: “Pobrezinho nasceu em Belém. Eis na lapa Jesus, nosso bem. Dá-nos paz, ó Jesus!” Pois é verdade que o natal é a festa da paz. Paz entre as nações. Paz entre as Igrejas. Paz nas comunidades. Paz entre nas famílias. Paz na relação entre os seres humanos e as demais criaturas. Paz entre o céu e a terra. Paz onde há guerra e paz onde falta confiança, no norte e no sul, no oriente e no ocidente. Os Papas nos lembram que a paz se chama desenvolvimento, e o caminho para a paz é a superação da pobreza através da justiça.
Nossos povos originários também nos ensinam com sabedoria que a paz não se reduz ao equilíbrio de forças políticas ou a um sentimento interior. Antes, a paz se situa no coração da utopia ancestral do bem viver, que se realiza na convivência harmoniosa e equilibrada da pessoa com a sua dimensão de interioridade e exterioridade, das pessoas entre si e das pessoas com a natureza como um todo. Neste sentido, o bem ou o mal de uma espécie ou parte da criação resulta no bem ou no mal de todo o conjunto. Infelizmente, dos centros de poder e das classes privilegiadas quase sempre nascem e se expandem, , mais cedo ou mais tarde,  crises perseguições.
A paz que não tem fim passa também pela comunidade eclesial. Nela nos encontramos com pessoas diferentes, descobrimos que somos membros diversos num único corpo e escutamos a Palavra sempre vive e criadora de Deus. Uma Palavra que nos confirma como filhos e filhas que não perdem essa dignidade por motivo nenhum. Uma Palavra que nos ajuda a compreender sempre de novo que a divindade se esconde na humanidade e com ela se identifica, nos pobres que foram acostumados a calar e sofrer. O caminho da paz passa por Belém, pela estrebaria, pela manjedoura.
Deus Menino, vivo na nossa frágil carne, filântropo do gênero humano: viemos te procurar e te encontramos repousando sob o olhar humano e cuidadoso de um casal humilde e surpreso. Parece que te faltam tantas coisas, mas, pobre, nos ensinas a bem viver. Por isso, o que nos resta é apenas trocar presentes: tu nos dás a felicidade, a dignidade e a solidariedade que há muito perdemos nos corredores dos shopings, e nós te oferecemos a palha da nossa pequenez, a luz do nosso olhar e o calor que ainda resta nas nossas entranhas e no meio das pessoas que amamos. Acolhe nossos dons... Amém! Assim seja!

Itacir Brassiani msf
(Profeta Isaías 9,1-6 * Salmo 95 (96) * Carta a Tito 2,11-14 * Lucas 2,1-14)

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