terça-feira, 5 de dezembro de 2017

ANO B – TEMPO DE ADVENTO – 2° DOMINGO – 10.12.2017

Mudar mentalidades, derrubar muros, abrir estradas!
Vivemos a primeira semana do Advento sob o signo da vigilância e do porteiro: alegre e inteligente expectativa de que algo de bom está sendo gerado; olhos abertos e coração desperto para perceber os sinais daquele que está sempre vindo e daquilo que está nascendo. A segunda semana se abre solicitando-nos conversão e engajamento: ações que tragam consolação aos desolados; abertura de estradas onde a vida é difícil; perseverança quando os novos céus e a nova terra demoram a aparecer; ternura, como a do pastor que carrega no colo os cordeirinhos e guia mansamente as ovelhas que amamentam.
Os caminhos da justiça e da paz ainda são tortuosos e esburacados, especialmente para os países e as pessoas pobres. O obstáculo não está apenas no terrorismo, mas também no cassino da Wall Street, onde se compra, vende e especula a vida e a morte dos povos, e na Praça dos Três Poderes, onde o poder não emana do povo mas é exercido à revelia do povo e contra o povo. O evangelista Marcos diz que o povo que vivia no ‘centro do mundo’ (Jerusalém) se deslocou à periferia (deserto) para escutar o profeta João. E este é o rumo que precisamos seguir se quisermos que a humanidade tenha futuro. As soluções impostas de cima e dos centros costumam ignorar ou aumentar o nada dos já sem-nada.
A Palavra de Deus teima em afirmar que é do deserto e da periferia que vêm as notícias alegres (Boas Novas), aquelas que anunciam que o Humano está nascendo e que um Outro Mundo está sendo gerado. Mas isso pede inversão de perspectivas e conversão de mentalidades. A novidade que vem do deserto é peregrina e vulnerável, não se realiza nas ações potentes, nem chama a atenção. O agente de Deus (Messias) nasce migrante e se hospeda na estrebaria... Seus pés não conhecem o ruído de botas de soldados, mas somente a ágil simplicidade das sandálias. O amor só tem a força do dom e do martírio.
João Batista tem consciência de que ele é apenas o precursor, de que o chamado à conversão será seguido pelo anúncio de uma boa notícia, e que o retiro no deserto será substituído pela estrada que leva aos povoados. “Depois de mim vai chegar alguém mais forte que eu. Eu não sou digno sequer de me abaixar para desamarrar as suas sandálias...” Sandálias lembram caminho, e caminho sugere discipulado. A estrada a ser aberta no deserto é a estrada do seguimento de Jesus na pobreza, no dom de si e na solidariedade. É a estrada que leva a Belém e a Nazaré, e desemboca no calvário.
Que ninguém queira substituir as sandálias do carpinteiro pelas botas dos soldados arrogantes ou do gordo papai-noel! Seguimento de Jesus não rima com guerra nem com shopping. Conservar as sandálias e abrir caminhos é preciso! Mas, até quando conseguiremos manter viva essa convicção e essa esperança? A realidade parece desmentir o que acreditamos, e a história parece não considerar nossas utopias. Que São Pedro nos encoraje! “Para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos é como um dia”. Deus é paciente, mas nossa espera precisa ser conjugada com o incansável empenho.
O discípulo não encontra segurança senão na voz do Mestre, e o missionário só pode contar com o poder da Palavra. É com isso que queremos realmente trabalhar? É essa a estrada que nos dispomos a abrir e trilhar? Recorrendo à linguagem apocalíptica, Pedro chama a atenção para a provisoriedade do tempo e para a precariedade das instituições: tudo o que parece sólido e definitivo se transformará em ruínas e cinzas. Em meio a isso, os cristãos se mantêm firmes na esperança de novos céus e nova terra nova, nos quais habite a Justiça. Mas precisam antecipar esta esperança em suas ações cotidianas...
Ou seja, precisamos mantermo-nos firmes e ativos na esperança. Jesus, Maria e José também viveram pacientemente a aparente demora da manifestação de Deus. A espera se converteu em preparação e discernimento para acolher a ‘Hora’ de Deus. Enquanto esperavam, lançaram raízes na periferia, mergulharam fundo na Palavra de Deus, exercitaram generosamente o cuidado com os cordeiros fracos e com as ovelhas gestantes. E fabricaram sandálias, muitas sandálias: para pés masculinos, femininos, infantis e jovens, adultos e idosos, brancos e negros, católicos ou não...
Deus pai e mãe, pastor terno e dedicado! Fecunda nossos ouvidos com tua Palavra criadora e abre nossos lábios para que proclamemos, sem medo, que estás vindo à casa nossa e tua, e que trazes nos braços teus filhos e filhas mais queridos. Converte nosso coração e abre nossos olhos, para que sejamos capazes de contemplar a delicada coreografia cósmica que acompanha tua chegada aos desertos e periferias: a verdade brotando da terra e a justiça se inclinando do céu; a misericórdia e a fidelidade dançando e a justiça e a paz se abraçando. E põe em nossos pés as sandálias dos peregrinos! Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaías 40,1-11 * Salmo 84 (85) * 1ª. Carta de São Pedro 3,8-14 * Evangelho de São Marcos 1,1-18)

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