UMA PORTA ABERTA
Estamos demasiado presos pelo «mais cá» para nos preocuparmos com o «mais lá». Submetidos a um ritmo de vida que nos atordoa e escraviza, oprimidos por uma informação asfixiante de notícias e acontecimentos diários, fascinados por mil atrativos que o desenvolvimento técnico coloca nas nossas mãos, parece que não necessitemos de um horizonte mais amplo do que esta vida na qual nos movemos.
Para que pensar em outra vida? Não é melhor gastar todas as nossas forças em organizar o melhor
possível a nossa existência neste mundo? Não deveríamos esforçar-nos ao máximo
em viver esta vida de agora e calarmo-nos a respeito de tudo o resto? Não é
melhor aceitar a vida com a sua escuridão e os seus enigmas, e deixar o além
como um mistério do qual nada sabemos?
No entanto, o homem contemporâneo, como o de todas
as épocas, sabe que, no fundo do seu
ser, está sempre latente, a pergunta mais séria e difícil de responder: o
que acontecerá com todos e cada um de nós? Qualquer
que seja a nossa ideologia ou a nossa fé, o verdadeiro problema que todos
estamos enfrentando é o nosso futuro. Que fim nos espera?
Peter Berger recordou-nos com profundo realismo que
«toda a sociedade humana é, em última instancia, uma congregação de homens
frente à morte». Por isso, é precisamente ante a morte que aparece com mais
claridade a verdade da civilização contemporânea que, curiosamente, não sabe o
que fazer com ela, a não ser escondê-la e evitar ao máximo seu trágico desafio.
Mais honesta parece ser a posição de pessoas como
Eduardo Chillida, que em algumas ocasiões se expressou nestes termos: «Da morte, a razão diz-me que é definitiva.
Da razão, a razão diz-me que é limitada».
É aqui onde temos que situar a posição do crente,
que sabe lidar com realismo e modéstia o ato inevitável da morte, mas que o faz
com uma confiança radical no Cristo ressuscitado. Uma confiança que dificilmente
pode ser entendida desde fora, e que só pode ser vivida por quem escutou,
alguma vez, no fundo do seu ser, as palavras de Jesus: «Eu sou a ressurreição e
a vida». Acreditas nisto?
José Antônio Pagola
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez
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