domingo, 24 de dezembro de 2017

ANO B – ORAÇÃO DIANTE DO PRESÉPIO – 24.12.2017

A pobreza de Deus enriquece e liberta a humanidade!
A correria chegou ao fim, e eu me sinto exausto. Mas também posso dizer que estou satisfeito. Minha preparação para esse momento foi iluminada pela tua santa Palavra, na qual também me alimentei diariamente. É claro que em alguns dias faltou-me o apetite, e me aproximei da mesa mais por hábito que por desejo. Reconheço também que, em vários momentos, o foco da minha atenção não foste tu, tua visita e teu projeto. Tu sabes, são tantas as obrigações e reponsabilidades que pesam sobre nós...
Mas há outras coisas que me distraíram e preocuparam. Este ano não foi dos melhores para o povo que tu amas. Nosso Presidente, com a colaboração dos sócios que o impuseram, saqueou descaradamente a nação, sob o olhar impassível e a inércia criminosa da justiça. Ele acendeu velas reverentes à voracidade do mercado, se submeteu à violenta vontade do capital, impôs limites drásticos à satisfação das necessidades essenciais do povo e caçou direitos conquistados com sangue e suor. E agora tenta embebedar a nação com propagandas que veiculam meias-verdades e coloridas mentiras.
Marcado por tudo isso, reúno-me com teu povo para te contemplar e acolher. Ao meu redor, além desses que aqui vieram para te escutar e acolher, há gente que já dorme sossegadamente, mas a maioria festeja tresloucadamente, comendo e bebendo. No entanto, eu, no calor sufocante dessa noite, aqui venho para vigiar com meus irmãos e irmãs, para meditar sossegadamente sobre o mistério dessa noite, sobre aquilo que aconteceu em Belém... E repito, como um mantra que brota do ventre da terra: “Vem, Jesus, estamos te esperando! Vem, Jesus, o mundo precisa de ti!” Não nos bastam as compras e as festas...
Começo fixando a atenção nos teus queridos pais. Sentindo que a hora esperada se aproxima, rejeitados pelos habitantes da cidade, Maria e José procuraram abrigo numa estrebaria. Não havia lugar para eles e para ti na cidade, ocupada com tanta coisa desimportante. Mas eles prepararam o melhor lugar que puderam para ti. Também eu sou uma pobre criatura, e não tenho senão uma miserável manjedoura, onde depositei uns poucos feixes de palha. Mas, como Maria e José, te ofereço tudo o que tenho e o que sou, Menino querido, Deus amável! Sou pobre de virtudes, mas o que mais poderias esperar de mim? É tudo o que tenho! Aceita minha humilde barraca, não te assustes com minha pobreza...
Confesso que tua pobreza me toca profundamente e me enternece. Estou comovido, e as lágrimas insistem em brotar silenciosamente dos meus olhos. Queria te abraçar, te dar proteção, te oferecer tanta coisa, mas não tenho nada de melhor e mais importante que isso que estou te oferecendo. Por isso, Jesus, embeleza e enriquece a minha vida com a tua presença. Adorna minha caminhada com a tua graça. Queima essas palhas secas e transforma elas em macio berço para o teu santíssimo corpo, tu que, desde sempre, sonhaste e desejaste fazer-te um de nós.
Causa-me tristeza saber que, não apenas naquele tempo, pessoas indiferentes ou perversas te rejeitam e perseguem. Outros, de forma mais sutil, te substituem por um personagem que não tem nada a ver contigo. Inventaram um personagem que habita nas vitrines e se movimenta nos centros comerciais, que promove vendas e vende ilusões, como se presentes fossem presenças e como se as relações comerciais fossem mais valiosas que as relações humanas. E tem ainda aqueles que, usando teu nome, arrancam dos teus amados o pouco que lhes resta, a fé no teu Evangelho.
Em meio a tudo isso que vem acontecendo à margem da tua visita, e até em nome dela, ouso pedir-te em prece: alegra-te, Jesus Menino, com meu desejo de te acolher com carinho, de te amar, de me sacrificar por ti e por aqueles que amas. Tua pobreza nos enriquece, e nossa pobreza te enternece. Conheces todas as nossas carências, mas és o fogo da caridade, e saberás purificar nosso coração de tudo o que não for do teu agrado e não for útil aos nossos irmãos e irmãs. Tu és santo e amável, e nos fecundarás com tua graça para que possamos fazer parte da tua família, compartilhar teu sonho e cooperar na tua obra.
Vem, Jesus, ocupa teu lugar em nossa vida, reconquista o senhorio nas tuas Igrejas, anima os empobrecidos com teu Evangelho, fustiga os opressores com tua profecia. Acorda-nos com tua santa inquietação, mobiliza-nos com tua incansável compaixão. Ajuda-nos a lançar na fogueira acesa nessa noite tudo o que induz à violência, à indiferença, ao amor próprio, à irresponsabilidade, à conivência com podres poderes. Que aqui, ao redor dessa mesa que transformaste em berço e sob esse céu que transformaste em casa, renasça e se fortaleça a imensa caravana dos homens e mulheres de boa vontade, dessa gente disposta a sonhar e construir contigo a Humanidade Nova.
Itacir Brassiani msf

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