Começamos a caminhada do Advento com uma ordem clara e forte: “Vigiem!” Depois,
fomos convidados a abrir estradas a partir da periferia e do deserto. E hoje somos
convidados à alegria. “Estai sempre alegres”, ordena Paulo. “Transbordo de
alegria em Javé”, proclama Isaías. Maria canta: “Meu espírito está em festa
pelo meu Deus”. E João mostra o motivo dessa alegria: “Entre vós está alguém
que não conheceis...” Que seja assim na liturgia e na vida: celebremos
confiantes a visita e a permanência de Deus entre nós, ao lado dos pobres,
abrindo caminhos de vida, caminhando ao nosso lado e à nossa frente.
Esperando ardentemente o retorno próximo de Jesus Cristo, os cristãos
das primeiras comunidades sentiam-se chamados a levar a sério as profecias, a
não apagar o Espírito, a se afastarem de toda espécie de maldade, a dar graças
a Deus em todas as circunstâncias, a examinar tudo e ficar com o que era bom. E
isso não por causa de uma moral abstrata ou de uma ascese rígida, mas porque
acreditavam que Aquele que os chamara seria fiel e realizaria suas promessas.
Por isso, também rezavam sem cessar e se mostravam sempre alegres, mesmo em
meio às perseguições e durezas da vida.
Vejamos como isso se mostra também em Maria de Nazaré. Chegando à casa
de Isabel e sendo por ela acolhida, Maria levanta a cabeça e solta a voz num
louvor que atravessa os séculos e, ainda hoje, ressoa como canto libertário.
Sua alegria não tem nada de ingenuidade, muito menos de auto complacência: olhando
para o seio crescido de Isabel e para seu próprio corpo, Maria se alegra com o
que Deus está realizando através dos seus filhos e filhas mais humildes. Seu
olhar se volta à história do seu povo, na qual Maria percebe Deus rebaixando os
poderosos, elevando os humildes e socorrendo os pobres.
João Batista, interrogado sobre sua identidade e sua missão, se
apresenta como testemunha Luz, como sinal de algo que está chegando para vencer
as trevas e os obstáculos interpostos pelas elites religiosas e políticas, como
arauto de novos caminhos. “Eu sou a voz de quem grita no deserto. Endireitai o
caminho do Senhor!” Ele é voz que vem do deserto, da periferia, da margem. Com
seu batismo, João inquieta as autoridades, pois o batismo na água era um rito
cívico-religioso que expressava uma passagem de estado e uma mudança de senhor.
E isso relativizava decididamente os poderes religiosos e políticos.
João Batista anuncia que no meio de nós já está presente Alguém que não
conhecemos, que vem antes dele e o supera e ultrapassa. Esse Alguém é penhor e
início daquela mudança anunciada pelos profetas antigos e simbolizada no
batismo cristão. Diante do Messias esperado, sua pregação e seu batismo se
mostram relativos e insuficientes. Mesmo sendo o maior entre os profetas,
diante de Jesus João não se atreve a desatar as correias das suas sandálias, gesto
que simbolizava o protesto de uma viúva diante de um cunhado que se recusasse a
desposá-la e dar-lhe descendência, como mandava a tradição.
Jesus não despreza a nossa pobre humanidade. Ele nos ama profundamente e
sela conosco uma aliança duradoura “na justiça e no direito, no amor e na
ternura” (cf. Os 2,16-25). Ninguém desamarra a correia das suas sandálias! O
Messias que esperamos é o Esposo amado e esperado há séculos, que nos gera como
família e como povo. A celebração do Natal é uma espécie de bodas de Deus
conosco, e todos sabemos que a preparação de uma festa de casamento, por mais
trabalhosa que seja, é sempre marcada pela esperança e pela alegria, e não pela
tristeza ou pela penitência. Eis a razão da alegria do Advento!
Será que Maria e José tinham consciência deste mistério que a envolvia e
fecundava? Certamente sim, embora tivesse que caminhar na penumbra da fé, e só
aos poucos os contornos do desenho deste mistério fossem se clareando. O
tumultuado tempo da gravidez de Maria e a paradoxal noite do Natal foram apenas
o começo. Maria viu a falta de vinho e acreditou no vinho novo que selou a nova
aliança de Deus com seu povo. Jesus descobriu progressivamente sua identidade
de Noivo e Esposo da humanidade. Mas, de qualquer modo, não podem ser tristes
os rostos de quem prepara o Natal! “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu
vos digo: alegrai-vos! O senhor está perto.” (Fil 4,4-5)
Deus, pai e mãe, luz que brilha
na fragilidade humana e revela nas criaturas a semente de uma alegria inocente
e quase teimosa: Cobre-nos com o manto da justiça que só pode vir de ti, e
enfeita nossos trapos com as joias de uma fé que dá as mãos à esperança e ao
amor. Faze que nossas comunidades anunciem com a vida a boa notícia que tens
desde sempre para os últimos e pobres, os que carecem de autonomia e de
alegria. E ajuda-nos a abrir caminhos de solidariedade em meio às montanhas de
lixo comercial que abarrota nossos mercados, e a permanecer firmes na escola de
Nazaré. Amém! Assim seja!
Itacir Brassiani msf
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